Cidadania No Brasil
Artigo: Cidadania No Brasil. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: stefanmuller • 19/3/2015 • 9.015 Palavras (37 Páginas) • 384 Visualizações
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil. O longo Caminho. 3a ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
CIDADANIA NO BRASIL
José Murilo de Carvalho
CIDADANIA NO BRASIL
O longo caminho
3a ed.
Rio de Janeiro
2002
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO: MAPA DA VIAGEM, 7
Capítulo I: Primeiros passos (1822-1930) 15
O peso do passado (1500-1822) 17
1822: os direitos políticos saem na frente 25
1881: tropeço 38
Direitos civis só na lei 45
Cidadãos em negativo 64
O sentimento nacional 76
Capítulo II: Marcha acelerada (1930-1964) 85
1930: Marco divisório 89
Os direitos sociais na dianteira (1930-1945) 110
A vez dos direitos políticos (1945-1964) 126
Confronto e fim da democracia 144
Capítulo III: Passo atrás, passo adiante (1964-1985) 155
Passo atrás: Nova ditadura (1964-1974) 158
Novamente os direitos sociais 170
Passo adiante: voltam os direitos civis e políticos (1974-1985) 173
Um balanço do período militar 190
Capítulo IV: A cidadania após a redemocratização 197
A expansão final dos direitos políticos 200
Direitos sociais sobre ameaça 206
Direitos civis retardatários 209
Conclusão: A cidadania na encruzilhada 219
Sugestões de leitura 231
INTRODUÇÃO: MAPA DA VIAGEM
O esforço de reconstrução, melhor dito, de construção da democracia no Brasil ganhou
ímpeto após o fim da ditadura militar, em 1985. Uma das marcas desse esforço é a voga
que assumiu a palavra cidadania. Políticos, jornalistas, intelectuais, líderes sindicais,
dirigentes de associações, simples cidadãos, todos a adotaram. A cidadania, literalmente,
caiu na boca do povo. Mais ainda, ela substituiu o próprio povo na retórica política. Não se
diz mais "o povo quer isto ou aquilo", diz-se "a cidadania quer". Cidadania virou gente. No
auge do entusiasmo cívico, chamamos a Constituição de 1988 de Constituição Cidadã.
Havia ingenuidade no entusiasmo. Havia a crença de que a democratização das instituições
traria rapidamente a felicidade nacional. Pensava-se que o fato de termos reconquistado o
direito de eleger nossos prefeitos, governadores e presidente da República seria garantia de
liberdade, de participação, de segurança, de desenvolvimento, de emprego, de justiça
social. De liberdade, ele foi. A manifestação do pensamento é livre, a ação política e
sindical é livre. De participação também. O direito do voto nunca foi tão difundido. Mas as
coisas não caminharam tão bem em outras áreas. Pelo contrário. já 15 anos passados desde
o fim da ditadura, problemas
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JOSÉ MURILO DE CARVALHO
centrais de nossa sociedade, como a violência urbana, o desemprego, o analfabetismo, a má
qualidade da educação, a oferta inadequada dos serviços de saúde e saneamento, e as
grandes desigualdades sociais e econômicas ou continuam sem solução, ou se agravam, ou,
quando melhoram, é em ritmo muito lento. Em conseqüência, os próprios mecanismos e
agentes do sistema democrático, como as eleições, os partidos, o Congresso, os políticos, se
desgastam e perdem a confiança dos cidadãos.
Não há indícios de que a descrença dos cidadãos tenha gerado saudosismo em relação ao
governo militar, do qual a nova geração nem mesmo se recorda. Nem há indicação de
perigo imediato para o sistema democrático. No entanto, a falta de perspectiva de melhoras
importantes a curto prazo, inclusive por motivos que têm a ver com a crescente
dependência do país em relação à ordem econômica internacional, é fator inquietante, não
apenas pelo sofrimento humano que representa de imediato como, a médio prazo, pela
possível tentação que pode gerar de soluções que signifiquem retrocesso em conquistas já
feitas. É importante, então, refletir sobre o problema da cidadania, sobre seu significado,
sua evolução histórica e suas perspectivas. Será exercício adequado para o momento da
passagem dos 500 anos da conquista dessas terras pelos portugueses.
Inicio a discussão dizendo que o fenômeno da cidadania é complexo e historicamente
definido. A breve introdução acima já indica sua complexidade. O exercício de certos
direitos, como a liberdade de pensamento e o voto, não gera automaticamente o gozo de
outros, como a segurança e o emprego. O exercício do voto não garante a existência de
governos
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