Resenha Documentário Notícias de Uma Guerra Particular
Por: Domenico Junior • 2/12/2018 • Resenha • 965 Palavras (4 Páginas) • 557 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Faculdade de Direito
Domenico Russo Junior
Criminologia – Roberta Pedrinha
Notícias de uma Guerra Particular (1999)
Notícias de uma Guerra Particular é um documentário brasileiro realizado pelo cineasta João Moreira Salles e pela produtora Kátia Lund. Sendo lançado em 1999, aborda diferentes facetas acerca das histórias envolvendo o tráfico de drogas e a sua repressão por parte do Estado, bem como mostrando a visão dos moradores que vivem dentro desse fogo cruzado.
O documentário, inobstante sua data de lançamento, já beirando os 20 anos, traz uma discussão ainda presente no dia a dia fluminense, qual seja, até que ponto a guerra às drogas traz segurança e é efetiva no combate à criminalidade? Foram dados três enfoques e abordarei cada um de forma individual, tentando realizar um paralelo entre eles.
Por parte dos traficantes, é importante salientar que há que se desconstruir a imagem de que há uma entrada para o crime simplesmente é desejo dele, principalmente dos jovens, mas por conta da situação em si. Entre outros fatores, são preponderantes o status e a vantagem financeira, uma vez que costumam ser moradores de locais ignorados pelo poder público, sem muita perspectiva de melhora no futuro.
No documentário, havia a menção ao salário mínimo da época — R$ 112,00 —, sendo posto em contraponto com a remuneração oferecida pelo tráfico de drogas, no importe aproximado de R$ 300,00 semanais, mais que dez vezes o valor do salário mínimo. Sendo, assim, a única forma de atender aos anseios materiais dos envolvidos, principalmente no que tange ao vestuário.
Além disso, há a menção do poder que era estar envolvido “no movimento”, como os moradores e alguns envolvidos se referiam ao crime. Se não fizessem parte, teriam de trabalhar, dando um exemplo citado no documentário, como entregadores de farmácia, uma profissão, ainda que digna, que não atrai a atenção da sociedade, que faria com que aquele jovem fosse só mais um, enquanto que no tráfico, ele teria mais holofotes sobre si; saindo no jornal; andando armado; atraindo mulheres, etc. Sendo, por conta disso, na sociedade que vivemos até hoje, dois fatores inarredáveis na decisão de um adolescente — ou até um adulto mesmo — de entrar para o crime, principalmente quando se via excluído do mundo e essa era a única forma de ele se destacar no meio da multidão.
Do outro lado da guerra (ainda que não declarada), encontramos o policial responsável pela repressão ao crime. Em depoimentos que mencionam a forma para o combate, é possível ver o armamento, muitas vezes sendo realizado uso de armas de guerra, fato praticamente ímpar na segurança (?) pública.
É visível, também, a falibilidade do sistema utilizado pelas forças de segurança, visto que não importa o número de apreensões; prisões ou até mortes, esse enfrentamento direto não entrega o resultado esperado.
A descrença numa melhora futura é latente no semblante dos policiais, único braço do Estado a bater de frente de forma incisiva contra a criminalidade. Este fato corrobora com a tese de que a “política” de enfrentamento já se demonstrou falha e precisa ser substituída urgentemente, fato que não ocorreu até hoje, quase duas décadas após o lançamento do documentário.
No meio do fogo cruzado, está a população, principalmente das favelas. Um povo que já vive à margem da sociedade que sai de casa sem saber se vai voltar por conta desse confronto.
É notável, nos moradores, a gratidão, por falta de palavra mais adequada, para com os integrantes “do movimento”, visto que são eles quem fornecem insumos quando eles precisam, medicamentos; comida; dinheiro para completar o gás de cozinha, etc. É uma sociedade à parte da sociedade que conhecemos. Nesse microssistema, são eles que oferecem segurança contra os excessos da polícia, como mencionado por moradores do morro.
Também merece destaque a parte que dá um resumo sobre a formação do Comando Vermelho, maior facção criminosa do Rio de Janeiro. Voltando em 1979, no presídio de Ilha Grande, em Angra dos Reis, no fim da ditadura militar, período em que aconteceu uma maior tentativa de repressão, houve o “descuido” do Estado ao juntar presos políticos e presos comuns, acreditando que os políticos seriam massacrados por serem minoria, contudo, tal movimento não ocorreu.
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