Resenha "A queda do Liberalismo" Eric Hobsbwm
Por: Leticia C • 15/6/2021 • Resenha • 2.216 Palavras (9 Páginas) • 340 Visualizações
A era dos extremos - Eric Hobsbawn
Cap. 4 - “A queda do liberalismo” (Resenha individual)
I
Na primeira sessão do capítulo o autor se preocupou em discorrer sobre o assunto que nomeia o capítulo de forma mais centrada, ou seja, ele aborda objetivamente a queda do liberalismo.
Dessa forma, ele vai apontar que o colapso dos valores e instituições da civilização liberal durante a “Era das Catástrofes” provavelmente tenha sido o fato mais inesperado que ocorreu nesse período. Isso porque esses valores de desconfiança de ditaduras e governos absolutos; de compromisso com um governo constitucional, com governos e assembléias representativas livremente eleitas, que garantissem o domínio da lei; e de um aceito conjunto de direitos e liberdade dos cidadãos que incluíssem a liberdade de expressão, publicação e reunião; vinham percorrendo um caminho de evolução durante todo o século XIX e pareciam que não iam parar por aí.
Os avanços conquistados pelas instituições da democracia liberal aparentemente foram acelerados pelos conflitos de 1914-1918, uma vez que todos os regimes que emergiram da Primeira Guerra Mundial, novos e velhos, eram regimes parlamentares representativos eleitos, com exceção da Rússia soviética e da Turquia. Porém, nos 23 anos entre a “Marcha sobre Roma” de Mussolini na Itália e o auge do sucesso do Eixo na Segunda Guerra Mundial, o que se viu foi uma retirada acelerada e catastrófica das instituições políticas liberais, com apenas poucos países permanecendo ininterruptamente democráticos.
Resumindo, os movimentos políticos durante o período entreguerras oscilaram entre a esquerda e a direita, mas a retirada do liberalismo tornou-se tendência mundial logo após Adolf Hitler tomar posse da chancela alemã. É importante ressaltar que o perigo ao liberalismo vinha exclusivamente da direita que representava não apenas uma ameaça ao governo constitucional e representativo, mas uma ameaça ideológica à civilização liberal.
Por último, o autor se direciona a falar sobre a direita, mas especificamente sobre o fascismo. Segundo ele ao mesmo tempo que o rótulo fascismo é insuficiente porque nem todas as forças que derrubaram os regimes liberais eram fascistas, (existem o golpe militar, o autoritarismo/conservadores anacrônicos, estatismo orgânico e os regimes clericais-fascistas), ele não é irrelevante, pois inspirou outras forças antiliberais e deu a direita internacional um senso de confiança histórico.
II
Nessa segunda parte, o foco principal são os movimentos verdadeiramente fascistas. O autor caracteriza o fascismo, aborda suas duas versões, a italiana e a alemã, suas semelhanças e diferenças, e como esses movimentos ganharam força e adesão. Ele levanta também alguns pontos em relação aos movimentos não fascistas que consistiam junto do fascismo na aliança da direita no período entreguerras.
O fascismo surgiu primeiro na Itália, só que sozinho ele não exerceu muita atração internacional. Somente com o triunfo de Hitler na Alemanha, ele teve impacto sério fora da Europa e movimentos fascistas com algum peso foram fundados, como a Cruz em Seta na Hungria e a Guarda de Ferro na Romênia. Logo, após 1933, os vários tipos de fascismo não tinham muito em comum a não ser o senso geral de hegemonia alemã.
Mesmo que elementos como o nacionalismo, o antiliberalismo e o anticomunismo fossem compartilhados pela direita fascista e pela direita não fascista, diferenças essenciais existiam entre as duas. Enquanto o fascismo mobilizava as massas de baixo para cima e rejubilava-se com comícios grandiosos, como os de Nuremberg e os em Piazza Venezia, sendo essencialmente um movimento de base democrática, a outra direita dos reacionários tradicionais e dos defensores do “Estado orgânico” lamentava e tentava contornar a democracia. Outra diferença é que apesar de enfatizar muitos valores tradicionais ele não era de modo algum um movimento tradicionalista, uma vez que nem o fascismo italiano nem o alemão apelavam a igreja ou ao rei - os guardiões históricos da ordem conservadora.
O anti-semitismo, uma das características principais do fascismo, surgiu do ressentimento de homens comuns contra uma sociedade injusta e que os oprimia. Esses movimentos políticos específicos baseados na hostilidade que começaram a se desenvolver concentraram-se nos judeus pois estes se encontravam em todos os lugares e eram bem sucedidos podendo facilmente simbolizar tudo que havia de mais odioso em uma sociedade injusta. Tais sentimentos foram somados a xenofobia de massa introduzida no fim do século XIX, devido a imigração, e alimentaram uma ideologia bárbara e irracional da qual o racismo - proteção da raça pura - tornou-se a expressão comum.
Esses movimentos não tradicionais da direita radical, começaram a surgir em vários países europeus no fim do século XIX e atraíam sobretudo a classe média e a classe média baixa, principalmente onde as ideologias de democracia e liberalismo não eram dominantes, ou não haviam gerado identificação uma vez que nunca haviam passado por uma Revolução Francesa. Em termos gerais, o apelo da direita radical era tanto mais forte quanto maior fosse a ameaça à posição, real ou convencionalmente esperada, de um segmento profissional da classe média, à medida que cedia e ruía o esquema que devia manter a sua ordem social no lugar.
Os sucessos do fascismo, sobretudo depois da tomada nacional-socialista da Alemanha, deram a impressão de que ele era a onda do futuro.
III
Nesta terceira parte, é importante destacar que a ascensão da direita radical após a Primeira Guerra Mundial, foi uma resposta a revolução social, ao poder operário e seus perigos (leia-se esquerda revolucionária). Contudo, essa teoria subestima o impacto da Primeira Guerra Mundial sobre a camada de soldados e jovens nacionalista de classe média e classe média baixa, que tinham um pensamento totalmente diferente do da esquerda liberal progressista antiguerra e antimilitarista. Para eles o uniforme, a disciplina, o sacrifício e o sangue; as armas e o poder eram o que dignificavam a vida e se ressentiam da oportunidade perdida de heroísmo. Outro ponto, é que a direita reagiu a todos os movimentos que ameaçavam a ordem existente da sociedade, não apenas e diretamente ao bolchevismo.
É também levantado que mesmo que antes de 1914 já existissem movimentos de extrema direita caracterizados pelo nacionalismo e xenofobia, pela promoção de ideais de guerra, violência e intolerância; que eram antiliberais, antidemocráticos, antiproletários, anti-socialistas e defensores de valores tradicionais, eles nunca foram capazes de adquirir importância. Somente na forma do fascismo que vitórias cruciais puderam ser conquistadas.
Isso porque as condições ideais para o triunfo da extrema direita só surgiram após a Primeira Guerra Mundial, com o colapso dos velhos regimes e suas classes dominantes; a existência de uma massa de cidadãos desencantados, desorientados e descontentes; fortes movimentos socialistas ameaçando uma revolução social; e um ressentimento nacionalista contra os tratados de paz de 1981-1920. Essas condições transformaram movimentos da direita radical em poderosas forças organizadas, como na Itália, ou em maciços exércitos eleitorais, como na Alemanha. Em nenhum dos dois Estados fascistas o fascismo “conquistou o poder”, nos dois casos ele chegou ao poder pela conivência de forma constitucional. A novidade do fascismo era a desenfreada ditadura de um supremo líder populista, o Duce ou Fuhrer, que tomava posse completamente onde podia não havendo limites políticos internos para o que se tornavam.
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