DIMENSÕES DA FIDELIDADE
Por: Tamires Teles • 27/6/2017 • Projeto de pesquisa • 2.384 Palavras (10 Páginas) • 478 Visualizações
DIMENSÕES DA FIDELIDADE
(Lição 10 – 8 de Março de 2015)
TEXTO ÁUREO
“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” 1Ts 5.23
VERDADE APLICADA
Como cidadão do céu, o cristão tem obrigações para com Deus e os homens, que se evidenciam no viver fiel em todas as dimensões.
OBJETIVOS DA LIÇÃO
1. Explicar o que é fidelidade;
2. Estabelecer a diferença entre fidelidade espiritual e social;
3. Mostrar os benefícios para quem vive uma vida de fidelidade.
Textos de referência
1Co 4.2; Ap 2.10; Mt 25.21
INTRODUÇÃO
[pic 1]
O comentarista se propõe a atingir três objetivos com a Lição 10 – Dimensões da Fidelidade: 1) Explicar o que é fidelidade; 2) Estabelecer a diferença entre fidelidade espiritual e social e 3) Mostrar os benefícios para quem vive uma vida de fidelidade. Para tanto ele divide a lição em três tópicos, alem da introdução e da conclusão, nos quais explicam quais sãos as dimensões espirituais e sociais da fidelidade e quais os resultados de se vivenciar essas dimensões.
1. DIMENSÃO ESPIRITUAL
No Tópico 1 o autor discorre sobre a Dimensão Espiritual da Fidelidade propondo três aspectos fundamentais dessa dimensão: crer e obedecer a Deus, amar a Deus e confiar nas promessas de Deus. Expõe que é necessário crer em Deus e que isso, para além de ser uma atitude intelectual, é uma “operação do Espírito Santo” e também sustenta que crer somente não é suficiente se essa crença não resultar em obediência a Deus.
A obediência a Deus, diz o autor, “é uma forma positiva de demonstrarmos nosso amor a Ele”. Dessa forma, conforme o comentarista se obedecemos a Deus, manifestamos mais um fundamento da dimensão espiritual da fidelidade que é o amor a Deus. O terceiro fundamento dessa dimensão espiritual da fidelidade se baseia em “confiar nas promessas de Deus”. Não é suficiente crer que Deus é o criador e o mantenedor do universo, mas também que ele cumpre com a sua palavra. É preciso estar certo de que Deus é “por natureza” fiel e conclui esse tópico afirmando que é preciso crer na fidelidade de Deus para alcançar suas bênçãos.
2. DIMENSÃO SOCIAL
O Tópico 2 é dedicado ao que o autor chama de Dimensão Social da fidelidade. Ele afirma que essa dimensão é “caracterizada como fruto da obediência às leis e normas humanas, como atitudes que, em tese, qualquer pessoa pode praticar”. Com o termo “qualquer pessoa” talvez já estabeleça uma diferença entre as duas dimensões da fidelidade que analisa porque, conforme ele mesmo diz, a dimensão espiritual só pode ser vivenciada por aqueles em que há uma “operação do Espírito Santo”, enquanto que a dimensão social e irrestrita. Contudo, ao cristão ela é obrigatória e essa obrigatoriedade se deve ao caráter espiritual da fidelidade cristã. A dimensão social da fidelidade se fundamenta, segundo o autor, também em três premissas básicas: a obediência ao governo humano, a solidariedade e o respeito ao meio ambiente.
O autor utiliza da doutrina de Romanos 13 para fundamentar o que diz sobre a obediência ao governo humano. Discorrendo sobre essa doutrina explica que a autoridade secular é constituída por Deus e afirma que desobedecer “às autoridades constitui-se em desobediência ao próprio Deus”. Expõe que Jesus se sujeitou às autoridade seculares pagando o imposto devido e ressalta que a “presença da autoridade secular e necessária e indispensável para a ordem das coisas aqui na Terra”. O limite a essa obediência, segundo o autor, é a obediência ao próprio Deus que precede qualquer autoridade.
Também a solidariedade é fundamento da dimensão social da fidelidade. Reconhecendo que o mérito não é um pré-requisito para a salvação, o comentarista discorre sobre a doutrina apostólica da justiça social apresentada no Novo Testamento. O cristão não deve ser fiel apenas verticalmente, mas também, horizontalmente, ou seja, ser fiel para com os seus semelhantes manifestando solidariedade para com os necessitados, denunciando as “injustiças sociais, bem como agir com sabedoria, buscando a cooperação e o bom relacionamento com todos, sempre objetivando servir ao próximo, usando inclusive dos seus próprios recursos, ajudando a minorar o sofrimento das pessoas”.
