CONFLITOS POLÍTICOS E CONFRONTOS ENTRE O ARCAICO/MODERNO NO SERTÃO
Por: 96408030 • 15/3/2016 • Artigo • 6.158 Palavras (25 Páginas) • 445 Visualizações
Parahyba dos anos vinte: conflitos políticos e confrontos entre o arcaico/moderno no sertão paraibano durante a Revolta de Princesa (PB).
Maria Jeane da Silva[1]
Resumo:
Como toda sociedade que se prese, o Brasil passou por várias transformações ao logo do tempo. O cenário político foi alvo de diversos relances e disputas de poder. A partir da década de 1920, começaram a surgir no cenário nacional fatores sociais e políticos que contribuíram decisivamente para o declínio da República Velha. Com isso, o cenário brasileiro começa a ser repensado e os conflitos sociais começam a explodir. O presente artigo busca discutir o cenário politico, econômico e cultural paraibano, tendo como ênfase a revolta de princesa, movimento que antecedeu a revolução de 1930. Apontando o percurso que levou as lideranças locais a se voltarem contra o governo do estado, tornando a cidade independente. É com base nesse cenário de disputa politica e econômica, que são construídos discursos sobre grandes personagens como João Pessoa e o coronel José Pereira de Lima. Buscamos então, discutir como essa revolta se deu a partir de produções na área midiática (documentário: “Princesa do Sertão” e Filme: Parahyba Mulher Macho) e quais os conceitos que foram construídos em sua desenvoltura. Tais como o de moderno/arcaico, coronelismo, perfil do paraibano e o lugar social ocupado pela mulher durante esse conflito.
Palavras-Chaves: Revolta de Princesa, Modernismo, Parahyba, Coronelismo, Feminismo.
Introdução:
“- O que vocês não entendem é que a nossa Revolução é tão revolucionaria, que já conseguiu revolucionar o sentido da palavra Revolução.
- Como assim?
– Não revolucionando!”
(Jornal do Brasil, RJ, 18 de Julho de 1968- Bibliotecas Nacional).
Revolução. Definir esse termo é tarifa de terminológo ou do que podemos chamar de neologismo[2]. A história da humanidade é composta de uma incessante busca por poder e prestigio social. Como bem nos diz Karl Marx, “as Revoluções são a locomotiva da história”. Foram às disputas entre as diferentes classes sócias, seja essa cultural, econômica ou politica, que impulsionaram grande parte das transformações sociais até então relatadas pela historiografia em diferentes tempos históricos.
O Brasil no que remonta os anos de 1889-1930 vivia no que os historiadores chamaram de República Velha. O contexto social brasileiro passou por dois grandes estopins nesse período. Em primeiro lugar temos a proclamação da República em 15 de novembro de 1889 e em segundo plano a Revolução de 1930. O cenário politico desse período ficou conhecido pela vasta predominância das oligarquias. Temos um contexto social/politico construído com base no que ficou conhecido como clientelismo, ouse já, na troca de favores entre autoridades locais e governo do estado. Esse sistema se concentrava em dois polos Minas Gerais e São Paulo. A economia do Brasil concentrava-se na exportação de produtos, e por isso oscilava bastante pelo fato de depender das grandes potencias industriais. Uma prova dessa dependência e de suas consequências deu-se com a crise de 29.
Segundo Arthur Siqueira Guimarães (2015, p. 01),
A falta de empreendedorismo da burguesia cafeeira enraíza o Brasil no atraso de um sistema econômico agroexportador. Enquanto a modernidade e a industrialização seguiam em muitos países, o Brasil, sob o comando de uma classe dominante arcaica e conservadora, encontra-se apático a esse conjunto de transformações.
A modernização era fato consumado em grande parte das metrópoles brasileiras. Pela dificuldade de comunicação e transporte, as regiões que compunham o sertão presenciaram a sua chegada tardiamente. Apenas por volta de 1917-20, é que se pode constatar a chegada de alguns símbolos da modernidade no sertão. Entre tais símbolos, podemos citar a luz elétrica, telégrafo, melhoramentos das estradas, construções arquitetônicas mais aprimoradas, cinema, futebol, automóveis entre outros. De mãos dadas com a modernização do âmbito urbano, temos também as transformações na ideologia social, econômica e politica. Porém, como nos transmite Serioja Rodrigues Cordeiro Mariano (1999, p. 02), é evidente que há uma tensão entre o moderno e o tradicional, mas, muitas vezes, “a velocidade das mudanças torna o que era moderno em mais um refugio do tradicional”. Enquanto o moderno se instalava, no cenário politico, lideranças regionais como os coronéis e práticas como o cangaço considerado por muitos estudiosos como arcaico, continuavam a mandar e desmandar na Parahyba. Regidos por denominações como: “posso, quero e mando”.
Princesa, uma cidade localizada no sertão paraibano, contava entre as décadas de 1920-30, com um desenvolvimento social, politico e econômico bastante relevante em relação a tantas outras. A cidade é conhecida pela historiografia em seu aspecto politico, por ter sido palco da tão conhecida “Revolta de Princesa”. Confronto politico acirrado entre o presidente da Parahyba João Pessoa e uma autoridade local da cidade, o coronel José Pereira. Como cita Mariano (1999, p. 03), o conflito constituiu-se “numa resposta do sistema coronelístico – atingido em seus privilégios – às modificações introduzidas pela administração de João Pessoa”.
Como todo historiador que se prese, aprendemos no decorrer de nossa formação que os fatos históricos, passam a construir diversas ramificações ao serem analisados por diferentes pontos de vistas. É como base nisso, que segundo Keith Jenkins (2004) a história é um discurso que tem como objeto de estudo o passado, mas que pode ser interpretada de diferentes formas dependendo de quem á analisa. A autora, nessa perspectiva coloca que a história pode ser definida como uma teoria, ou seja, que a partir de diversas interpretações constrói uma série de discursos a respeito da realidade.
Atualmente estamos imersos em um mundo tecnológico que absorve para si, grande parte dos discursos que circulam no meio social. As disputas politicas são alvo de grande repercussão. A historiografia cumpre seu papel, em nos fornecer explicações dos fatos, e o mundo tecnológico também ocupa seu espaço nesse ramo. Diversas produções cinematográficas são produzidas no intuito de nos lançar mais uma versão sobre períodos históricos.
De acordo com Rita de Kasia Andrade Amaral (2015, p. 09),
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