Resenha de "As Seis Lições" Ludwig von Mises
Por: lucasTulha • 15/9/2022 • Resenha • 1.479 Palavras (6 Páginas) • 108 Visualizações
O livro As Seis Lições é baseado na transcrição de palestras ministradas pelo economista austriaco Ludwig Von Mises em 1958 na Argentina, o livro é dividido em seis capítulos: capitalismo, socialismo, intervencionismo, inflação, investimento externo e política e ideias, foi criado no intuito de repassar ao público leigo, principalmente secundaristas e universitários, as ideias principais de Mises de maneira facilmente compreensível.
O capitalismo:
Mises começa a lição explicando que muitas vezes há uma interpretação errônea por parte da sociedade do que o capitalismo realmente é, usando o exemplo de que o povo usa o termo “rei” para empresários de determinados setores, tais como “rei do automóvel” ou “rei do algodão”, o que de acordo com o autor é incorreto, pois na medida em que o rei pode simplesmente impor a sua vontade e da sua vontade derivam as ações a serem tomadas, no capitalismo o empresariado está sujeito a vontade do consumidor, é o consumidor que determina quais produtos e empresas vão ter sucesso ou fracasso.
Quando o autor analisa as indústrias antes da revolução industrial, mostra-se que os bens produzidos eram sobretudo voltados a uma pequena parcela da elite da população, e que com a revolução as empresas que mais se desenvolveram foram as que conseguiam atender as necessidades das massas. Refuta a crítica de que existe uma oposição inconciliável entre grandes empresas e consumidores, uma vez que os empregados dessas empresas também são consumidores e deles deriva o que deve ou não ser produzido, usando um exemplo atual, quem determinou que a Amazon obtivesse tamanha projeção não foi somente a alta gestão e seus executivos, mas principalmente os consumidores, que tinham a necessidade de uma revolução no sistema logístico americano, eles determinaram que a Amazon tinha que ser extremamente eficiente e devia operar com custos reduzidos, isto é, em última instância, a própria sociedade que demandava um serviço de entrega ágil e barata de produtos.
Mises encerra a lição refutando a lei de ferro dos salários, que consiste resumidamente na impossibilidade dos salários aumentarem acima do estritamente necessário para a subsistência dos trabalhadores, o que não se observou com o desenvolvimento do capitalismo nos últimos séculos, que aumentou a qualidade de vida nos países capitalistas a níveis sem precedentes na história humana.
O socialismo:
Mises retoma alguns pontos da lição anterior e explica que o conceito de liberdade significa sobretudo a liberdade para errar, exemplificando que a proibição de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos no começo do século 20, embora tivesse boa intenção, significava um perigo para outras liberdades, pois, tão ou mais importante que a saúde de um indivíduo, o que ele pensa e sua visão de mundo também podem ser alvo de críticas, o governo coibir o uso de drogas sob pretexto de evitar que pessoas cometam erros abre margem para o estado se aventurar em outros autoritarismos, é uma situação análoga a que vivemos atualmente com a guerra às drogas vigente na maior parte do mundo, ressaltando que existem meios não coercitivos de mudar e criticar a maneira com que outra pessoas usam de sua liberdade.
Em relação ao socialismo em si, Mises defende que o planejamento central num sistema socialista impossibilita que as escolhas mais racionais e vantajosas sejam tomadas, pois cada indivíduo sabendo o que é melhor para si gera um resultado final melhor que um comitê central tentando fazer todo o planejamento da sociedade. Em relação ao problema do cálculo econômico, o autor explica que sem um sistema de preços de mercado, ou com sua abolição, é impossível se fazer uma alocação racional de recursos, pois há como analisar corretamente os custos em capital e trabalho de cada projeto.
O intervencionismo:
Na lição sobre o intervencionismo, o autor fala de uma coletânea de exemplos de intervenção e controle de preços praticados durante a história, explica como essas imposições acabam aprofundando ainda mais o problema de escassez que propunha a solucionar, ao mesmo tempo que impele a elite governamental a controlar cada vez mais fatores de produção para manter um sistema de preços artificial funcionando, isso ocorre pois os setores da economia são muito interligados, resumido na frase: “sempre que interfere no mercado, o governo é impelido ao socialismo”.