O terceiro fundamento da dimensão social da fidelidade é o respeito ao meio ambiente. Segundo o autor, Deus “atribuiu ao homem a responsabilidade pela utilização adequada dos recursos naturais e pela preservação das espécies”. Da mesma forma que sujeitar-se às autoridades seculares é uma das maneiras de sujeitar-se a Deus, conforme o comentarista, preservar a natureza “é também reconhecer que Deus é o senhor da criação”.
3. RESULTADOS PROVENIENTES DA FIDELIDADE
Os resultados de vivenciarmos as dimensões das fidelidades propostas pelo autor constituem em recompensas espirituais, emocionais e materiais. A maior recompensa espiritual é a obtenção da vida eterna. No plano pessoal as recompensas são emocionais, “paz e alegria no nosso homem interior”. No plano social as recompensas são matérias, “estabilidade e justiça social, minimização dos sofrimentos humanos e vida mais saudável, dentre muitos outros benefícios”.
CONCLUSÃO
O comentarista conclui lembrando a Lei Geral da Semeadura: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” (Gl 6.7) A fidelidade, conforme o autor, é garantia de plantar sementes que produzirão bons frutos. O contrário se traduz no contrário: más sementes, frutos ruins.
INTRODUÇÃO A UMA DIMENSÃO MAIS AMPLA
Nesta lição de número 10, o comentarista nos deu duas dimensões da fidelidade do cristão. Na introdução da lição ele conceitua fidelidade: “qualidade ou atitude de quem é fiel, de quem tem compromisso com aquilo que assume”. O dicionário Michaelis vai alem: Fidelidade (sf (lat fidelitate) 1) Qualidade de quem é fiel; lealdade. 2) Semelhança entre o original e a cópia. 3) Afeição constante: A fidelidade do cão. 4) Probidade. 5) Exatidão, pontualidade.
Existe uma série bastante ampla de situações em que o termo fidelidade pode ser usado e todos eles, ou quase todos, constituem uma relação entre partes onde se estabelecem obrigações e direitos. A fidelidade conjugal, comercial, tributária, profissional, todas pressupõem ônus e bônus. Por exemplo, os cartões fidelidade pontuam os clientes de determinada instituição conforme utilizem seus serviços ou adquiram seus produtos. Quanto mais se abastece em um posto de combustível da companhia X, mais pontos se acumulam a quem o faz e esses pontos se traduzem em vantagens. Dessa forma a companhia X procura manter seus clientes, a despeito do preço do combustível que ofereça, em troca de benefícios outros que compensem um eventual valor menor cobrado por outra companhia.
Da mesma forma, um funcionário que cumpre com suas obrigações de probidade, pontualidade, assiduidade etc, espera que seu patrão o recompense com estabilidade, promoções, gratificações etc. Quando se propõem casamento a outrem, oferece-se exclusividade afetiva, sexual, laboral e espera-se o mesmo da outra parte. Dificilmente alguém deixará de buscar o menor preço ao abastecer seu veículo se não perceber nenhuma vantagem em troca. Um funcionário que tem certeza que será dispensado, na maioria das vezes deixa de cumprir seus horários.
Sanções também implicam em fidelidade. Estar em dia com as obrigações tributárias pode trazer vantagens, como a restituição do imposto de renda retido na fonte ou a diminuição do valor a pagar quando do ajuste de contas com o fisco. Contudo muitos cidadãos abririam mão dessas vantagens não fossem as sanções impostas àqueles que deixam de fazê-lo. O temor também implica em fidelidade.
Avançando no conceito, pode-se dizer que fidelidade é a tradução em atitudes dos compromissos formais de um contrato. Ao assumir um cargo, o contratado assume uma série de obrigações previstas no contrato de trabalho. Contudo espera-se que esses compromissos assumidos formalmente se manifestem na prática. Uma carga horária de oito horas diárias expressa no contrato implica em horário de chegar e sair. É fiel ao contrato aquele que, ao chegar às oito da manhã ao seu local de trabalha só retorna para casa às dezesseis, não aquele que assina formalmente o contrato. Não é a certidão de casamento que faz o marido fiel à esposa ou vice e versa. Não é declarar que deve imposto ao fisco que torna o cidadão fiel, mas o ato do pagamento da dívida que assume. Como o dicionário Michaelis defende que a “semelhança entre o original e a cópia” é característica do que possui fidelidade, pode-se dizer que é fiel aquele que é o que diz que é ou o que cumpre com os compromissos assumidos.
A fidelidade de um cão foi usada para ilustrar a “afeição constante” que caracteriza a fidelidade. Neste caso a fidelidade é uma questão de natureza, instinto. Dificilmente um cão avança contra seu dono e aquele que o faz deve ser isolado ou até mesmo sacrificado, porque foi infiel à sua natureza, ao que se espera de um cão. Igualmente ninguém confia em um animal selvagem como um leão ou um tigre porque sabe que, sendo ele fiel à sua natureza, irá avançar sobre qualquer um caso se sinta ameaçado ou faminto. A natureza, aquilo que é natural, é fator de fidelidade. Conta-se, por exemplo, que havendo um incêndio na floresta e os bichos, para fugirem do fogo, precisavam atravessar um riacho. Um sapo vendo um escorpião na margem sem poder atravessar, retorna e oferece-se para ajudá-lo. Ao subir sobre o sapo o escorpião crava-lhe o ferrão no dorso inoculando-lhe veneno mortal. O sapo, desfalecendo, exclama “louco, agora ambos morreremos”, ao que o escorpião responde, “eu sei, mas fui fiel à minha natureza”.
