A Validade permanente da Teologia da Reforma
Por: Marcelo Barboza • 8/12/2017 • Monografia • 2.302 Palavras (10 Páginas) • 444 Visualizações
A Validade permanente da Teologia da Reforma
Para Adolf Von Harnack, grande historiador da igreja, Lutero foi o fim do dogma, da mesma forma que Cristo foi o término da lei. Entretanto, qualquer tentativa de avaliar a importância da teologia da Reforma para a igreja de hoje deve reconhecer a absoluta impossibilidade de tal visão.
Portanto, mesmo os reformadores vendo-se numa ligação básica com os dogmas fundamentais da igreja primitiva eles não repetiram simplesmente os dogmas clássicos do período patrístico. Eles consideraram necessário estendê-los e aplica-los ao âmbito da soteriologia e da eclesiologia. No Concílio de Nicéia os teólogos da igreja primitiva confessaram Jesus Cristo como homoosios, “da mesma essência”, com o Pai. Eles estavam mais preocupados com a obra de Cristo do que com a pessoa de Cristo. Conhecer a Cristo, dizia Melanchthon, não é investigar os modos de sua encarnação; conhecer a Cristo é conhecer seus benefícios.
Com o movimento histórico. A Reforma do século XVI encontra-se agora no passado. Porém, como movimento do Espírito de Deus, a Reforma possui um significado permanente para a igreja de Jesus Cristo.
Assim como os reformadores acharam necessário voltar à Bíblia e à igreja primitiva a fim de abordar a crise espiritual de seus dias, da mesma forma não podemos negligenciar os temas fundamentais da Reforma ao buscarmos proclamar a boa nova de Jesus Cristo em nossa época. A bem da verdade, “Jesus Cristo ontem e hoje é o mesmo, e o será para sempre”.
A validade permanente da teologia da Reforma é que, apesar das muitas ênfases variadas que contém dentro de si, ela desafia a igreja a ouvir reverente e obedientemente aquilo que Deus disse de uma vez por todas e de uma vez por todas o que fez em Jesus Cristo.
Soberania e Cristologia
Menno e os anabatistas não eram menos enfáticos quanto os reformadores principais quanto ao governo absoluto de Deus sobre o mudo e a história. Sua oposição às normas culturais da época e sua disposição de seguir Jesus, chegando a ponto de viver sem defesa numa sociedade violenta, refletia uma confiança ainda mais firme na prioridade e na vitória derradeira do comando de Deus.
Portanto, a doutrina reformada básica da eleição ou da predestinação sobressaía-se como uma testemunha inequívoca da soberania de Deus na salvação humana. Eles viam os seres humanos profundamente escravizados pelo pecado que somente a graça soberana de Deus poderia verdadeiramente libertá-los.
A doutrina da justificação pela fé pressupõe a apropriação subjetiva do dom divino da salvação, mas também reconhece que mesmo aquela fé pela qual somos justificados é, em si mesmo, semelhante um dom. Conforme Lutero expressou em seu prefácio à Epístola aos Romanos: “A fé é uma obra divina em nós, que nos transforma e nos faz renascer de Deus...ali, que coisa viva, inquieta, ativa, poderosa é essa”.
Deus é o Senhor soberano não somente na redenção, mas também na criação. Todos os reformadores, até Menno, rejeitavam as tendências panteístas de certas correntes do misticismo da baixa Idade Média.
De todos os reformadores, Zuínglio desenvolveu a mais elaborada e filosoficamente notificada doutrina da providência. Todos os reformadores evitaram o conceito daquilo que Calvino chamou de “o deus ocioso”, uma divindade distante e altiva que criou o mundo, mas que raramente, interferia em Deus acontecimentos se é que o fazia. Eles estavam bastante dispostos a admitir que nem sempre entendemos como a providência de Deus opera nos trágicos sofrimentos e revéses de nossa existência terrena.
Nossa inquietação moderna com a doutrina reformada da providência deriva, em parte, e nossa ânsia desordenada por clareza. Não conseguimos entender como um Deus soberano poderia permitir o sofrimento inocente. Calvino admitiu que não há fé verdadeira que não seja tangida pela dúvida. Nas agonias de seu Anfechtungen, o próprio Lutero havia clamado: “Meu Deus, meu Deus...por quê? Conforme Calvino o expressou, as explosões iradas contra os céus são como cuspir para cima.
Cada um dos reformadores possuía um modo próprio de expressar a centralidade de Jesus Cristo. Lutero declarou que “a única glória dos cristãos estava apenas em Cristo”.
Escrituras e Eclesiologia
O rompimento evangélico de Lutero só foi conseguido mediante um estudo persistente e esforçado das Escrituras Sagradas. Todos os reformadores estavam convencidos daquilo que Zuínglio chamou de “a clareza e a certeza da Palavra de Deus”. Embora acolhessem entusiasticamente os esforços dos eruditos humanistas, tais como Erasmo, pr recuperar o primeiro texto bíblico e submetê-lo a uma rigorosa análise filológica, eles não viam a Bíblia meramente como um livro entre muitos outros. Eles eram irrestritos em sua aceitação da Bíblia como a única e divinamente inspirada Palavra do Senhor. Ademais, não estavam interessados numa teoria abstrata ou formal da inspiração, mas sim no poder que a Bíblia tem de transmitir uma sensação de encontro com o divino e de evocar uma reação religiosa por parte do ouvinte.
Ao insistir na correlação entre Palavra e Espírito, os reformadores principais também se distanciavam dos espiritualistas, que colocavam sua própria experiência religiosa pessoal acima da revelação de Deus objetivamente dada.
Na perspectiva da Reforma, então, a igreja de Jesus Cristo é aquela comunhão de santos e congregação dos fiéis que ouviram a Palavra de Deus nas Escrituras Sagradas e que, com o serviço obediente a seu Senhor, prestam testemunho dessa Palavra ao mundo. Devemos lembrar-nos de que a igreja não começou com a Reforma. Os reformadores pretendiam voltar à concepção neotestamentária de igreja, expurgar e purificar a igreja de seus dias segundo a norma das Escrituras Sagradas.
Culto e Espiritualidade
Ao longo da história da igreja, tem havido intensa correlação entre o desenvolvimento da doutrina cristã e a prática do culto cristão. A Reforma lembra-nos que não só o culto tem efeito moldador sobre a teologia, mas, também a renovação teológica pode levar a uma revisão litúrgica.
Com parte de seu protesto contra o domínio clerical da igreja, os reformadores visavam a uma participação total no culto. Sua reintrodução da língua do povo era em si mesma revolucionária, pois exigia que o culto divino fosse oferecido ao Deus Todo-Poderoso na língua usada por negociantes, no mercado, e por maridos e esposas, na privacidade de seus quartos. A intenção dos reformadores não era tanto secularizar o culto, quanto santificar a vida comum.
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