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Religião na perspectiva da psicanálise

Por:   •  24/8/2017  •  Trabalho acadêmico  •  2.206 Palavras (9 Páginas)  •  396 Visualizações

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A RELIGIÃO NA PERSPECTIVA DA PSICANÁLISE –  CRÍTICA DE HANS KUNG A FREUD

[1]Marco Antonio Marcon

Conforme avançaram as pesquisas nas áreas da arqueologia e filologia algo inquietou a comunidade científica: a onipresença da Religião nas sociedades humanas. Sigmund Freud, no início do século XX, claramente influenciado pelo avanço da medicina e pelas filosofias do século XIX - em especial de Nietzsche, Feuerbach e Marx - colocou em check a importância real da religião na vida humana. Colocando-a num patamar de adolescência da humanidade e que para os tempos vindouros, de amadurecimento sob as novas perspectivas da psicologia do profundo ou a psicanálise, ela deixaria de ter relevância. Chegou o fim do século XX e com o fenômeno do “retorno do Sagrado” do século XXI pensadores como o teólogo Hans Kung questionam agora a pertinência futura aos escritos do Pai da psicanálise. Então este artigo tem como objetivo expor a crítica de Kung em sua obra “FREUD E A QUESTÃO DA RELIGIÃO”. Entende-se que a religião receberá as lapidações das críticas freudianas, que de forma alguma podem ser descartadas integralmente, visto que expressões atuais de religiosidade expostas a violência constante (como o extremismo do grupo ISIS) podem se encaixar na lógica do Complexo de Édipo; quando nações dominantes se impõe em culturas locais e estas reagem diante da figura de um “pai opressor”. Este “pai” pode vir de fora ou estar no interior da sociedade em questão.

Palavras-chave: Religião; psicanálise; Hans Kung, Sigmund Freud

 

 

 

 

  1. MOTIVAÇÃO DE UM TEÓLOGO PARA ESCREVER SOBRE FREUD

        No princípio de sua obra de crítica sobre as teorias psicanalítica de Sigmund Freud o teólogo Hans Kung parte do privilégio de se viver as consequências das teorias freudianas e principalmente o advento da revolução sexual dos anos 60 e 70. Pensadores que revolucionaram uma época por vezes são colocados num patamar de referenciais absolutos, como se suas teorias permanecessem válidas apesar do teste do tempo. É verdade que submetido a este teste algumas proposições se confirmam e até mudam a direção de comportamentos sociais. Sem dúvidas o diagnóstico de Freud sobre as neuroses ligadas as repressões sexuais foram não somente confirmadas como maléficas, principalmente para as mulheres, como também influenciou consideravelmente a revolução que viria nas décadas seguintes. Levando isto em consideração Kung quer analisar o que aconteceu após as repressões sexuais terem sido libertas e como a psicanálise, a psicologia e a psiquiatria tratam a religião. Ele pergunta se a nova repressão não seria então sobre a religião (KUNG, 2010, p.9). Visto a falta de conteúdos relevantes em pesquisa; sobre religião e psicologia/psicanálise/psiquiatria, assim como a justificativa pela falta de interesse seja porque a própria religião é uma grande responsável por “males” que afligem a psique humana, a qual eles se esforçam em tratar. Isto claro com bases nas teorias freudianas. No entanto, Kung (2010, p.9) expõe a realidade das últimas décadas do século XX onde uma sociedade cada vez mais globalizada e informada se aprofunda nas religiões seja sob perspectivas progressistas ou conservadoras; o fato é que a “morte da religião” não se cumpriu e os profetas do século XIX e início do século XX que inclui Freud ficaram sob suspeita. Isto não impede que Kung (2010, p.10) reconheça a importância das teorias freudianas para o amadurecimento do ser religioso e com isto quer uma aproximação de ambos os estudos; Teologia-Psicanálise (psicologia e psiquiatria) como áreas do conhecimento humano que podem ser complementares para um melhor entendimento do fenômeno religioso. Com isto o diálogo ganha lugar mais importante que um distanciamento nocivo para ambos.

