TRABALHO RESUMO

1º Resumo: FURTADO, C. Formação Econômica da América Latina

Capítulos II ao VI

Apesar da organização da Conquista das terras latino-americanas ter se estruturado de maneira similar à das terras na península ibérica, a estrutura básica de organização da luta pelas terras possuía uma diferença essencial: enquanto na península, marcadamente na Espanha, os povos a serem conquistados a conquistar, ‘o inimigo’, possuía recursos e técnicas de defesa, enquanto na América, a estrutura débil dos povos a serem conquistados a conquistar, fez com que a ação conquistadora coubesse a simples iniciativa individual, ao interesse privado do conquistador, enquanto a luta pelos territórios na Europa organizava-se através de complexas Ordens Religiosas.

Essa ação individual articulada aà tutela estatal resultou na instituição da encomienda, ou seja, confiava-se a um conquistador uma comunidade indígena e cabia a ele cristianizá-la e organizar a segurança do local, assemelhando-se à posição do senhor feudal. Entretanto, a encomienda foi eficaz apenas em regiões onde o nível de desenvolvimento material dos índios era alto, e conseguia-se extrair-lhes excedentes através de seus dirigentes tradicionais. Onde essa estrutura não ocorria, apelou-se para formas diretas de escravidão, levando a um rápido desaparecimento dos indígenas.

O encomendero mobilizava o excedente para buscar por metais preciosos, sobretudo a prata extraída do México e do Peru, pois, à época do primeiro século da colonização, era a única coisa que se ‘produzia’ nas Américas, que gerasse um interesse comercial para os europeus. Entretanto, a taxa de envio desses metais para a Espanha era cerca de quatro vezes maior do que o valor das importações, ficando evidente que o objetivo do trabalho realizado na América era acumular recursos na Espanha, transferir essa renda para lá.

Apesar do intuito da produção de metais ser gerar o um excedente a se transferir para a Espanha, esses territórios originaram pólos de crescimento regionais, produziu-se demanda para alimentos, tecidos grossos, e animais de tração, gerando atividade econômica nas regiões do Chile, Peru e Argentina, por exemplo. Com o surgimento desse mercado, nasceu a possibilidade de extração de um excedente agrícola através da utilização dos índios na forma da encomienda. Ocorre também uma descentralização econômica originando a grande propriedade agrícola, instituição determinante para o processo de estruturação da sociedade latino-americana.

Essas propriedades eram de domínio de uma minoria, doações de terra no mesmo espírito das doações de índios, ou seja, um incentivo a se gerar excedente para a coroa. A propriedade da terra deu bases para um sistema de dominação social de uma grande massa de população, por uma pequena minoria diferenciada étnica e culturalmente. Essa minoria influenciou a instituição básica de toda a ordem produtiva e social da América Latina, assemelhando-se ao feudalismo europeu, formadas, entretanto, por uma estrutura já pré-capitalista de dominação.

No início do século XIX, devido às guerras napoleônicas, os impérios espanhol e português sofreram uma grande desorganização, estritamente ligadas às transformações políticas e econômicas que se davam na Europa. As colônias americanas não eram suficientemente abastecidas de manufaturados, e tentaram então buscar uma saída, através do contrabando ou da produção interna dos artigos que necessitavam, entrando em conflito com a Metrópole. Esses conflitos, concomitantes as idéias liberais vindas da Inglaterra e da França, criaram uma situação favorável à ruptura com a Metrópole. Esse processo de desvinculação com a Metrópole, aliado as novas condições criadas pelo avanço da Revolução Industrial, gerou uma política de portos abertos em todo o continente