As relações brasileiras no início dos anos 90
Por: fernandotpiza • 1/10/2015 • Projeto de pesquisa • 2.546 Palavras (11 Páginas) • 323 Visualizações
AS RELAÇÕES BRASILEIRAS NO INÍCIO DOS ANOS 90
O quadro geral do relacionamento sino-brasileiro, no início dos anos 90 era de estagnação e perda de ímpeto. Conforme resumiu Roberto Abdenur Embaixador brasileiro na China, existia entre o governo brasileiro e chinês, um “ambiente cordial e positivo no diálogo bilateral” e “manifestava-se ampla coincidência de critérios em relação a questões internacionais de interesse comum. Em tom de alerta, Abdenur afirmava o flagrante de um processo de esvaziamento das relações sino-brasileiras, prejudicando as duas principais áreas das relações bilaterais- as de ciência e tecnologia e a do comércio.
Além disso, outros dois aspectos preocupavam o Embaixador. O primeiro diz respeito aos problemas sofridos pelo Projeto CBERS. Que embora houvesse falhas do lado chinês, a maior parte da responsabilidade pelo estado em que se encontrava o CBERS era do Brasil, cuja atuação era prejudicada por um “elevado grau de descontinuidade administrativa, pelo insuficiente nível de coordenação e integração e, muito particularmente, pela falta de recursos financeiros dedicados ao projeto”.
Apesar da inadimplência financeira, desde 1990 o Brasil buscava maior ganho tecnológico mediante a “ampliação da transferência de tecnologia no sentido China-Brasil, em atividades de ponta”. Porém, o lado chinês já estava visivelmente agastado com as dificuldades e adiamentos na implementação do projeto. Por outro lado, “a importância relativa do Brasil como parceiro da China no setor espacial havia decrescido”, devido a queda de “barreiras políticas”, que antes separavam a China de outros parceiros potenciais nessa área, como Índia, Coréia do Sul e Rússia.
O segundo impasse, refere-se ao comércio bilateral na segunda metade da década de oitenta e nos primeiros anos da década de noventa. Esse intercâmbio, em 1985, posicionava a China entre os dez mais importantes parceiros comerciais do Brasil, desde então, a China despencava, não ficando atrás apenas do Japão, mas também da Coreia do Sul e Taiwan. Em seu estudo, o Embaixador Abdenur lançava algumas propostas para reverter esse quadro. Ele sugeria haver campo para que o Brasil sofidticasse sua atuação na China, procurando “ir além da simples venda de commodities, para chegar à formação de joint-ventures e ao fornecimento de produtos acabados, que poderiam incluir bens de consumo leves e máquinas e equipamentos”. Em seguida, defendia que o Brasil passasse a voltar olhos para o mercado de serviços na China, país extremamente carente de rodovias, portos, aeroportos, sistemas de telecomunicações. Identificava, em especial, as oportunidades do programa chinês de construir hidrelétricas, setor no qual o Brasil tinha grande experiência.
O estabelecimento na China de empresas brasileiras para fabricar bens de consumo ou insumos industriais em parceria com empresas chinesas rendeu apenas a criação da joint-venture “Beijing Embraco Snowflake Compressor Co Ltda”. Entretanto, a cooperação na área de hidrelétricas, viria a formar, junto com a reativação do CBERS, a base da Parceria Estratégica Sino-Brasileira.
INTERESSES E MOTIVAÇÕES DO BRASIL E DA CHINA NO LANÇAMENTO DO PROCESSO DE APROXIMAÇÃO BILATERAL (1989-1993)
As motivações da China para aproximar-se do Brasil, ao longo dos anos setenta e oitenta, diziam respeito á importância do Brasil enquanto país de extenso território e população, dotado de um economia relativamente sofisticada, segundo padrões chineses na época, além das similaridades com a China, que também buscava ser um grande país em desenvolvimento, de uma inserção mais ativa e nobre no sistema internacional. Impressionou os chineses o desempenho do Brasil no cenário internacional, seja no GATT, do qual a China não participava, seja na ONU, onde o Brasil era um frequente e ativo membro do ECOSOC e do Conselho de Segurança. O enorme interesse dos chineses era conhecer a estratégia brasileira de desenvolvimento, em seus diversos setores, como telecomunicações, infraestrutura, agricultura, previdência social, saúde e combate à corrupção. Isso fez com que os meios governamentais chineses adquirissem respeito e estima pela capacitação de desenvolvimento do Brasil.
Em 1989, há o isolamento econômico e político internacional da China, imposto pelas democracias ocidentais, por motivo dos incidentes de Tiananmen (conhecido como Praça da Paz Celestial, onde em 4 de junho de 1989, a China encerrou de forma brutal o protesto em massa por liberdade e democracia, na Praça da Paz Celestial. A violência militar teve um saldo de 3,6 mil mortos e 60 mil feridos). Este episódio forçou os “dirigentes” chineses a viajarem para a América Latina. Revelando o Brasil em especial, um amigo fiel por não fechar as portas à China num momento em que o resto do mundo ocidental assim procedia. E isso, resultou em uma sucessão de visitas chinesas de alto nível ao Brasil em meados de 1993. E o avanço do Brasil em muitas áreas convenceu os “dirigentes” chineses do seu potencial.
A China já identificava duas ordens de interesses mais concretos em seu relacionamento com o Brasil. Na esfera econômico-comercial, a China preocupava-se em garantir acesso seguro às matérias-primas de que não dispunha em grau suficiente em seu próprio território, como minério de ferro e cereais, para sustentar um parque industrial em expansão e uma população com hábitos alimentares cada vez mais sofisticados.
Do lado brasileiro, as principais motivações para aproximar-se da China seriam, de um lado, as perspectivas de contratos e de exportações brasileiras, e de outro, a expectativa de que uma relação estratégica fortaleceria as teses brasileiras nos foros internacionais, onde o Brasil e China compartilhavam posições em matéria de não proliferação nuclear. Agendas para a Paz e o Desenvolvimento, relações Norte-Sul, defesa do meio ambiente e de transferência de tecnologia.
Segundo Abdenur, quando o Governo Collor assumiu, começaram a faltar, durante anos, as verbas necessárias para cumprir as obrigações brasileiras nesse projeto. Em consequencia, os chineses nos ameaçaram de nos ejetar do projeto ou cancelar os entendimentos bilaterais. Para manter o projeto, foi defendida a idéia de que os chineses agüentassem os trancos e atrasos brasileiros, em nome de uma relação próspera cada vez maior no longo prazo, ou seja, uma jogada de convencimento para evitar o fim do projeto CBERS e recuperar a relação comercial.
É interessante notar que o lançamento de certos conceitos e ideias têm capacidade de mobilizar e convencer, assim elevando o patamar das relações bilaterais, tal como acontece com o termo de Parceria Estratégica.
O Embaixador Sérgio Serra diz que “ a Parceria com China era para nós estratégica porque queríamos ir além de uma relação meramente comercial, explorando a possibilidade de cooperação na área espacial, que foi realmente um marco para nós, assim como na área de vendas de serviços e construção de hidrelétricas. Na área espacial, a importância do CBERS era fundamental, pois não havia, naquela época um projeto de cooperação Sul-Sul tão bem sucedido na área de alta tecnologia”.
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