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RESENHA CRÍTICA DO ARTIGO “THE UNIPOLAR MOMENT” POR CHARLES KRAUTHAMMER

Por:   •  5/11/2022  •  Resenha  •  1.868 Palavras (8 Páginas)  •  152 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

DEFESA E GESTÃO ESTRATÉGICA INTERNACIONAL

DISCIPLINA DE ESTUDOS SOBRE OS ESTADOS UNIDOS

RESENHA CRÍTICA DO ARTIGO “THE UNIPOLAR MOMENT” POR CHARLES KRAUTHAMMER

DISCENTE: GABRIELA MOREIRA DE ARRUDA

DRE: 119065301

Nascido em 1950, Charles Krauthammer foi um médico psiquiatra e redator de discurso do vice-presidente Walter Mondale durante a reeleição do presidente Jimmy Carter. Estudou nas universidades de McGill, Oxford e Harvard, sendo a sua primeira graduação em ciências políticas e economia, nos anos 70. Porém, a princípio, não se identificou tanto com a área, logo, partiu para o ramo da medicina, mais especificamente a psiquiatria, atuando nessa área por três anos no Hospital Geral de Massachusetts. Entretanto, foi durante a década de 1980 que sua carreira tomou outra direção, quando deixou a medicina e se mudou para Washington a fim de coordenar as pesquisas psiquiátricas para o governo Carter. A seguir, não demora muito até iniciar sua carreira de colunista e comentador político primeiro no The New Republic, onde um de seus artigos recebe um prêmio nacional. Em 1985, junta-se ao The Washington Post, publicando colunas semanais, e dois anos depois torna-se o renomado crítico político com o prêmio Pulitzer de 1987, devido ao talento inerente a forma pela qual escrevia suas opiniões e comentários, sendo inteligente, leve, perspicaz e direto ao ponto. Esse talento com as palavras fica particularmente evidente devido ao fato de ter dado origem a algumas percepções, por exemplo, “Doutrina Reagan”, para se referir a estratégia anticomunista do presidente Reagan. Ou, ao utilizar-se do termo “unipolaridade” para descrever a situação dos Estados Unidos após o fim da União Soviética – e, consequentemente, da Guerra Fria.

O artigo concentra-se justamente no conceito anteriormente mencionado, “unipolaridade” e o destaque inerente dos Estados Unidos dentro desse novo contexto do sistema internacional. Publicado em 1991 na revista estadunidense de relações internacionais e política externa, a Foreign Affairs, que tem por objetivo disseminar e tornar acessível o conhecimento acerca das questões internacionais que afetam os EUA, o artigo escolhido à exposição de análise crítica trata especialmente da posição assumida pelos Estados Unidos no cenário do pós-Guerra Fria, sendo o país classificado pelo autor como uma superpotência sem rivais – unchallenged superpower. Logo no primeiro parágrafo, há uma frase do escritor que resume bem essa situação: “Roles [...] are a response to a perceived world structure.”. Ou seja, o papel desempenhado pelos Estados Unidos constrói-se de acordo com o contexto estrutural imposto pela vitória do sistema capitalista (neo)liberal em contrapartida ao declínio da União Soviética e do regime comunista. [a]

Estruturado em doze páginas, o artigo desenvolve-se a partir de três argumentos principais. Em primeiro lugar, Krauthammer evidencia sua discordância em relação à tendência de pensamento acadêmico e da opinião pública do período. Isto se dá porque alguns formuladores de opinião acreditavam na insurreição de um sistema internacional multipolar imediatamente após o fim da bipolaridade previamente existente. Nesse novo sistema, o poder estaria distribuído pelo mundo em vários centros de poder, por exemplo, no Japão, na Alemanha e na China. Todavia, o autor notoriamente mostra-se contrário a essa percepção. Ora, Krauthammer afirmava a perseverança do momento unipolar, que dá título ao artigo, “The Unipolar Moment”. Nesse sistema unipolar, os Estados Unidos são a maior superpotência, os mais influentes, mais importantes e os mais poderosos.

Ainda que Japão, Alemanha e China de fato sejam potências economicamente relevantes, elas nem sequer aproximam-se do poderio dos EUA, já que: “The notion that economic power inevitably translates into geopolitical influence is a materialist illusion.” (KRAUTHAMMER, 1991, p. 24).[b] Ou seja, é indiscutível a imprescindibilidade do poder econômico a fim de atingir o patamar de grande potência, mas não é um poder autossuficiente. Aliás, outro fator que pode explicar o ego inflado dos estadunidenses – especialmente análises feitas por pensadores mais conservadores como o próprio Krauthammer – é o êxtase causado pelas vitórias consecutivas dos Estados Unidos nos três conflitos mundiais que se sucederam no século XX, começando pela Primeira Guerra Mundial e estendendo-se até a Guerra Fria – não havia mais adversários capazes de rivalizar com os Estados Unidos. A liderança sistêmica dos Estados Unidos era tida como um fato natural das coisas. Portanto, o significado de “momento unipolar” define-se a partir do fim das grandes guerras no Ocidente, no qual, em  situação de paz ideológica, os países do Norte irão ombrear suas políticas externas de acordo com a dos Estados Unidos, a fim de manter a paz e a ordem.

Desse modo, a proeminência dos Estados Unidos é entendida a partir das capacidades combinadas nas quatro expressões de poder, sendo elas: militar, diplomático, político e econômico. Em conjunto, isso permite aos EUA a manutenção do seu papel enquanto ator decisivo em qualquer conflito ou acontecimento em que eventualmente demonstra-se disposto a se envolver. Um exemplo disso, dado pelo próprio autor, é a atuação dos EUA na Crise do Golfo Pérsico, em 1990.[c] Segundo Krauthammer, a invasão do Kuwait foi um evento de extrema relevância por trazer à tona a verdadeira natureza da estrutura geopolítica do sistema internacional no pós-Guerra Fria, uma vez que define a existência dos EUA enquanto único polo de poder, dentro do qual estão inseridos as outras potências ocidentais. Marcadamente, Krauthammer (1991, v. 70, p. 24) irá alfinetar: “[...] Where the United States does not tread, the alliance does not follow.”. Afinal, a resposta unilateral e eficaz em forma de intervenção militar ao ataque coordenado pelo Iraque, por parte de George Bush, serviu justamente para impedir o controle iraquiano sobre a Península Arábica.

Ao mesmo tempo, Krauthammer admite a existência de um pseudo-multilateralismo, partindo do princípio de que os EUA, enquanto única e mais poderosa superpotência, é de certa forma reticente quanto a uma atuação completamente independente da comunidade internacional[d], dado que contempla e preza pela tomada de decisão baseada na noção de segurança coletiva. Por isso, os EUA por vezes tomam atitudes essencialmente unipolares, mas que são camufladas por um aparato multipolar composto sobretudo pelos conselhos da Organização das Nações Unidas (ONU). A importância atribuída ao multilateralismo pode ser claramente entendida quando a opinião pública norte-americana é inspecionada.[e] Tem-se, no geral, um grau de desconfiança quanto a legitimidade de ações tomadas por uma só parte, deixando implícito que seria uma espécie de imposição de normas estadunidense em diversos assuntos internacionais. Nesse sentido, o que existe é uma “unipolaridade disfarçada”, porque os EUA tomam a frente das ações, mas sem deixar de atribuir funções a outros atores internacionais.

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