A Desigualdade Social E Racismo No Brasil
Por: anacadengue • 25/5/2023 • Trabalho acadêmico • 1.290 Palavras (6 Páginas) • 88 Visualizações
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Faculdade de Letras
Teoria Literária III - 2022.1
Professora: Danielle Corpas
Ana Beatriz Pereira Cadengue
DRE: 119105232
A DESIGUALDADE SOCIAL E RACISMO NO BRASIL
(texto acadêmico baseado nos contos reunidos em “O Sol na Cabeça”, livro de Geovani Martins).
Pode-se afirmar que “O Sol na Cabeça”, de Geovani Martins, é um livro de aspecto social que aborda diversas questões sociais e raciais, Geovani conta em seu livro sobre as dificuldades que pessoas negras sofrem diariamente pela sua raça e nível social. É considerável lembrar que Geovani foi um homem periférico com que teve uma infância desvantajosa em comparação a tantos escritores literários, principalmente brasileiros, e justamente por conta de sua experiência de vida no caminho literário juntamente a sua vida pessoal que somou para composição dos treze contos de sua obra. O livro conta em treze contos a história de pessoas periféricas e seus respectivos cotidianos, mostrando a dificuldade e a naturalidade em que é vivenciada.
Vale pôr em evidência, a forma como o autor trabalha com a variação da língua diantes dos contos, ele busca inúmeras maneiras de utilizar a linguagem para que se encaixe perfeitamente com a história contada, principalmente utilizando gírias e variações da língua utilizadas na maioria das vezes nas favelas do Rio. Colocando em pauta assim, o preconceito linguístico que é muito presente nos dias de hoje. A fala representa da onde você veio, e na maioria das vezes é o gatilho para outros preconceitos como o racial e social. Tendo em vista que o livro mantém uma linguagem informal e coloquial, apresentando gírias e diálogos que ficam longe do padrão, particularmente pude notar uma alternância a cada conto, uns com gírias e falas bastante informais e outros que se aproximam mais da norma padrão, isso se dá por conta de cada história que o conto fala, cada personagem e sua característica única.
O segundo conto, “Espiral” que foi o conto escolhido para análise, pois lendo o livro julguei como um dos contos mais pesados, no texto conta como foi a infância de um jovem periférico da Zona Sul, considerando que os moradores das favelas da Zona Sul do Rio de Janeiro sofrem esse preconceito ainda um pouco mais por estarem mais próximos da elite brasileira, que os julgam como não merecedores de estarem frequentando os mesmos lugares. A história vai ficando cada vez mais pesada e complexa de um modo que acaba virando uma bola de neve, uma espiral.
Trecho I - “Espiral”
As pessoas costumam dizer que morar numa favela de Zona Sul é privilégio, se
compararmos a outras favelas na Zona Norte, Oeste, Baixada. De certa forma, entendo esse pensamento, acredito que tenha sentido. O que pouco se fala é que, diferente das outras favelas, o abismo que marca a fronteira entre o morro e o asfalto na Zona Sul é muito mais profundo. É foda sair do beco, dividindo com canos e mais canos o espaço da escada,
atravessar as valas abertas, encarar os olhares dos ratos, desviar a cabeça dos fios de energia elétrica, ver seus amigos de infância portando armas de guerra, pra depois de quinze minutos estar de frente pra um condomínio, com plantas ornamentais enfeitando o caminho das grades, e então assistir adolescentes fazendo aulas particulares de tênis. É tudo muito próximo e muito distante. E, quanto mais crescemos, maiores se tornam os muros (MARTINS, 2018, p.18).
Para entender o papel do “eu” no texto, é necessário antes entender quais são as suas motivações e sua história, tecendo um pano de fundo inerente ao narrador. O narrador é residente de uma favela da Zona Sul do Rio de Janeiro, o que para muitos é visto como vantagem pela proximidade com uma área nobre da cidade. No entanto, o narrador destaca um viés interessante: conviver com as desigualdades é muito difícil quando vistas de frente, partindo de um local tão próximo. A distância física pode ser pequena, mas a social representa um chamado “abismo” pelo narrador. Então, o narrador passa a utilizar um escape, uma forma de se defender desse ambiente ameaçador, fruto da desigualdade social presente. O termo ameaçador é, aparentemente, a expressão utilizada pelos moradores privilegiados da Zona Sul ao se referir ao narrador. Ao longo da história ele resolve, então, transformar-se numa figura, que, de fato, representa um papel ameaçador, com o intuito de “estudar” a distância entre os dois mundos.
Proximidade territorial e distância social são as noções que elucidam as situações cotidianas citadas, as quais se davam em certo espaço urbano, um dos bairros ricos da Zona Sul carioca. Apesar de serem próximos, o colégio particular e a escola do narrador, a distância social entre os alunos de um e outra motiva incompreensões de ambas as partes. O narrador não entendia o tremor causado por seu “bonde” dos meninos do colégio particular. O foco a partir de agora estará, como nas experiências da infância, nas noções de perto e longe com fundamento em relações sociais brasileiras, o corte é brusco: antes o narrador criança que nada entendia das reações intimidadas dos outros na rua; agora o narrador que assume postura refletida com a qual confronta certo consenso a respeito do assunto em questão: morar nas favelas.
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