A Opção Cultural Especial para o Jornal Opção

- Opção Cultural - Especial para o Jornal Opção

(Edição 1980 de 16 a 22 de junho de 2013)

Crônica: Amor ciborgue

Roblys Rodrigues

Se a revolução tecnológica nos traz facilidade e comodidade, fico imaginando 0 futuro... a sociedade preocupada em ajudar milhares de indecisos compulsivos a se decidir por um verdadeiro grande amor de suas vidas. Com isso, serem mais felizes, mais equilibrados, enfim, mais produtivos. Ora, imagine que você esteja em uma festa e conheça aquela garota. A situação até me faz lembrar daqueles velhinhos sentados na varanda, recordando o primeiro encontro. Bem, tudo me parece meio que planejado: acontece o clássico esbarrão, quando alguém se afasta e sem querer derruba a tua bebida. Vocês trocam olhares, ela se desculpa com um sorriso e sai a procura das amigas. Nunca se viram antes. Seria uma paquera convencional ou um encontro do destino? E se fosse a tua Julieta? Realmente não dá para saber. Neste caso, é comum que um Romeu qualquer não a procure mais na festa, já que fora traído por uma mera e doce impressão do momento. Entretanto, uma coisa implantada no cérebro das pessoas – um um tipo de neurônio artificial. Um recurso tecnológico capaz de facilitar essa comunicação (principalmente, obter informações mais confiáveis). Algo como telepatia neuro-chip. Afinal, o homem pós-moderno, farto das incertezas e idiossincrasias da modernidade líquida, não vê mais utilidade na conquista convencional. Nessa coisa chamada descoberta... Na poesia dos tempos dos avós....

Por conseguinte, essa sua sintonia "telepática" capta o sinal da garota fornecendo a você informações estratégicas sobre suas preferências musicais, qual time ela torce e até o lado da cama que costuma dormir. Tudo muito rápido. A conexão também diria que é 95% compatível com o seu perfil. Hum... Cada qual no seu canto, colhendo uma variedade de análises mirabolantes um do outro. Contudo, gostaria de esclarecer um detalhe: a sintonia funcionaria apenas com casais que, de certa forma, desejam se conhecer. Já o nível das informações entre si, caso a caso, dependeria do grau da compatibilidade estabelecida.

Quanto mais diferentes, mais básico seria. Além disso, não poderia ler nossos pensamentos. Nem mesmo aquele seu segredo do final de semana. O processo funcionaria a partir de leituras do caráter e de padrões o comportamento ao longo de nossas vidas.

Mesmo assim, bateu em você certa dúvida: "Ah! 95% não é o suficiente... Acho que vou esperar a gata 100% Com tanta facilidade disponível, até gostaria de entender porque somente agora decidiu-se por uma namorada? Poderia ter feito isso antes? Quem sabe – diria – quisesse curtir umas erradas primeiro. Namorar alguém completamente diferente! Não saber antes de saber... sei lá... Sentia-se despreparado para algo substancial.

Por conseguinte, essa sua sintonia "telepática capta o sinal da garota fornecendo a você informações estratégicas sobre suas preferências musicais, qual time ela torce e até o lado da cama que costuma dormir. Tudo muito rápido. A conexão também diria que é 95% compatível com o seu perfil. Hum..

Cada qual no seu canto, colhendo uma variedade de análises mirabolantes um do outro. Contudo, gostaria de esclarecer um detalhe: a sintonia funcionaria apenas com casais que, de certa forma, desejam se conhecer. Já o nível das informações entre si, caso a caso, dependeria do grau da compatibilidade estabelecida

Quanto mais diferentes, mais básico seria. Além disso, não poderia ler nossos pensamentos. Nem mesmo aquele seu segredo do final de semana. O processo funcionaria a partir de leituras do caráter e de padrões do comportamento ao longo de nossas vidas.

Decidido a encontrar aquela que se aproximasse mais desta porcentagem, tira do bolso uma coisa semelhante a um chaveiro, aperta um botão projetando um teclado e um monitor sobre uma mesa, do tip holograma... Dá para imaginar do que se trata. Pesquisa a sua alma-gêmea em vários sites que comercializam serviço de filtragem de perfis. Descobre que ela mora em uma aldeia na Tailândia! Mas, existem tratados internacionais que restringem casamentos entre pessoas de outros países. Por puro nacionalismo, onde confluem questões políticas, econômicas, culturais e sociais, que preservam manutenção do Estado Nacional, diante da febre do fluxo imigratório provenientes do avanço tecnológico sua globalização. Seria uma tremenda burocracia casar-se com a tailandesa. Cem anos de processo, no mínimo. Hum... pensa melhor.