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Resenha Crítica da Obra Musical Balada de Gisberta

Por:   •  1/6/2015  •  Trabalho acadêmico  •  935 Palavras (4 Páginas)  •  625 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE NACIONAL DE DIREITO

TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO DO TRABALHO (TRABALHO E ARTE) – 2014.2

Prof.º Rodrigo Carelli

Natan Lima

Resenha Crítica da Obra Musical “Balada de Gisberta”

Resenha Crítica da Obra Musical “Balada de Gisberta”

Compositor: Pedro Abrunhosa / Intérprete: Maria Bethânia / Ano: 2010

        “(...) trouxe pouco, levo menos. A distância até o fundo é tão pequena, no fundo, é tão pequena (...)”. Com estas trágicas e viscerais palavras, Pedro Abrunhosa, escritor português da mais notória sensibilidade, consagrou a Balada de Gisberta em todo o mundo, como um hino de indignação e complacência a todos os que lutam por igualdade, respeito e dignidade.

        Gilberto Salce Junior, brasileiro, transexual e desempregado, vítima da triste realidade de preconceito e precariedade enfrentada por milhões de trabalhadores em todo o mundo, decidiu por aventurar-se em Portugal, mais especificamente, no Porto. De logo, apresenta-se como Gisberta, nome pelo qual seria conhecida durante os anos em que trabalharia como garota de programa e experimentaria da mais triste e ignóbil experiência de ódio da sua vida. Abrunhosa descreveu, genialmente, toda a trajetória de Gisberta do luxo à pobreza, dos “palácios” às “bermas da estrada”,  da infeliz que “com sedas matou” e “com ferros morreu”. A história de Gisberta confunde-se com uma íntima realidade brasileira de descaso e preconceito nas relações de trabalho. Ela representa as inúmeras vidas que morrem a cada dia por sujeitarem-se a um trabalho de alto risco, subjugadas pelo hipócrita espectro social e flageladas pelo pujante, sombreado e irretocável preconceito com os que têm o sexo como ofício.

Esta belíssima obra musical escancara a inóspita realidade machista, dominadora, patriarcalista e absolutamente hipócrita das sociedades contemporâneas, ao gritar a história de uma transexual que deixou o seu país em busca do mais substancial ato humano de sobrevivência e que fora apedrejada e desprezada pelos mesmos os quais dela tiveram incontáveis noites de prazer. Lamentável realidade! O trabalho que a sustenta é o mesmo que a mata. Revestir-se de sonhos é, lato sensu, utópico, quando se analisam as relações contemporâneas de trabalho e percebe-se que a dignidade humana e um futuro razoavelmente estável e seguro não necessariamente serão alcançados através deste que deveria ser o meio mais justo e de direito. Gisberta é, provavelmente, uma das mais fieis personificações da proximidade quase que simbiótica entre o preconceito de gênero e a obscuridade da dinâmica atual de trabalho, que tende a coisificar a existência humana, dada a sua irrepreensível velocidade e imprescindibilidade à sobrevivência. A sua condição transexual, aliada à sua profissão e à rígida e discriminante estrutura de trabalho atual fizeram da sua história de vida, ainda que trágica, um exemplo de luta contra a transfobia e as inóspitas condições de trabalho e reconhecimento das atividades dos profissionais do sexo.

        Esta delicada obra de Pedro Abrunhosa retrata com verdade e musicalidade toda a dor sentida por esta jovem ao deparar-se com o seu trágico fim, com o inevitável descaso, a ruína dos seus sonhos de grandeza, o fenecer da sua beleza exterior, a perda da própria identidade ao ser chamada de “tu” e, infelizmente, uma lamentável condição de trabalho que, de tão pouco apreciada, beira a banalidade e descaracteriza o nobre sentido de realização pessoal e profissional do trabalho.

Assim como Gisberta teve a sua “primeira morte” ao ser brutalmente apedrejada e jogada no fundo de um poço nos seus últimos e debilitados dias de vida, agravados pelos efeitos da Aids e de todas as agressões que sofreu, esta “primeira morte” pode ser analogicamente transportada à realidade de trabalhadores em todo o mundo, que vivem em verdadeiros regimes de escravidão, explorados e postos ao esgotamento das suas forças físicas e psicológicas, que experimentam uma vida praticamente morta, amarga, sem qualquer sentido, que veem “o futuro que parte”, pois “apagaram-se as luzes” e “o céu não pode esperar”.

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