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PERSPECTIVA COMPARADA: A OPÇÃO DESCOLONIAL E O EQUILÍBRIO DE PODER NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Por:   •  22/12/2016  •  Artigo  •  2.105 Palavras (9 Páginas)  •  293 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS

GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

JANAÍNA RODRIGUES BRAGA

MARINA MAHFUZ

PERSPECTIVA COMPARADA: A OPÇÃO DESCOLONIAL E O EQUILÍBRIO DE PODER NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

GOIÂNIA

2014

JANAÍNA RODRIGUES BRAGA

MARINA MAHFUZ

PERSPECTIVA COMPARADA: A OPÇÃO DESCOLONIAL E O EQUILÍBRIO DE PODER NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Artigo apresentado junto ao curso de Relações Internacionais da Faculdade de Ciências Socias da Universidade Federal de Goiás.                                                                            Orientandos: Prof. Dra. Telma Ferreira, Prof. Dione Antonio de Carvalho.

GOIÂNIA

2014

Textos utilizados: MIGNOLO, Walter. A desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política; WIGHT, Martin. A política do poder.

PERSPECTIVA COMPARADA: A OPÇÃO DESCOLONIAL E O EQUILÍBRIO DE PODER NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

        Analisando o que Mignolo descreve em seu artigo como “opção descolonial”, temos que esta seria, basicamente, “desnaturalizar a construção racial e imperial da identidade no mundo moderno em uma economia capitalista”. Com isso, ele quer dizer que são raciais e patriarcais os discursos europeus modernos, que até os dias atuais prevalecem. Qualquer forma de discurso que não elimine tais características jamais se desvinculará da chamada razão imperial, “ou seja, dentro da política imperial de identidades”.

        O autor também propõe que a opção descolonial seja epistêmica, já que está desvinculada dos valores ocidentais e da forma de conhecimento por “acumulação”. É nesse ponto que encontrei uma falha, ou melhor, uma situação paradoxa: diz-se, no texto, que “por desvinculamento epistêmico não quero dizer abandono ou ignorância do que já foi institucionalizado por todo o planeta”. Pois então, se não há abandono ou ignorância, há uma certa forma de conhecimento por “acumulação” do que já fora apreendido, haja vista que, mesmo epistêmica, a opção descolonial não possa ser puramente aplicada como tal, na prática. Entretanto, logo após tal constatação, ele afirma que “a distinção moderna entre teoria e prática não se aplica quando você entra no campo do pensamento da fronteira e nos projetos descoloniais”.

        O ponto de vista ou a opção descolonial surgiu para contrapor a visão pré-estabelecida de mundo que tinham os colonizadores a respeito de territórios como a América do Norte, América do Sul, África e Ásia. A ideia do colonizador – e também governante - como homem, branco e heterossexual ainda rege modelos políticos e econômicos de diversos países.

        Portanto, o que se percebe é que modelos políticos e econômicos “normais” continuam a proliferar e a dominar o cenário internacional. E que a opção descolonial é, mesmo que ainda relativamente fraca, uma alternativa de forma de “poder”. Quando se fala em poder, pensa-se logo nas grandes potências e em seu poderio econômico, militar, capacidade de negociação, entre outros fatores. E, atrás de tais fatores, encontra-se o modelo colonizador quase imutável. Como alternativa de forma de “poder”, o decolonialismo poderia muito bem entrar no chamado jogo de equilíbrio de poder.

        O autor Martin Wight assim interpreta toda a política internacional: como um grande jogo de equilíbrio de poder. “A ideia de equilíbrio surge naturalmente ao considerarmos qualquer relacionamento entre unidades humanas, grupos ou instituições em competição: referimo-nos aos “pesos e contrapesos” de uma constituição, ou do equilíbrio dos partidos num parlamento”. Nesse sentido, há de pensar que a opção descolonial possa ser encaixada como uma das “unidades humanas” ou “instituições” em competição com os pontos de vista dos outros países.

        A lei da autopreservação é a que determina a política do equilíbrio de poder, ou seja, quando alguma potência atingir maior poder que outra, o jogo há de virar; outra potência se levantará e “restaurará o equilíbrio”. Sendo assim, o sistema de equilíbrio de poder segue um “ciclo regular”. Quando alianças rígidas são formadas, com três ou mais grandes potências ou blocos, há o chamado equilíbrio múltiplo. O autor compara tal equilíbrio com o de um carrossel: “quando seus interesses mudavam, as grandes potências trocavam de parceiro”. Porém houve certos episódios em que o equilíbrio múltiplo fora quebrado como, por exemplo, a Guerra Revolucionária norte-americana e pela Revolução Francesa, de forma mais decisiva. O Acordo de Viena é considerado uma tentativa de restaurar o equilíbrio múltiplo. Este dura enquanto não houver rompimento concreto entre as potências, ou seja, ele fornece relativa “segurança internacional”. Quando ocorre o rompimento, “as potências se dividem em campos opostos”. A partir desse momento, o equilíbrio de poder passa de múltiplo a simples. Dessa vez o autor o compara a uma gangorra.

        Contudo, nem sempre é possível manter o equilíbrio, seja múltiplo ou simples: uma hora ou outra haverá desequilíbrio de poder, já que pode se tornar impossível montar acordos e maiores alianças entre os países, gerando situação de guerra. Nesse momento, “uma potência que se encontra numa posição de contribuir com força decisiva para um lado ou para o outro é a detentora do equilíbrio”. Logo, cabe a ela impedir que a guerra continue.

        Em dado contexto histórico afirmou-se que “França e Espanha são como se fossem os pratos na balança que é a Europa, e a Inglaterra é aquela que detém o equilíbrio”. Para que se possa “deter o equilíbrio” do poder, é necessário ter certo afastamento de rivalidades. Isso significa alegar que, por ser uma potência insular, a Grã-Bretanha pode estar afastada dos conflitos continentais.

         A chamada Lei do Motim disse ser a função do exército britânico “a preservação do equilíbrio de poder na Europa”. Em comparação a esse caso, houve o isolacionismo americano no período das Guerras Mundiais, “ainda que os americanos provavelmente se enganassem bastante ao acreditar que sua liberdade de ação era um atributo permanente ao invés de uma vantagem temporária”. Com isso, percebe-se que o fato de uma ou outra potência poder ser a detentora do equilíbrio sempre será uma vantagem temporária, haja vista que o jogo muda constantemente. A questão que coloco é: haveria espaço nesse jogo para a decolonialidade? Ora, os países considerados “potências” não abrirão mão de seus interesses e de seus planos de ação por causa de uma ideologia não pregada por eles. A esperança estaria nos braços de países que não foram ou não são grandes potências, que sofreram as consequências x da colonização e que estão dispostos a entrar no jogo à sua maneira.

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