Neste capítulo também há a análise das economias denominadas “socialismo de guerra” implementadas nas grandes guerras mundiais, notadamente na Alemanha e Inglaterra, em ambas, conforme o controle governamental crescia sobre a economia, mais se aproximavam de um modelo socialista, com a Alemanha tendo na segunda guerra mundial diversos führers comandando cada setor da economia submetidos a uma estrutura hierárquica com Hitler sendo o führer supremo, não muito diferente do que observado na Rússia soviética, a exceção dos rótulos usados que remontavam ao capitalismo.
A inflação:
Nesta lição, Mises mostra como os estados, com o aumento da circulação de papel moeda geram uma tendência de elevação geral dos preços, pois da mesma maneira que o aumento de impostos significa que o governo vai conseguir obter mais recursos da sociedade ao invés dos consumidores, a criação de papel moeda também faz com que na prática o governo dispute os recursos presentes no mercado com o resto da sociedade. Os primeiros agentes econômicos que recebem esse dinheiro recém impresso encontram um sistema de preços ainda inalterado, conforme esse dinheiro vai entrando em circulação ocorre um reajuste de preços, fazendo com que os últimos agentes/consumidores a receberem esse dinheiro encontrem os níveis de preços mais elevados que o normal.
O autor faz uma defesa do padrão ouro como uma forma de limitar os gastos do governo, pois como há quantidade limitada de ouro em circulação, os gastos novos do governo teriam de ser financiados via impostos, que são uma maneira politicamente mais custosa de se obter recursos do que via geração de moeda, atualmente algumas criptomoedas tem justamente esse mesmo objetivo de se transformarem em uma unidade monetária internacional tal como o ouro já foi no passado.
O investimento externo:
A lição começa com uma contextualização histórica do motivo de países como Inglaterra e Estados Unidos terem padrões de vida médios superiores a outras nações - a presença de capital - Os trabalhadores e empresários americanos não são mais inteligentes ou mais capazes do que os em outras nações, o que faz eles terem uma produtividade elevada é a presença massiva de capital investido, isso é o que diferencia uma nação desenvolvida para uma em desenvolvimento, é o capital investido e a produtividade que determinam o nível de acesso a bens e serviços naquele país.
Como a Inglaterra começou com o processo de investimento e acúmulo de capital antes do resto do mundo, o natural seria que sempre estivesse à frente de outras nações em questão de produtividade e qualidade de vida, porém, no século XIX, com o advento do investimento externo, abriu-se a possibilidade de nações com pouca capacidade de poupança interna terem acesso a investimentos e poderem aumentar sua produtividade média, podendo inclusive se equiparar a nações que começaram esse processo anteriormente, esse processo ocorre pois empresários de países mais desenvolvidos se vêem atraídos a investir em lugares com custos (tais como mão de obra) menores e oportunidades em mercados ainda inexplorados.
Política e ideias:
Na última lição Mises começa explicando que os formuladores das instituições democráticas pensavam na política e nos políticos como instrumentos gerais de representação da vontade de toda a nação, entretanto, o que ocorreu com o tempo foi a desvirtuação da política com a criação e fortalecimento de grupos de pressão, dessa maneira os políticos e lobistas trabalham a favor de grupos de interesse, não mais do interesse geral da sociedade. Enquanto antes se discursava contra a tirania, a favor das liberdades e pela cooperação com o resto nas nações livres do mundo, atualmente se discute e propõe benefícios legais para certos grupos da sociedade a despeito do resto da população, o que para o autor é sinal da degeneração das democracias modernas e da civilização ocidental como um todo.
Para finalizar, o autor explica que a solução para esse e outros problemas da democracia não é a instauração de ditaduras, pois nelas não há a liberdade de expressão, necessária justamente para se combater ideias e medidas ruins e implementar melhores, o que deve ser feito é justamente a volta do debate público de ideias, sucintamente “ideias e somente ideias podem iluminar a escuridão”.
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