DEPARTAMENTO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Por: Mari_Ban • 25/2/2020 • Trabalho acadêmico • 1.305 Palavras (6 Páginas) • 260 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - UFF
INSTITUTO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS – INEST
DEPARTAMENTO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS - DEI
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
MARIANA BANDEIRA DA SILVA
NITERÓI
2019
Todas as grandes empresas, em geral, têm definidas e publicadas sua missão, visão e valores. O presente estudo visa discorrer a respeito da atual situação das grandes e poderosas empresas e também comparar a missão e os valores adotados em discurso pela empresa Nike com as suas atitudes práticas, expondo algumas de suas contradições e polêmicas nas quais se envolveu, sem nenhuma pretensão de esgotar o tema.
Com o avanço do capitalismo e o estabelecimento da atual lógica global, as grandes corporações passaram a acumular cada vez poder e influência em todos os âmbitos da vida moderna. Tendo como principal objetivo a obtenção de lucro para os seus proprietários, a grandes corporações hoje são capazes de definir para a população o que consumir e também a maneira de produzir, em um nível mundial.
Apesar de serem reconhecidas como pessoas jurídicas e por isso possuírem vários direitos legais de um cidadão comum, as empresas não são como uma pessoa. São formadas por um enorme conjunto de pessoas, cada uma exercendo sua função, de forma a contribuir para o alcance de um único objetivo: o lucro. Não possuem sentimentos e nem uma consciência moral. Por conta disso, não hesitam em tomar decisões consideradas frias, utilizando-se da pobreza e miséria de outras pessoas, burlando leis e poluindo o meio ambiente, sempre visando o aumento do lucro.
Devido a essa extraordinária capacidade de influência e seu objetivo inegavelmente “egoísta”, as grandes corporações são constantemente alvo de duras críticas sociais e envolvidas em polêmicas por causa de suas ações. Não se pode negar, no entanto, que atualmente algumas empresas criam e administram projetos sociais, patrocinam ações e realização doações para fins de ajuda social, além de abraçarem causas de minorias que hoje em dia lutam por mais inclusão e igualdade, como o movimento feminista, negro e LGBT. Apesar disso, tal postura muitas vezes é vista com desconfiança devido ao papel fundamental do marketing nos dias de hoje. As marcas são acusadas de se utilizarem de um discurso repercutido pelas minorias apenas como fachada para atrair consumidores, enquanto que em sua estrutura e suas ações o preconceito e a negligência permanecem sendo reproduzidos.
Apesar de não possuírem uma consciência moral, as grandes empresas costumam ter definidas por seus criadores e divulgadas, uma missão, uma visão e seus valores. A missão seria a razão de ser da empresa, o propósito com que foi criada, a visão seria o lugar que a empresa pretende alcançar no futuro e os valores seriam os princípios que regem o conjunto de indivíduos componentes da empresa.
Analisando a empresa Nike, a começar por sua página principal na internet, seus valores e missão não estão muito acessíveis, sendo o foco total do site a divulgação de seus novos lançamentos. Tendo seu nome sido inspirado pela deusa grega da vitória, Nice, a Nike foi fundada em 1964 por Bill Bowerman e Phillip Knight, sendo sua sede em Oregon, nos Estados Unidos. Max Barry, escritor australiano, ironizou a reputação da marca em seu romance “Jennifer Government”, onde um executivo da companhia participa e financia o golpe militar brasileiro de 1964.
A missão da empresa, como consta em sua página, seria “Levar inspiração e inovação a todos os atletas do mundo”, sendo o significado de atleta para a empresa explicado logo abaixo: “Se você tem um corpo, você é um atleta”. É feito também um forte discurso em defesa e promoção ao respeito da diversidade e igualdade.
Na página de anúncio de produtos da marca, em uma aba bem escondida de dúvidas e reclamações, podemos encontrar a seguinte pergunta respondida: ”Qual o comprometimento da Nike em relação à sustentabilidade?” e em seguida a resposta: “Ganhar somente não é suficiente. Estamos comprometidos em criar um futuro melhor para os atletas e as comunidades de todos os lugares trazendo inovação sustentável.”.
Logo em seu início na década de 1990 a empresa foi envolvida em polêmicas, acusada de utilizar mão de obra infantil em fábricas na Ásia. Mais tarde, em 2002, a ONG internacional OXFAM divulgou um documento expondo relatórios de fábricas na Indonésia, que forneciam suprimentos para a Nike, onde trabalhavam funcionários em condições perigosas e prejudiciais a sua saúde e que viviam em situação de extrema pobreza. Além disso, também existem boatos de exploração de mão de obra pela empresa no México, Turquia e Índia.
Em reposta a essa acusação mais recente, o diretor de negócios internacionais da Nike para o sudoeste da Ásia afirmou que o documento divulgado pela ONG não era um trabalho preciso por se basear em uma amostragem pequena e negou diversas acusações. Situações como essa são muito comuns em populações que vivem em extrema pobreza. Essa população desesperada para sobreviver vê empregos como esse, com condições insalubres e salário baixíssimo, como oportunidades, uma chance para sustentar suas famílias e impedirem que morram de fome.
Através de documentos internos encontrados da Nike, os repórteres produtores do documentário The Corporation realizaram as contas e constataram que os trabalhadores recebem nada mais que 3 décimos de um por cento do preço de venda do que produzem. Buscando atrair capitais estrangeiros, os alguns países flexibilizam mais e mais suas leis, cedendo incentivos para que as empresas se instalem em seus territórios.
As grandes empresas se instalam nesses territórios de população miserável e quando as condições de vida melhoram um pouco, elevando também os salários, essas filiais se movem para outra região em extrema pobreza, buscando sempre a mão de obra mais barata possível. Através de um arcabouço jurídico que as favorecem, conseguem escapar das acusações sem indenizar trabalhadores e as comunidades prejudicadas por sua exploração.
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