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Boaventura Resumo Austeridade do Oriente

Por:   •  4/5/2019  •  Abstract  •  1.309 Palavras (6 Páginas)  •  236 Visualizações

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O fim das descobertas imperiais:

O Descoberto também é o descobridor e vice-versa, porém é fácil reconhecer a civilização descobridora por ter mais poder e mais saber, isto é o saber de declarar o outro como descoberto. É a desigualdade do saber que torna a reciprocidade da descoberta na apropriação do descoberto. Logo toda descoberta tem algo de imperial.

A descoberta imperial é constituída por duas dimensões, uma empírica (empirismo que afirma que a ci        ência como conhecimento só pode ser derivada a partir dos dados da experiência) no ato de descobrir, e uma conceitual na ideia do que se descobre. A ideia do que se descobre antecede o ato de descobrir porque é necessário a ideia da inferioridade do outro para assim explora-lo.

Essa ideia de inferioridade pode ser reforçado com a escravatura, o genocídio, o racismo, a desqualificação, a transformação do outro em objeto ou recurso natural e uma vasta sucessão de mecanismos de imposição económica (tributação, colonialismo, neocolonialismo, e, por último, globalização neoliberal), de imposição política (cruzadas, império, estado colonial, ditadura e, por último, democracia) e de imposição cultural (epistemicídio, missionação, assimilacionismo e, por último, indústrias culturais e cultura de massas).

Oriente:

A descoberta do Oriente no segundo milênio pelo ocidente é primordial para o entendimento na visão ocidental de ser o centro da história e ser entendido com universal. Para Hegel a história universal vai do oriente para o ocidente, a Ásia o princípio e a Europa o fim absoluto.

Povos asiáticos para Grécia então para Roma para Alemanha e hoje para os Estados Unidos, sendo esse último não colide com a história universal na Europa, na medida em que é feito com população excedentária da Europa. Para o Ocidente o Oriente é sempre uma ameaça enquanto o sul apenas recursos.

Até o século XV o ocidente, portanto a Europa, é considerado a periferia do sistema-mundo, o centro é a Ásia Centra e a Índia. Só a partir dos descobrimentos que o sistema-mundo passa a ter como centro a Europa, capitalista e planetário. No início do milênio a visão do Oriente como uma ameaça começou a ser desenhada com as Guerras Santas. Essa visão perdura até hoje: o Oriente como civilização temível e temida e como recurso a ser explorada pela guerra e pelo comércio.

Orientalismo: Ocidente é racional, desenvolvido, humano, superior, enquanto o Oriente é aberrante, subdesenvolvido e inferior; o Ocidente é dinâmico, diverso, capaz de autotransformação e de auto definição, enquanto o Oriente é estático, eterno, uniforme, incapaz de se auto representar; o Oriente é temível (seja ele o perigo amarelo, as hordas mongóis ou os fundamentalistas islâmicos) e tem de ser controlado pelo Ocidente (por meio da guerra, ocupação, pacificação, investigação científica, ajuda ao desenvolvimento, etc.).

As referências empíricas da concepção do Oriente por parte do Ocidente mudaram ao longo do milénio, mas a estrutura que lhes dá sentido manteve-se intacta. Numa economia globalizada, o Oriente, enquanto recurso, foi profundamente reelaborado. É hoje, sobretudo, um imenso mercado a explorar, e a China é o corpo material e simbólico desse Oriente. Por mais algum tempo, o Oriente será ainda um recurso petrolífero, e a Guerra do Golfo é a expressão do valor que ele detém na estratégia do Ocidente hegemónico. Mas, acima de tudo, o Oriente continua a ser uma civilização temível e temida. Sob duas formas principais, uma, de matriz política — o chamado "despotismo oriental" — e outra, de matriz religiosa — o chamado "fundamentalismo islâmico" —, o Oriente continua a ser o Outro civilizacional do Ocidente.

A percepção de vulnerabilidade do ocidente: defensores da alta vulnerabilidade do ocidente não se contentam com uma restrição da ameaça oriental, como o fundamentalismo islâmico, e apontam uma concepção muito mais ampla e perigosa, a aliança confucionista-islâmica, de que fala Huntington. Ao contrário do que se pensa, essa vulnerabilidade traduz na potenciação da agressividade. Exemplo: Donald Trump retirar direitos de imigrantes asiáticos, mulçumanos de desembarcaram em território americano justificando como prováveis ameaças a serem evitadas.

O selvagem:

O selvagem, diferente do Oriente, é incapaz de constituir alteridade. A sua diferença perante aos descobridores é a medida de sua inferioridade. Só valendo a pena confronta-lo na medida em que ele é um recurso (escravo) ou a via de acesso a um recurso.

Antecede a concepção selvagem a teoria da “escravatura natural” de Aristóteles, em que justifica a superioridade natural de uma parte, destinada a mandar, e de outra a obedecer. Na concepção selvagem essa dualidade é extrema visto que o selvagem não é considerado humano. Existindo também a visão adversa, no mito do bom selvagem, em que os colonizadores civilizados é quem contaminariam a civilização selvagem, até então boa.

Este debate inicia-se com as descobertas de Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral e atinge o seu primeiro clímax na "Disputa de Valladolid", convocada em 1550 por Carlos V, em que se confrontaram dois discursos paradigmáticos sobre os povos indígenas e a sua dominação, protagonizados por Juan Ginés de Sepúlveda Bartolomé de Las Casas:

Juan Ginés: fundado em Aristóteles, é justa a guerra contra os Índios porque são “escravos naturais”, seres inferiores. O amor do próximo pode, assim, sem qualquer contradição, justificar a destruição dos povos indígenas: na medida em que resistem à dominação "natural e justa" dos seres superiores, os índios tornam-se culpados da sua própria destruição.

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