A FIDELIDADE DE DEUS
Deus é louvado ao longo de toda a Escritura por sua fidelidade. E a fidelidade de Deus não está associada nem a vantagens nem a sanções. Não há nada que possamos dar a Deus para que ele seja fiel e nenhuma pena pode ser-lhe imposta. Conforme escreveu Paulo a Timóteo, “se somos infiéis Ele permanece fiel; porque não pode negar-se a si mesmo” (2 Tm 2.13). Dessa forma a fidelidade é um atributo da natureza divina.
Contudo, não se deve utilizar o termo “atributo” como se Deus fosse uma força desprovida de vontade que age de acordo com regras imutáveis. Deus é fiel porque, antes de tudo o deseja e depois porque é bom e justo. Bondade e justiça implicam em fidelidade: “Pedí, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede, recebe; e quem busca, acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á. Ou qual dentre vós é o homem que, se seu filho lhe pedir pão, dará uma pedra? Ou, se lhe pedir peixe, dará uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem?”(Mt 7.7-11). Foi a fidelidade que Deus que deu aos homens a Lei que pressupunha obrigações aos homens em troca da bondade divina, conforme se lê em Deuteronômio capítulo 28. Mesmo sendo o homem um infrator recorrente da Lei, Deus foi fiel a si mesmo e “deu seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3.16) A fidelidade de Deus é gratuita.
DIMENSÃO ESPIRITUAL DA FIDELIDADE
O homem, por sua vez, não é fiel sem interesse e Deus bem o sabe. Tanto em Deuteronômio 28 quanto no evangelho de João 3.16, a fidelidade humana está ligada a recompensas e a infidelidade a sanções. As relações de vantagens e desvantagens relacionadas respectivamente à obediência e desobediência à lei no Deuteronômio chega ao ponto da vertigem. Já em João, as palavras de Jesus são bastante objetivas. Mas tanto em um como no outro, obedecer e crer traz vantagens, assim como desobedecer e não crer traz desvantagens. Se o texto do Deuteronômio é didático e explicito, não deixando margem para dúvidas, o de João, quando lido pela negativa também o é: Deus amou o mundo de tal maneira que enviou seu Filho unigênito para que todo aquele que nele NÃO crê, pereça e NÃO tenha a vida eterna. Dessa forma a fidelidade de Deus se manifesta incondicional ao homem, mas a do homem não. Pode-se inferir que se as vantagens oferecidas por Deus em troca da fidelidade do homem não fossem suficientes, o medo das penas o seriam, da mesma forma que, se o amor de Deus manifesta em Jesus, não se mostra suficiente para tornar o homem fiel, talvez o perecimento na morte eterna o seja. Deus não abandonou o homem por ele haver ter quebrado sua aliança no Éden, nem em Babel, nem nos Juízes, nem no tempo dos profetas porque é fiel a si mesmo, mas sempre ofereceu vantagens pela fidelidade humana.
UMA DIMENSÃO AINDA MAIS ELEVADA
O amor para com Deus, no entanto, extrapola o contrato ou os ônus e bônus humanos. A perfeição da fé, da relação com Deus, deve partir da percepção da vantagem para o desejo da reconciliação total de tal forma que sejamos capazes de nos comportar para com Deus da mesma forma que Ele se comportou conosco: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: por amor de ti somos entregues a morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas essas coisas somos mais que vencedores por aquele que nos amou. Porque estou certo que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades, nem alturas, nem profundidades, nem qualquer criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Rm 8.35-39).
As palavras de Paulo estão em franca oposição às do Deuteronômio. Enquanto lá a obediência afastava a tribulação, o perigo, a fome, a nudez, a angústia e a espada, aqui o amor independe de tudo isso. Da mesma forma que Deus permaneceu fiel a si mesmo nos amando apesar do Éden, de Babel, dos Juízes e dos Profetas, nós temos de mudar a nossa natureza e não deixar que nada nos separe do seu amor. A fidelidade do crente parte do contrato para uma relação completamente desinteressada, conforme é a relação de Deus para conosco. O crente que não conseguir amar a Deus como Deus o ama, jamais conhecerá o amor de Deus. Sua relação para com ele será sempre a do contrato. Essa relação é falha porque o que Deus requer na verdade é uma fidelidade natural, ou advinda da natureza. Foi para mudar a nossa natureza que Ele nos Deus seu filho.
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