O Realismo como programa de pesquisa: progresso ou degenerescência
Por: Guilherme Campbell • 18/7/2022 • Resenha • 3.116 Palavras (13 Páginas) • 114 Visualizações
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS I
PROFA. DRA. LAYLA
Esta resenha abrange cinco textos selecionados para aula sobre “O Realismo como programa de pesquisa: progresso ou degenerescência” , que discorrem acerca dos desdobramentos dessa escola de pensamento e apresentam as abordagens, convergências e divergências entre pesquisadores realistas.
O primeiro texto a ser comentado é de Elman (2007) intitulado “Realism”. Trata-se de uma revisão sobre as seis diferentes vertentes da tradição realista, quais sejam: realismo clássico, neorrealismo, realismo ascensão e queda, realismo estrutural ofensivo, o realismo estrutural defensivo, realismo neoclássico. Embora o foco do autor sejam os estudos de segurança, sua análise traz ao leitor um panorama geral do estado da arte do realismo no âmbito das relações internacionais.
Nessa perspectiva, o REALISMO CLÁSSICO teria como porta-vozes Carrr e Morgenthau. Ambos defendiam que o desejo de sempre obter mais poder estava enraizado na natureza humana e os estados estariam continuamente engajados em aumentar suas capacidades. As guerras seriam explicadas por políticas externas expansionistas na busca egoísta por mais poder. Já o NEORREALISMO teria na “Teoria de Política Internacional, de WALTZ, seu principal representante. Waltz propõe uma teoria sistêmica das relações internacionais, buscando compreender a continuidade a longo prazo nas interações entre os estados. Seu objetivo era explicar por que todos os sistemas estruturados de forma semelhante parecem ser caracterizados por resultados semelhantes, mesmo que suas unidades tenham diferentes arranjos políticos. A argumentação waltziana é que essa padronização de comportamentos dentro das relações internacionais deveria ser pautada no nível sistêmico e não nível doméstico. Por sua vez, o RELISMO ESTRUTUAL DEFENSIVO tem como autor mais conhecido Stephen Walt e sua proposta da “Teoria do equilíbrio de ameaça”. Segundo Walt (1987), na anarquia, os estados formam alianças para proteger a si mesmos. Em efeito, a conduta dos Estados é determinada pelas ameaças percebidas ao seu redor. O realismo estrutural defensivo sugere que os estados buscam a segurança em um sistema internacional anárquico. Elman (2007) aponta três fundamentos dessa abordagem: primeiro, os estados são atores racionais; segundo, o equilíbrio de defesa –ataque é uma variável na análise das relações internacionais; terceiro, combinando racionalidade e um equilíbrio ataque-defesa, os estados comumente optam em priorizar a defesa. Esse último ponto traz em seu bojo a dificuldade dessa vertente em explicar o comportamento expansionista de alguns estados. No que tange ao REALISMO DE ASCENSÃO E QUEDA, o trabalho mais conhecido é de Gilpin (1981) sobre Guerra e Mudança na Política Mundial, no qual sugere que a natureza fundamental das relações internacionais é luta pela riqueza e poder entre atores independentes. Essa abordagem analisa como os estados primeiro ascendem e depois caem da posição de liderança do sistema internacional. O argumento central é que os Estados se envolvem em conflito, quando calculam que os benefícios de fazê-lo excedem seus custos. Nesses casos, pode haver guerras hegemônicas para definição de uma nova liderança no sistema internacional. Mais recentemente, Copeland também se destacou nessa abordagem, ao sugerir que as guerras são tipicamente iniciadas por potências militares dominantes que temem declínio. Quanto ao REALISMO NEOCLÁSSICO, sua versão proeminente é teoria de equilíbrio dos interesses de Schweller, para quem os estados decidem racionalmente sobre suas respectivas políticas externas, dependendo de uma combinação de poder e interesses. Os realistas neoclássicos asseveram que as capacidades materiais e a distribuição de poder são essenciais para uma análise dos resultados internacionais. Cabe frisar que essa abordagem, diferentemente das proposições sistêmicas, sugere a análise das características dos Estados e dos líderes domésticos, para entender como elas intervem entre as restrições estruturais e o comportamento individual do estado.
A sexta abordagem apontada por Elman (2007) é o REALISMO ESTRUTURAL OFENSIVO, cujo principal representante é MEARSHEIMER com sua obra “The tragedy of great power politics”. Dessa obra, convém destacar o capítulo 2 para uma reflexão com mais vagar.
Segundo Mearsheimer (2001), as grandes potências estão sempre em busca de oportunidades para ganhar poder sobre seus rivais, tendo como objetivo final a hegemonia. Seus argumentos são cinco: a) o sistema internacional é anárquico, o que não significa que seja caótico ou desordenado; b) as grandes potências possuem inerentemente alguma capacidade militar ofensiva, que lhes dá os meios para possivelmente destruir um ao outro; c) os Estados nunca podem ter certeza sobre intenções dos outros estados; d) a sobrevivência é o objetivo principal das grandes potências: e) as grandes potências são atores racionais, visto estarem conscientes de seu ambiente externo e pensarem estrategicamente sobre como sobreviver nele.
Mearsheimer (2001) ainda reflete sobre outros aspectos nas relações internacionais, tais quais: comportamento estatal, agressão calculada, limites da hegemonia, poder e medo, hierarquia dos objetivos estatais, criação de uma ordem mundial, cooperação entre os estados.
Em relação ao comportamento estatal, o autor reitera que as grandes potências temem umas as outras. Isso porque os Estados operam em um mundo de auto-ajuda, quase sempre agindo de acordo com seu interesse. Os estados entendem que a melhor maneira de garantir sua sobrevivência é ser o estado mais poderoso, logo o maior objetivo estatal é a hegemonia. Ademas, acrescenta Mearsheimer (2001), os estados acreditam que seu ganho de poder significa menos poder para o outro, ou seja, as grandes potências têm mentalidade de soma zero ao lidar com as outras. A ideia de que uma grande potência pode parecer segura sem dominar o sistema não seria persuasiva por duas razões: primeiro, é difícil avaliar quanto poder relativo um estado deve ter sobre seus rivais antes de estar seguro; segundo, é complicado definir quanta energia um estado deve acumular a longo prazo para se manter segura. A propósito, para essa abordagem a melhor defesa é o ataque.
Mearsheimer (2001) ainda realiza uma distinção entre os conceitos de poder relativo e poder absoluto. Isso porque os estados preocupados com o poder relativo se comportam de maneira diferente de Estados interessados no poder absoluto. Estados que maximizam o poder relativo estão preocupados com a distribuição de capacidades materiais e podem renunciar a grandes ganhos em seu próprio poder, se tais ganhos dão aos estados rivais maior poder. Em contrapartida, os estados maximizadores de poder absoluto preocupam-se apenas com aquisição de maior capacidade material em si mesma.
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