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AS TRÊS RACIONALIDADES: Tecnológica, ética e política.

Por:   •  5/12/2016  •  Artigo  •  5.048 Palavras (21 Páginas)  •  323 Visualizações

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António Inácio Rocha Santana

AS TRÊS RACIONALIDADES: tecnológica, ética e política.

Resumo

A reflexão sobre a racionalidade tecnológica, ética e política na sociedade contemporânea, alimentada pelas aspirações tecnológica e sociais, se colocada em nível radical, necessita, previamente, passar pelo estudo acurado de seus pressupostos; respondendo às questões como: o que são as três racionalidades? Que exemplos existem para descrever as três racionalidades? Que forma de interação funciona melhor entre as três racionalidades? Que formas não funcionam bem? A economia é uma forma de sociedade ou é apenas a forma como fazemos negócios com mais eficiência? O que se segue ao outro, a sociedade ou a economia?

 

Palavras-chave: Racionalidade tecnológica; Racionalidade ética; Racionalidade política.

Introdução

Os progressos económicos que hoje conhecemos são inseparáveis da tecnologia. O pensamento técnico tem tomado de assalto toda esfera de vida, relações humanas, políticas e assim por diante. Mas como esse progresso não é linear e não pode ser pensado somente pela sua vertente técnica, devemos considerar outras perspectivas que concorrem no campo de tomada de decisões relativas ao desenvolvimento. A articulação do fator tecnológico aos fatores político e ético é uma possibilidade aberta para um desenvolvimento económico equilibrado e menos daninho ao ambiente.

Partimos do pressuposto de que um desenvolvimento alternativo é possível havendo diálogo entre o pensamento técnico, político e ético.

Deste modo, este artigo discorre sobre a necessidade de diálogo entre a racionalidade tecnológica ou técnica, a racionalidade política, a racionalidade ética, as formas de interação entre as três racionalidades mencionadas, e a primazia entre sociedade e economia.

O desenvolvimento económico tem estado na origem de processos de transformação social de magnitude global, mas com profundas consequências nos ecossistemas naturais. O balanço dos efeitos colaterais ou secundários do desenvolvimento económico, até agora feito, mostra resultados negativos que ferem o ambiente. O desenvolvimento baseado exclusivamente na tecnologia tem se revelado ameaçador para a sobrevivência do próprio homem e da humanidade, pelo seu impacte social e ecológico negativo. Existe um consenso que a tecnologia per se não pode ser a única via para remover os obstáculos que emperram os processos de desenvolvimento, existem outros valores que devem ser considerados, quais sejam: éticos, culturais, históricos, ecológicos, etc.

As três racionalidades

Racionalidade é um pensamento que se serve da razão para executar, realizar ou transformar um objeto em função de uma necessidade. O homems sempre usou a razão para remover os obstáculos que a natureza lhe colocou na frente; fê-lo, nos primórdios da sociedade humana, com instrumentos rudimentares e, na sociedade atual, com instrumentos tecnológicos de alta precisão. O que permitiu ao homem melhorar as condições de produção e reprodução social. É uma ideologia referida a determinadas maneiras de agir associadas às escolhas e tomadas de decisão. Tende a criar modelos de pensamento que estabelecem regras de atuação e de conduta (que permitem avaliar, corrigir, discernir, refletir, planejar, experimentar, repetir, direcionar, orientar, elaborar e julgar), métodos (indução, dedução, interpretação e compreensão), e critérios de verdade ou validade (para explicar, argumentar e inferir).

A racionalidade é transversal a todos os campos e áreas do saber, e tem a devida correspondência de seu valor técnico, ético, político, económico, entre outras, intrinsecamente referida a razão no ato de avaliar, julgar, discutir, tomar decisões sobre um manancial de questões diversas que atravessam o nosso quotidiano. Mas, no momento da escolha, a opção escolhida depende muito de quais valores e fins se consideram importantes.

A seguir vamos apresentar alguns exemplos que, a nosso ver, retratam as três racionalidades.

Racionalidade tecnológica: o modelo de desenvolvimento atual.

O relatório denominado Nosso Futuro Comum, apresentado na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, no Rio de Janeiro, Brasil, foi o detonante de vários outros relatórios que davam conta do estado de deterioro progressivo do ambiente que o modelo de desenvolvimento industrial tem estado a provocar, gerando um debate nos círculos políticos e académicos que promoveram não somente a preocupação sobre o estado dos recursos mas, mais importante, o surgimento da consciência sobre a crise ecológica.

O essencial dessa conferência foi apresentado o que vários autores denominam “dois projetos de mundo” que, em substância, são duas vias de modernização radicalmente diferentes: o modelo de desenvolvimento atual e o modelo desenvolvimento sustentável.

A primeira via, que a seguir se discute, afinca-se na lógica da racionalidade tecnológica que consiste na tese de que o crescimento económico é ilimitado, propugnado por Adam Smith. A segunda via, que se explica mais adiante, é denominada desenvolvimento sustentável, resultado de uma sequência de reflexões realizadas num período aproximado de três décadas.

Entretanto, o relatório conhecido como os limites do crescimento (Meadows, 1972), publicado em 1986, tendo como suporte de base o livro do referido autor, demonstrava a irracionalidade da tese da racionalidade técnica. A tese dos limites do crescimento, resumida em sua dimensão pragmática, advoga que a humanidade deve levar a cabo políticas de crescimento da população, redução da produção e abrandamento no uso de recursos, a fim de evitar o colapso ambiental, porque não é possível um crescimento ilimitado com recursos limitados ou finitos.

Seguindo a lógica dos limites do crescimento, a humanidade está consumindo rapidamente os recursos finitos da terra. As reservas de petróleo, gás natural e outras fontes de energia há-de reduzir consideravelmente, rapidamente ou não, em função das políticas que os países ricos adotem e da velocidade de industrialização dos países menos desenvolvidos.

Toledo (2000), constatou que a medida que o tempo passa e vai chegando um número maior e mais preciso de relatórios à mesa dos analistas, as ameaças, anomalias e acidentes da denominada “sociedade de risco”, perpassam as fronteiras regionais e nacionais, até chegar a adquirir uma dimensão global. Nas duas últimas décadas do século XX, passou-se de catástrofes pontuais de caráter local ou acidentes regionais sem consequências expansivas, mas com consequências mais além de sua área de origem como, por exemplo, o acidente de Chernobyl, o derrame de petróleo em Alaska, o escape de gases tóxicos em Bhopal, Índia, ou (acidentes locais ou regionais do novo milénio) o derrame de petróleo em Galícia, Espanha, o recente acidente nuclear de Fukushima, resultado de uma série de falhas de equipamentos da central nuclear, a eventos de dimensão global.

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