Reflexões Sobre ESG
Por: CR1948 • 17/8/2023 • Artigo • 734 Palavras (3 Páginas) • 79 Visualizações
Reflexões sobre ESG
Carlos Roxo
O termo ESG (Environmental, Social and Governance) tornou-se um acrônimo com vida própria, descolando-se às vezes do seu conceito e chegando a ser usado como sinônimo de sustentabilidade empresarial e gerando inúmeras polêmicas, como sobre a repartição de benefícios entre shareholders e stakeholders.
O conceito de ESG resultou das transformações da sociedade que tornaram a sustentabilidade uma nova dimensão dos negócios, gerando pressões sobre as empresas que precisam ser respondidas dentro de uma visão sistêmica, que considere os aspectos ambientais, sociais e de governança como sinérgicos, buscando a geração de valor a longo prazo, tanto para os acionistas quanto para os stakeholders.
Os críticos do conceito de ESG afirmam que esta abordagem só beneficia os intermediários, e que o certo seria continuar com o “business as usual”, visando beneficiar apenas os shareholders, que são investidores, e não beneméritos.
Estes argumentos estão ao mesmo tempo certos e errados.
Os certos estão no fato de que as empresas só serão sustentáveis enquanto beneficiarem os shareholders, assim como na forma errada como o ESG é por vezes usado, como um modismo, no atacado, e não como um conceito de gestão. Esse modus operandis divide as empresas em grandes grupos, segundo indicadores pasteurizados, fazendo comparações entre empresas ESG e não ESG ao longo de períodos determinados. Muito comumente as empresas ESG mostram melhor desempenho, não porque são ESG, mas porque são empresas melhores.
Os errados estão em não considerar, que mesmo sob esta ótica, as condições para que os shareholders tenham seu ganho maximizado mudaram, em um mundo bastante diferente do da época de Milton Friedman.
O sistema antigo tinha poucos incentivos para olhar o longo prazo, pois poucos viviam muito tempo após a aposentadoria e seus investimentos lhes garantiam segurança. Já atualmente o tempo de vida após a aposentadoria aumentou significativamente, e a manutenção do padrão de vida requer investimentos que dêem retorno de longo prazo.
Outra questão é sobre as condições que garantem um retorno de longo prazo aos shareholders, que mudaram bastante. A maior ameaça são as mudanças climáticas, que demandarão transformações inexoráveis na matriz energética, processos de produção e produtos, que afetarão toda a sociedade – gerando vencedores e perdedores.
Uma das discussões no momento é sobre empresas petrolíferas que apostaram todas as suas fichas no petróleo, possuindo imensas reservas que correm o risco de jamais serem usadas. Esta estratégia tem feito com que a rentabilidade das ações de algumas delas tenha se reduzido nos últimos anos, em especial quando comparada a de empresas que vem investindo em energias renováveis.
A mesma discussão está ocorrendo no setor automobilístico. A previsão geral é que os carros elétricos se imporão em prazo não muito longo, quando se tornarão mais baratos. Isso traz para os shareholders uma questão primordial: qual será o retorno a longo prazo das empresas que concentrarem os investimentos em veículos com motores à explosão?
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