  1. A CRÍTICA DE SIGMUND FREUD A RELIGIÃO

Na segunda metade do século XIX a turbulência entre naturalismo e teologia torna o relacionamento entre fé e ciência algo incompatível. Kung (2010, p.12) descreve o contraste de época entre as decisões da Igreja católica em, por exemplo, declarar o dogma da Imaculada Conceição de Maria (1854) e a “controvérsia do materialismo”, onde as teorias fisiológicas ganham força para explicar a Criação. Assim como para o desenvolvimento do pensamento humano, Deus pode ter se tornado supérfluo e em meio a isto nasce o judeu Sigismund Freud (1986) numa cidade católica de Freiberg, onde apenas 2% eram judeus ou protestantes (KUNG, 2010, p.13).

Ao expor nuances da vida pessoal de Freud e seu contexto histórico Kung realiza uma crítica em sua obra com base nas vivências do pai da Psicanálise, o que possa ter influenciado suas teorias, afinal o próprio Freud revela que seus estudos têm base nas análises de si mesmo. Então permite que outros o critiquem com bases fidedignas. Na perspectiva de Kung (2010, p. 13-17) o que o fundador da psicanálise não teve a oportunidade de ver em si mesmo foi algo que somente as décadas seguintes revelariam; aquelas afirmações de superação da espiritualidade ou religiosidade em prol das ciências naturais se cumpririam de forma incompleta e aquilo que ele estava vivendo estava completo de lacunas. Novas roupagens tornaram as religiões atrativas a novas gerações, muito do que a ciência prometeu não se cumpriu e outras descobertas inesperadas surgiram. No contexto do jovem Freud recém-formado em medicina se tornou improvável que sua forma de pensar não estivesse alinhada com o ateísmo crescente; suas frustrações com a ama católica, perseguições religiosas e imposições rituais da família judaica apenas impulsionaram as teorias de aversão a religião. Ele encontrou muita base real para isto, principalmente ao encontrar na libido seu santo graal.

Em 1905 Freud reuniu suas surpreendentes descobertas sobre a vida sexual humana em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, que nas edições subsequentes foram sempre corrigidas e ampliadas. Para Freud esse é o livro mais importante, ao lado de A interpretação dos sonhos. Por fim, em 1916-17, ele pode escrever Conferências introdutórias sobre psicanálise, uma grande síntese, consistindo de três partes: lapsos, sonhos e teoria geral da neurose, que em 1933 foram completadas por Novas conferências introdutórias sobre psicanálise (KUNG, 2010, p. 28-29).

Ao cruzar suas descobertas sobre as pulsões sexuais; como as religiões controlavam seus adeptos neste quesito e ao visualizar as sociedades como um todo; influenciadas pelas doutrinas religiosas, isto contribuiu para uma lógica seletiva de que a religião era a protagonista pelas repressões. Quando Freud se ocupou de responder as questões; qual a origem da religião, e qual a essência dela, ele viu que há uma interrelação (KUNG, 2010, p.30). No desenvolvimento da teoria sobre o Complexo de Édipo desde a infância onde a criança de primeira infância quer a mãe ou o pai; Freud leva isto para as doutrinas religiosas em especial a judaica-cristã onde um “superpai” cumpre a função repressora, então nasce de demandas psicológicas primitivas a religião que desde sempre fez parte das relações humanas. Este “pai” que controla tudo e pune aqueles que não cumprem suas obrigações na sociedade assume papel importante; seja para o desenvolvimento das neuroses ou o simples controle social. Então a existência de Deus ganha uma única justificativa: o homem o criou para auxiliar suas próprias demandas psíquicas e assim se cria o Totem. Basicamente “uma explicação psicológica para religião” (KUNG, 2010, p.35).

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