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A MULHER NA REVOLUÇÃO FARROUPILHA

Por:   •  2/9/2020  •  Artigo  •  1.520 Palavras (7 Páginas)  •  411 Visualizações

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E.E.E.M Ernesto Alves de Oliveira

HÉRICA EDUARDA DE BASTOS RAMOS

A MULHER NA REVOLUÇÃO FARROUPILHA

Santa Cruz do Sul, RS

2018

A mulher na Revolução Farroupilha

A intensa Revolução Farroupilha que durou por quase uma década (1835-1845), influenciou a vida social, econômica e política de muitas famílias e foi por elas influenciada também. Durante esse período de combates e muita tristeza, os papéis familiares foram postos a prova por conta do enfrentamento da situação que passavam. Alguns documentos, arquivos e jornais da época nos deram a oportunidade de conhecer melhor o papel e a importância que a mulher teve neste meio.

Ocorrida no Sul do brasil, a Revolução Farroupilha ou também conhecida como Guerra dos Farrapos configurou-se como a mais longa revolta brasileira até hoje. Foi liderada pela classe dominante, formada por fazendeiros, e utilizaram como apoiadores as camadas mais pobres para o processo de luta. As principais causas foram os altos impostos cobrados sobre os principais produtos rio-grandenses, como o charque, couro e a erva-mate. Após a incessante luta entre os Farroupilhas e o Governo Imperial, os Farroupilhas aceitaram o acordo proposto por Duque de Caxias, e a Revolução Farroupilha terminou. A partir disso, vou apontar uma breve explanação a posição da mulher em busca do caminho das inúmeras formas de enfrentar imprevistos, desafios e lutas para a construção da história.

Alguns temas deste período não foram suficientemente trabalhados. A participação da mulher e a importância dela é um deles, com o desaparecimento deste assunto, embora algumas ações se sobressaiam neste espaço. ”Para escrever a história, diz Michelle Perrot, são necessárias fontes, documentos, vestígios. E isso é uma dificuldade quando se trata da história das mulheres. Sua presença é frequentemente apagada, seus vestígios, desfeitos, seus arquivos, destruídos. (2007:21)”. Apesar da pouca visibilidade da mulher durante a Revolução Farroupilha, cada qual enfrentou ao desafio da sua maneira, dentro de seus talentos. Juntas elaboraram o que hoje se reconhece como pré-feminismo. Afinal, quais papéis desempenharam essas mulheres?

  • As escravas: tiveram função na parte da construção e ordenação de recursos alimentícios ou bélicos, chegando a pegar em armas. Alguns documentos chegam a informar o valor de escravos (as) e suas atribuições ocupacionais.
  • As guerreiras: acompanhavam seu homem para a guerra, assim como as índias guaranis que levavam seus filhos. No final da guerra, o soldado poderia escolher entre levar a índia para casa, ou abandonava, ou ficava com ela e as crias, concorrendo para a miscigenação.
  • Costureiras do Exército: naquele tempo a costura constava as “prendas domesticas” que eram ensinadas quando moças para confeccionarem seu enxoval. Na Guerra Civil todas poderiam se candidatar a tarefa do Artesanal, sendo profissionais ou amadoras, legistas ou farroupilhas, afinal, era pago por peça. Era pouco, mas muito bem vindo naquela situação. Costuravam a mão, peça por peça.
  • As estancieiras: apesar de serem poucas, obtiveram um cargo importante no decorrer da Guerra, no lugar dos maridos. As fazendas de criação forneciam dinheiro para alimentação e deslocar a tropa e pagamento de armas e munições que vinham de Montevidéu. Algumas mulheres como Olinda de Freitas só liberava os animais mediante a nota assinada. Bernardina Barcelos de Almeida administrou a fazenda, a charqueada e a casa de exportação em Pelotas, enquanto ocorria a Guerra, abriu uma escola para os filhos e os vizinhos.
  • As imigrantes alemãs: foi um grupo de mulheres fugidas da guerra napoleônica e imigraram entre 1824-1830. No minifúndio agrário de S. Leopoldo começaram a integrar o trabalho familiar. Educavam os filhos, cuidavam a casa, a horta e o jardim; ordenhavam a vaca, costuravam e executavam o artesanato trazido da Europa. Com o comércio crescendo inúmeros barqueiros abasteciam o mercado de Porto alegre em rústicas lanchas. Algumas mulheres ganharam destaque nessa arriscada profissão: Maria Weierbach navegou parelho com o marido; Catarina Voigt e Bárbara Petri trafegaram desde 1841, quando os revolucionários interiorizaram a guerra; Catharina Roitmann conduziu passageiros desde 1843; Sebastião e Mariana Diehl iniciaram em 1828. Sebastião reunia produtos no armazém do Passo de S. Leopoldo e Mariana os colocava em Porto Alegre; corajosa, enfrentou ameaças até que revolucionários a forçaram a interromper.
  • Mulheres ligadas à Casa da Roda: a mulher nessa época não tinha opção, ou viveria na casa do pai ou do marido, sem nenhum tipo de remuneração pelo trabalho feito. Durante a guerra a situação econômica piorou muito levando os recém nascidos a Roda dos Expostos que desde 1834 funcionava como uma roda inserida na parede da Santa Casa de Misericórdia. A criança quando colocada na roda era girada, conduzindo a criança para o interior da casa. A porteira ficava responsável por recolher a criança na manhã seguinte e passava a regente da casa, que anotava informações como enxoval, bilhete e características caso alguém procurasse-a. Os padrinhos se preparavam para no batismo, salvar a alma do menor e por vezes o criavam. Os criadores ou criadeiras ficavam com a criança, na cidade ou na zona rural, mais saudável. Devolviam os meninos aos sete anos e a S. Casa os encaminhava para aprendizado de uma profissão. As meninas eram devolvidas com oito anos, eram alfabetizadas e aprendiam “prendas domésticas”; com enxoval, casavam adolescentes.
  • Professoras pioneiras: Em 1838, o ministro Domingos José de Almeida decretou que o ensino elementar seria obrigatório em toda a República Rio-Grandense, porém a penúria financeira trazida pela guerra fez com que não houvessem educandários. Cada professora mantinha a “aula” em sua residência e raramente ensinava mais de duas ou três matérias, todas informavam o que era ensinado na aula. Florisbela Flores da Conceição, em 1835 ensinava primeiras letras, aritmética, gramática nacional e “lavouras do sexo”. Anna Christina Tybling ensinava alemão, português, ler, escrever, contar e prendas domésticas.  
  • Intelectuais pioneiras: algumas intelectuais da época como Delfina Benigna da Cunha, Maria Josefa Barreto Pereira Pinto, Nísia Floresta Brasileira e Ana de Barandas traziam denúncias do lado sombrio da Revolução, ridicularizam os “pretensiosos políticos daquele tempo” com sátiras incisavas, cheias de erudição e poesia e lutavam por mais cultura para a mulher.

A Revolução Farroupilha gerou uma sobrecarga de obrigações na mulher daquele decênio. A imagem feminina foi sendo construída ao longo dos séculos, já que a partir da segunda metade do século XIX é que elas realmente foram respeitadas e vistas como pessoas.

  No séc. XVIII ainda se discutia se as mulheres eram seres humanos como os homens ou se estavam mais próximas dos animais irracionais. Elas tiveram que esperar até o final do séc. XIX para ver reconhecido o seu direito à educação. (...) No séc. XX descobriu-se que as mulheres têm uma história (...). Também ficou claro, finalmente, que a história das mulheres podia ser escrita (Perrot, 2007: p.11).

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