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Bobbio

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Por:   •  12/4/2013  •  Resenha  •  1.210 Palavras (5 Páginas)  •  412 Visualizações

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abalos, que partiram os fios à continuidade da sua evolução.

Ao tempo em que o célebre falar paulista reinava sem contraste sensível, o caipirismo não existia

apenas na linguagem, mas em todas as manifestações da nossa vida provinciana. De algumas décadas

para cá tudo entrou a transformar-se. A substituição do braço escravo pelo assalariado afastou da

convivência cotidiana dos brancos grande parte da população negra, modificando assim um dos fatores

da nossa diferenciação dialetal. Os genuínos caipiras, os roceiros ignorantes e atrasados,

começaram também a ser postos de banda, a ser atirados à margem da vida coletiva, a ter uma

interferência cada vez menor nos costumes e na organização da nova ordem de coisas. A população

cresceu e mesclou-se de novos elementos. Construíram-se vias de comunicação por toda a parte,

intensificou-se o comércio, os pequenos centros populosos que viviam isolados passaram a trocar

entre si relações de toda a espécie, e a província entrou por sua vez em contato permanente com a

civilização exterior. A instrução, limitadíssima, tomou extraordinário incremento. Era impossível

que o dialeto caipira deixasse de sofrer com tão grandes alterações do meio social.

Hoje, ele acha-se acantoado em pequenas localidades que não acompanharam de perto o movimento geral

do progresso e subsiste, fora daí, na boca de pessoas idosas, indelevelmente influenciadas pela

antiga educação. Entretanto, certos remanescentes do seu predomínio de outrora ainda flutuam na

linguagem corrente de todo o Estado, em luta com outras tendências, criadas pelas novas condições.

Essas outras tendências irão continuando, naturalmente, a obra incessante da evolução autônoma do

nosso falar, que persistirá fatalmente em divergir do português peninsular, e até do

português corrente nas demais regiões do país. Mas essa evolução já não será a do dialeto caipira.

Este acha-se condenado a desaparecer em prazo mais ou menos breve. Legará, sem dúvida, alguma

bagagem ao seu substituto, mas o processo novo se guiará por outras determinantes e por outras leis

particulares.

Desapareceu quase por completo a influência do negro, cujo contato com os brancos é cada vez menor

e cuja mentalidade, por seu turno, se modifica rapidamente. O caipira torna-se de dia em dia mais

raro, havendo zonas inteiras do Estado, como o chamado Oeste, onde só com dificuldade se poderá

encontrar um representante genuíno da espécie. A instrução e a educação, hoje muito mais difundidas

e mais exigentes, vão combatendo com êxito o velho caipirismo, e já não há nada tão comum como se

verem rapazes e crianças cuja linguagem divirja profundamente da dos pais

analfabetos.

Por outro lado, a população estrangeira, muito numerosa, vai infiltrando as suas influências, por

enquanto pouco sensíveis, mas que por força se farão notar mais ou menos remotamente. Os filhos dos

italianos, dos sírios e turcos aparentemente se adaptam com muita facilidade à fonética paulista,

mas na verdade trazem-lhe modificações fisiológicas imperceptíveis, que se irão aos poucos

revelando em fenômenos diversos dos que até aqui se notavam.

O que pretendemos neste despretensioso trabalho (de que pedimos escusa aos

componentes) é - caracterizar esse dialeto "caipira", ou, se acham melhor, esse aspecto da

dialetação portuguesa em S. Paulo. Não levaremos, por isso, em conta todos os paulistismos que se

nos têm deparado, mas apenas aqueles que se filiam nessa velha corrente popular.

É claro que não é esta uma tarefa simples, para ser levada a cabo com êxito por uma só pessoa,

muito menos por um hóspede em glotologia. Mas é bom que se comece, e dar-nos-emos por

satisfeito, se tivermos conseguido fixar duas ou três idéias e duas ou três observações

aproveitáveis, neste assunto, por enquanto, quase virgem de vistas de conjunto, sob critérios

objetivos. Quanto aos erros que, apesar de todo o nosso esforço, nos hajam escapado, contamos com a

benevolência dos entendidos.

* * *

Fala-se muito num "dialeto brasileiro", expressão já consagrada até por autores notáveis de

além-mar; entretanto, até hoje não se sabe ao certo em que consiste semelhante dialetação, cuja

existência é por assim dizer evidente, mas cujos caracteres ainda não foram discriminados. Nem se

poderão discriminar, enquanto não se fizerem estudos sérios, positivos, minuciosos, limitados a

determinadas regiões.

O falar do Norte do pais não é o mesmo que o do Centro ou o do Sul. O de S. Paulo não é igual ao de

Minas.

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