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O Caráter Dependente do Desenvolvimento Latino-Americano

Por:   •  22/8/2016  •  Artigo  •  2.992 Palavras (12 Páginas)  •  436 Visualizações

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O Caráter dependente do desenvolvimento latino-americano:

é possível uma ruptura?[1]

Fernanda Santos Lopes[2]

Resumo: O processo de desenvolvimento dos países latino-americanos é marcado por um caráter dependente desde a colonização. A relação metrópole x colônia foi apenas renomeada para relações centro x periferia. Buscaremos analisar de que maneira a Teoria  da Dependência pode contribuir para uma ruptura com essas amarras que atrasam o desenvolvimento da região. Nosso principal objetivo é analisar o capitalismo dependente da América Latina à luz da Teoria da Dependência.

Palavras-chave: Dependência; América Latina; Teoria da Dependência; superexploração.

Abstract: The development process of Latin American countries is marked by a dependent character since colonization. The relationship metropolis x colony was only renamed to center x periphery, but the dependent bonds still remain. We seek to analyze how the Theory of Dependence can contribute to break these shackles that hinder the development of the region. Our main goal is to analyze the dependent character in Latin America countries

Keywords:  Dependence; Latin America, Dependence Theory; overexploitation.


  1. INTRODUÇÃO

A Teoria da Dependência na América Latina começou a ser desenvolvida na América Latina em fins dos anos 1960 e início dos anos 1970, quando pensadores como Theotonio dos Santos, Ruy Mauro Marini e Vânia Bambirra buscavam explicar o desenvolvimento econômico da região a partir do processo de industrialização iniciado entre as décadas de 1930 e 1940.         

“Esse passo teórico transcende a Teoria do Desenvolvimento que busca   explicar a situação dos países subdesenvolvidos como um produto de sua lentidão ou de seu fracasso em adotar os padrões de eficiência característicos dos países desenvolvidos  (ou em se “modernizar” ou se “desenvolver”). Embora a teoria do desenvolvimento capitalista admita a existência de uma dependência “externa”, é incapaz de perceber o subdesenvolvimento da maneira como a presente teoria o compreende, como consequência e como parte do processo de expansão global do capitalismo – parte necessária e intrinsecamente ligada a esse processo.” (DOS SANTOS, 2011, p.6).

Anterior à teoria da Dependência, havia sido desenvolvida, no âmbito da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) a Teoria do Desenvolvimento, que tinha como principal objetivo identificar os obstáculos ao desenvolvimento regional e criar uma base institucional para superá-los. O modelo cepalino de que o capitalismo nos países desenvolvidos deveria ser a meta dos países atrasados e que haviam etapas a serem cumpridas para alcançar o desenvolvimento sofreu duras críticas por parte Teoria da Dependência.

A Teoria da Dependência permaneceu isolada de maior parte dos centros de discussão acadêmicos na América Latina por muitos anos. Estudiosos brasileiros da teoria como Theotonio dos Santos, Vânia Bambirra e Ruy Mauro Marini saíram do Brasil depois do golpe militar de 1964 para iniciar seus trabalhos em universidades do México e do Chile. Suas obras são amplamente conhecidas nos países de língua espanhola, no entanto, só se tornaram conhecidas no Brasil 40 anos depois de formulada a Teoria da Dependência.

Vânia Bambirra começou sua carreira acadêmica como docente no Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) em 1963. O golpe militar de 1964 interrompeu suas atividades na universidade e pouco tempo depois é convidada para ser docente no Centro de Estudios Socioeconómicos (CESO) da Universidade do Chile. Tendo como base os trabalhos de André Gunder Frank, Fernando Henrique Cardoso, Enzo Faletto, Ruy Mauro Marini e outros, inicia-se na Universidade do Chile um grupo de estudos sobre as relações de dependência na América Latina, liderado por Theotônio dos Santos.

        O Capitalismo dependente de Vânia Bambirra foi publicado no Chile pela primeira vez em 1972, mas sua primeira publicação no Brasil só foi feita 40 anos depois, em 2012. Por abordar a teoria da dependência a partir de uma visão marxista, Vânia e outros intelectuais brasileiros foram boicotados e a publicação de suas obras foi proibida no Brasil. Enquanto em outros países da América Latina houve debate exaustivo sobre a dependência latino-americana, o debate brasileiro ficou restrito aos escritos de Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto.

O livro é dividido em três partes, nas quais a autora estabelece uma tipologia dos países da América Latina e seus diferentes níveis de industrialização e de desenvolvimento do capitalismo; avalia os impactos da penetração do capital estrangeiro, em especial o capital norte-americano, nas economias dependentes de dois tipos de países estabelecidos anteriormente no livro; analisa as contradições do capitalismo dependente, esboça algumas perspectivas para o futuro da região e enfatiza a necessidade de reformas econômicas, políticas e sociais.

Nosso objetivo, no presente trabalho, é estudar o capitalismo dependente na América Latina através dos trabalhos de estudiosos latino-americanos que elaboraram suas análises tendo como fundamento a realidade em que viviam. Também buscaremos avaliar de que forma seria possível uma ruptura com este caráter dependente levando em consideração os estudos de Vânia Bambirra sobre a Teoria da Dependência.


  1. AS RAÍZES DA DEPENDÊNCIA

        O processo de formação econômica e desenvolvimento dos países da América Latina foi marcado pela exploração desde sua descoberta.  A inserção destes países na economia internacional durante o período colonial foi baseada em exportações forçadas através do monopólio comercial para suprir as demandas da metrópole a que pertenciam. A metrópole detinha o monopólio das terras, jazidas e da força de trabalho das colônias.

        Bambirra (2012, p. 78), destaca que o capitalismo dependente na América Latina passou de uma formação dependente colonial-exportadora para capitalista-exportadora e por fim para capitalista-industrial. O desenvolvimento do capitalismo industrial na América Latina esteve intimamente ligado ao setor exportador, uma vez que os lucros obtidos em moeda estrangeira eram transferidos ao setor industrial.

        Ainda segundo a autora, essa dependência do setor exportador é uma característica especial e distintiva do capitalismo dependente. Marini (2008, p. 140), também pontua que a industrialização latino-americana não criou sua própria demanda, mas nasceu para atender uma demanda já existente e se estruturou em função das exigências de mercado dos países desenvolvidos. A partir da Revolução do Industrial no início do século XIX, alguns países recém-independentes da região passaram a se articular diretamente com a Inglaterra e suas economias passaram a girar em torno da economia inglesa, exportando bens primários e importando bens manufaturados.

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