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O Conceito de Pessoa Humana de Karol Wojtyla

Por:   •  13/3/2019  •  Pesquisas Acadêmicas  •  5.555 Palavras (23 Páginas)  •  318 Visualizações

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O CONCEITO DE PESSOA HUMANA EM KAROL WOJTYLA

Jardel Rodrigues Coelho

 

COMTEXTO SÓCIO-POLÍTICO E FILOSÓFICO DE KAROL WOJTYLA

Karol Józef Wojtyla nasceu na cidade de Wandowice, cerca de 50 quilômetros de Cracóvia, Polônia, no dia 18 de maio de 1920. Era o segundo filho de Karol Wojtyla e Emilia Kaczorowska, e veio ao mundo durante a guerra da Polônia com a União Soviética. Sua mãe tinha a saúde debilitada e morreu quando Karol tinha apenas 9 anos. A partir de então, ele foi criado apenas pelo pai militar e pelo irmão mais velho, Edmund. Isso mostra que Karol Wojtyla já estava, desde cedo, aprendendo a lidar com a dor humana. Ademais, o fato de ter nascido em um ambiente familiar cristão, bem como em uma nação fundamentada nos valores da religião católica, muito contribuiu para seu espirito de superação, frente a um país devastado e oprimido por regimes opressores e tirânicos.  

No que segue, exporemos alguns fatos de cunho político e cultural, vivenciados pelo polonês Karol Wojtyla, apenas sendo, portanto, basilares na construção de sua personalidade, bem como responsáveis pela construção de seu pensamento humanista e, posteriormente, de sua Filosofia personalista.

 A Polônia está localizada, de forma estratégica, entre o ocidente e o oriente, resultando, assim, em um país de trânsito entre mundos diferentes. Wandowice era uma cidade constituída de uma sociedade diversificada e bastante flexível, sendo também conhecida por suas atividades na área literária e teatral, desenvolvidas entre os séculos XIX e XX. Esses elementos nos fazem compreender de onde veio a capacidade de acolhida de Wojtyla frente ao outro, ao diferente. O catolicismo sempre predominou na alma da nação polonesa, tornando-a uma guardiã dos valores cristãos. Esse caráter cristão-católico foi de suma importância para dar esperança ao povo. Daí que, mesmo enfrentando os constantes ataques da guerra, o povo sempre esteve unido ao seu país por meio da força espiritual que o levava a crer na superação de todo o mal vigente.  

 Karol Wojtyla nasceu no regime da Segunda República Polonesa, que despontou no final da Primeira Guerra Mundial (1918). Ante seus olhos tem o cenário de uma Polônia dividida pelo nascimento de um novo Estado, contendo quatro modos de governo legais, e na economia, sete tipos de moedas diferentes. A Polônia estava em ruinas devido aos horrores da Guerra; era, portanto, um país a ser reconstruído. Não obstante essa calamidade, a nação polonesa estava unida e cheia de esperanças para a reconstrução da pátria em todos os campos. Nesse processo de reconstrução nacional, destaca-se o campo intelectual[1], onde intelectuais católicos combateram contra frentes que propagavam exageradamente o messianismo e o nacionalismo, o que incorria na exclusão dos direitos de outros povos:

A nova geração de intelectuais católicos que teve sua primeira aparição antes da primeira guerra mundial tomou uma posição neutra numa série de debates entre socialistas e nacionalistas, entre Pilsudski e Dmowski, entre esquerda e direita. Eles estavam ofendidos pela blasfêmia das metáforas messiânicas de rebeldes com suas visões de “Polônia – O Cristo das Nações” e envolvidos pela xenofobia, e do frequentemente anti-judaísmo de disseminação chauvinistas (DAVIES, 1979, p. 222)[2].  

No decorrer da reconstrução do país, estourou a Segunda Guerra Mundial, (1939-1945) da qual, Karol Wojtyla, vivenciou de perto seus horrores. Nesse período, ele se confronta com o desânimo do povo frente a mais uma Guerra. No entanto, Wojtyla se insurge contrariamente à desumanização produzida pelo conflito, o que o leva a desenvolver seu pensamento personalista, saindo em defesa da pessoa humana e da sua dignidade. É nesse momento que ele decide mudar o curso de sua vida, abandonando o curso de Filologia[3], em Cracóvia, e abraçando a vocação sacerdotal.  

Neste mesmo período, ocorre a supremacia do nazismo alemão que deseja a destruição da Polônia. Sendo necessário para isso, principiar pela destruição da Igreja Católica, por ser uma força na defesa da identidade do povo polonês.

Nesse contexto, Wojtyla viu novamente o sofrimento de seus patrícios, que, desta vez, atinge também os eclesiásticos. Testemunhou a redução da pessoa humana a uma coisificação por parte dos atrozes nazistas. Todavia, não se deixou abater pelo desânimo e mesmo clandestinamente continuou seus estudos rumo ao sacerdócio.  

Depois de um tempo de estudos em Roma (1946 a 1948), Karol Wojtyla retorna a sua Polônia agora dominada por um poder comunista de tipo stalinista, que tinha como objetivo difundir uma ideologia ateia para enfraquecer a influência do cristianismo no país. A presunção dessa ideologia residia em “inculcar uma ideologia ateia e uma releitura da história nacional que rompesse a ligação entre o nacionalismo e o catolicismo poloneses”[4] (WEIGEL, 2009, p. 113). A perniciosidade dessa ruptura foi combatida pelo jovem sacerdote Karol por meio de pregações de novas ideias teológicas, que vieram a contribuir também para o fomentado espirito do Concilio Vaticano II. Esse período foi de grande importância para Wojtyla, uma vez que fez amadurecer intelectualmente seu pensamento filosófico, que se solidificava nas bases da filosofia cristã, permitindo-lhe responder a perguntas de cunho existencialista, que encontravam respaldo na religião.  

 A oposição aos efeitos produzidos por esses sistemas que melodiasse o esvaziamento da dignidade humana, visto que a pessoa humana era tida como um objeto a ser usado conforme as necessidades dos estadistas, possibilita-nos compreender o cenário em que foi construida a personalidade de Karol Wojtyla e as bases de seu pensamento, reflexo de um povo desejoso por liberdade, e alicerçado sobre os valores cristãos, como fonte de esperança.  

Portanto, a pessoa humana foi retirada da centralidade das relações e

ignorada, sobretudo pelos últimos dois sistemas já citados. Esses regimes descaracterizavam a possibilidade de diálogo, pela força das armas e pela opressão, difundindo que a solução dos problemas não se dava por meio do mesmo. O que era uma postura muito diferente daquela adotada por Wojtyla, que via no diálogo a solução para a superação dos conflitos. Essa atitude propositiva possibilitou-lhe tornar-se um homem do diálogo.  

As fontes para a consolidação de seu pensamento foram extraídas da doutrina católica, dos estudos literários, e, sobretudo de suas experiências de vida. Wojtyla, descobriu a força contida na palavra, e do quanto ela era capaz de criar e recriar, de construir e reconstruir, de ser ponte entre as relações interpessoais e o mundo. Por sua vez, tudo isso é documentado por seu contato com o mundo das artes, de onde advieram seus primeiros ensaios; de seu interesse, sobretudo, pelo teatro rapsódico durante a Segunda Guerra mundial, e pelo estudo de Filologia, que constitui sua primeira paixão.

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