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20 Anos De Real

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Por:   •  15/9/2014  •  2.037 Palavras (9 Páginas)  •  814 Visualizações

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Plano Real 20 anos

Em 1994, a seleção brasileira entrou em campo, na Copa dos Estados Unidos, sob o estigma de nunca ter vencido um título mundial desde 1970. No dia 17 de julho, com a vitória suada sobre a Itália, nos pênaltis, o time provou que era possível conquistar a taça novamente, mesmo sem ter Pelé vestindo a camisa 10 — afinal, todas as outras conquistas haviam sido obtidas com a ajuda decisiva do melhor jogador de todos os tempos. Mas as atenções dos brasileiros não estavam, na época, concentradas apenas nos gols de Romário e Bebeto. No dia lº de julho de 1994, entrou em circulação o real, a nova moeda brasileira. Para o futuro do país, havia então um estigma extremamente mais importante a ser superado. O desafio era derrotar, de uma vez por todas, a hiperinflação, o maior mal pelo qual passou a economia brasileira em sua história.

Os prognósticos de sucesso do Plano Real, que completa agora vinte anos, não eram dos melhores. Desde 1986, quando foi lançado o Cruzado, cinco planos para domar o dragão inflacionário foram testados, e todos fracassaram. Os brasileiros estavam cansados dos transtornos causados por medidas como congelamento de salários, tabelamento de preços, confisco de poupança. Por isso o time de políticos e economistas que concebeu e executou o Real precisou saber tirar lições decisivas dos erros cometidos nos planos anteriores.

O Real vingou e prosperou. A geração de brasileiros que sai hoje das universidades não tem a menor ideia do que é viver em um país onde os preços nos supermercados eram remarcados duas ou três vezes no mesmo dia, e os salários perdiam metade de seu poder de compra em um único mês. O plano, porém, segue incompleto e, além disso, sofre ameaças decorrentes de equívocos cometidos, nos últimos anos, pela política econômica. Essas ameaças podem ser resumidas em três pontos: inflação acima da meta, truques nas finanças públicas e baixa produtividade.

1. A inflação fora da meta

A inflação acumulada desde o primeiro dia de vida do real, em 1- de julho de 1994, até hoje foi de 360%. Na média, houve uma alta de 8% ao ano — sem dúvida, ainda acima dos padrões de países desenvolvidos. Porém, antes do real, a inflação superava facilmente 8% em poucos dias. O recorde foi registrado em março de 1990, com uma alta de 82,4% — em um único mês. Isso significa que o dinheiro suficiente para adquirir uma cesta básica, depois de trinta dias, comprava pouco mais da metade dos produtos dessa mesma cesta. Chegar a esse estágio de descalabro monetário foi possível depois de anos de desequilíbrio nas finanças públicas, pois uma inflação extrema e de tal magnitude só pode ser atingida quando o governo vive para além de seus meios e imprime cada vez mais dinheiro, sem nenhum controle, para poder gastar ainda mais. Num ambiente assim, de incerteza com relação ao valor real da própria moeda, os investimentos minguam, porque as empresas não conseguem calcular exatamente os custos e a rentabilidade de seus projetos. Para os assalariados, a inflação representa uma queda no poder de consumo, porque os rendimentos nunca serão corrigidos numa velocidade superior à dos preços. O único a ganhar é o governo. Para o país como um todo, a hiperinflação significou duas décadas perdidas, por causa da queda no ritmo de crescimento econômico e da maciça concentração de renda, porque apenas os mais ricos, graças à indexação, conseguiam se defender da corrosão no poder de compra.

Por tudo isso, perseverar no combate à inflação é essencial. Entretanto, esse é um ponto em que o governo tem fraquejado. Desde 2010, a inflação permanece continuamente acima do centro da meta oficial, de 4,5%. Nos últimos meses, o índice gira acima de 6% e existe grande possibilidade de encerrar o ano além do teto aceito para a meta, de 6,5%. O índice apenas não está mais elevado porque o governo vem se valendo de estratagemas como o represamento no reajuste de tarifas e do preço dos combustíveis.

Além disso, o governo tem feito intervenções na cotação do dólar, impedindo uma desvalorização mais acentuada da moeda brasileira. Não fossem tais intervenções, calculam os economistas, a inflação já estaria na casa dos 8% ao ano. Não se trata, obviamente, de uma situação como a do passado hiperinflacionário. Porém, já há sinais de que os reajustes vêm corroendo o poder de compra das famílias, que são obrigadas a rever hábitos de consumo (leia a reportagem seguinte, a partir da pág. 60).

O governo, entretanto, precisou fazer ajustes na sua política econômica, depois de ter ficado evidente o descontentamento da população. Afirma o economista Edmar Bacha, um dos pais do real: "Quando a presidente Dilma começou a perder popularidade por causa do aumento da inflação, ela mudou de rumo e jogou pela janela a chamada "nova matriz econômica". O Banco Central, de maneira atrasada, fez o que tinha de ser feito, aumentando os juros, e abandonou a tentativa de baixar a taxa na marra". O ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto também acredita que houve uma correção de rumo: "O governo foi pouco cuidadoso com a meta de inflação. O limite de tolerância acabou se transformando na meta. Mas houve uma mudança clara nos últimos meses". Valeu a manifestação de insatisfação dos eleitores para recolocar o governo no caminho do bom-senso, ainda que existam ajustes a ser feitos — algo que deverá ocorrer apenas depois das eleições de outubro.

2. Truques nas finanças públicas

O governo anunciou, na semana passada, a decisão de repassar à Petrobras, sem licitação, o direito de explorar mais quatro campos petrolíferos das jazidas do pré-sal. Com isso, a empresa estatal terá de pagar ao governo, ainda neste ano, estimados 2 bilhões de reais. A medida contribui para aumentar o valor dos ativos da estatal, debilitada pelas perdas bilionárias decorrentes da venda da gasolina abaixo do preço de custo.

Para o governo, os 2 bilhões de reais adicionais representam um reforço no caixa, em um ano no qual, mais uma vez, não será fácil cumprir as metas orçamentárias. A nova transação relacionando uma grande estatal a interesses políticos e das finanças governamentais é o mais recente exemplo de como, na atual política econômica, um equívoco tem levado a outro. O governo mantém as suas despesas em alta e acima da arrecadação, mas, em vez de apertar o cinto, recorre a truques contábeis e à criação de receitas classificadas como extraordinárias (ou seja, não recorrentes), como a que será gerada pela concessão dos campos à Petrobras.

O equilíbrio das finanças públicas constitui um dos

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