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Resenha do livro "A CIDADE ANTIGA"

Por:   •  29/5/2017  •  Resenha  •  2.582 Palavras (11 Páginas)  •  552 Visualizações

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA - UESB

JACKELINE ALVES DOS ANJOS

RESENHA:

“A CIDADE ANTIGA”

VITÓRIA DA CONQUISTA

2013

“A cidade antiga”, de Fustel de Coulanges, busca estudar as instituições e a mentalidade do povo Greco-romano. Ele acredita que a base dos povos gregos e romanos, os quais mantinham semelhanças pela origem em comum, foi a religião, ou seja, suas crenças alicerçando a sociedade primitiva Greco-romana, o que influenciou diretamente no processo da formação das cidades e de sua estruturação política. O livro constrói o caminho percorrido entre a sociedade primitiva grega e romana, baseada no culto aos patriarcas mortos (passada de varão para varão), até o surgimento do cristianismo, o qual encerra essa concepção de moral baseada nos deuses familiares.

Fustel, no início de sua obra, propõe algo fundamental para a leitura e o estudo de seu livro, que é o ato de não associar as sociedades gregas e romanas à nossa realidade, tratá-la como um objeto distante ao modelo de sociedade em que vivemos (positivista). Portanto, segue seu estudo histórico mantendo essa distância iniciando sua obra com as crenças da cidade antiga, como os ritos de culto aos mortos e a importância do fogo sagrado. A importância dos ritos funerários faz referência à continuidade da habitação do morto na terra, levando uma segunda vida em seus túmulos e, portanto, precisava ter seus desejos saciados com frequência através de sacrifícios, refeições e da profissão de textos religiosos, destinados ao mane familiar, ou seja, ao patriarca ali sepultado e seus antepassados. Se esses ritos não fossem obedecidos a alma do morto se tornaria errante, sofreria e traria má sorte à família, como doenças. E o fogo sagrado, destinado aos antepassados, tinha seu lugar de destaque no centro das casas e com o passar do tempo no centro das cidades. O deus lar era mantido e mantinha a família, se o fogo se extinguisse a família era extinta.

Esses ritos eram de uma religião doméstica destinada à linhagem masculina de cada família, os ritos, o túmulo e o fogo sagrado, o qual era guardado num local escondido, não podiam ser vistos e muito menos tocados por pessoas de outras famílias. A casa e a religião eram, portanto, propriedade privada, não podia ser frequentada e nem pertencer à outra família, seus deuses davam proteção ao lar e quem ali não habitava, os estrangeiros, ou estava do lado de fora dos seus limites não seriam protegidos, e se algum estrangeiro participasse de algum rito configuraria uma ofensa aos deuses e a casa teria que passar por um rito de purificação. Como podemos observar quando Fustel (1961, p. 164) diz: “As regras do direito de propriedade e do direito de sucessão estavam dispersas no meio de regras relativas aos sacrifícios, à sepultura e ao culto dos mortos”. O pai de família (pater famílias) era considerado um sacerdote o qual mediava todos os ritos, exercia poder absoluto dentro da casa e teria acima dele apenas os deuses familiares, o qual se tornaria um após a morte dando o lugar de pater ao seu primogênito, zelando para que o fogo sagrado não se apague.

As famílias grega e romana primitivas eram constituídas em torno desta crença doméstica e fogo sagrado, não por um laço de sangue ou de afeto, o parentesco não era definido pelo nascimento, mas sim pelo pertencimento ao mesmo culto. Parentes seriam aqueles que cultuavam os mesmos heróis, os mesmos demônios e os mesmos manes, os outros seriam estranhos, estrangeiros, não devendo a eles o menor respeito ou consideração. Elas seriam, portanto, uma representação de associação religiosa, um templo.

Fustel enfatiza a importância do filho mais velho na família primitiva, com a morte do pater famílias ele ficaria responsável pela casa, pelas irmãs, pelos irmãos mais novos e inclusive pela mãe. Por ter sido preparado pelo seu pai para ser um sacerdote estaria pronto para assumir os cultos e a família. A família teria uma espécie de acordo com seus mortos, garantiriam a continuidade das libações, sacrifícios, a leitura dos textos religiosos e todos os ritos ligados aos deuses familiares periodicamente em espaços de tempo predeterminados. E os mortos ficariam com a responsabilidade de proteger o espaço familiar dos outros deuses, esses eram tratados como inimigos. Se algo de ruim ocorresse com um grego ou um romano pressupunha que ele tenha falhado em algo com os seus deuses e logo fariam algo para se redimir, um bom sacrifício ou novas libações seriam possíveis formas de reconquistar a proteção de seus mortos. Havia também o grande medo dos homens de não serem sepultados, pois se isso ocorresse esse morto vagaria trazendo coisas ruins para seus familiares vivos. Fica claro, então, a importância do sepultamento dos familiares, assim como podemos observar também na obra Antígona, tragédia de Sófocles (2005), em que a personagem, que leva o nome da obra, sepulta seu irmão Polinices enfrentando o decreto do rei no qual era negado tal sepultamento, pois o considerava um traidor do reino, sepultamento esse super valorizado em tais povos por trazerem em si uma carga de retaliações pelo não cumprimento do mesmo

A mulher nas famílias primitivas não um tinha papel direto nos cultos, pois o antepassado cultuado por ela nem sempre era o mesmo que o de sua família de sangue, assim que ela se casava renunciava os deuses do seu pai e passava a cultuar os do seu marido. Ela só se ligava ao culto através do sacerdote, que poderiam ser: o pai, o irmão ou o marido. O casamento, portanto, é a cerimônia que marca o processo de desligamento da mulher dos deuses de seu pai para começar a adorar os deuses do seu marido. Isso só poderia acontecer com a autorização do pai da mulher diante do fogo sagrado da família desligando sua filha do culto familiar passando assim a não ser mais sua filha, pois suas relações eram baseadas na crença. Em um segundo momento o noivo simularia um rapto da mulher em que os pais dela fingiriam defender a mesma e o marido, com ela nos braços para que não pise no solo sagrado da casa de sua família, adentra-a colocando sua esposa em frente ao fogo sagrado para fazer o culto de iniciação da noiva na religião de seus manes. Após o culto de casamento a mulher se torna parte da família do marido e esquece completamente a de seus pais, não há comunidade entre as duas famílias.

Podemos, a partir desses relatos, perceber que ainda hoje temos atitudes semelhantes. Na contemporaneidade ainda preservamos o fato da entrega da filha pelo pai num altar religioso para o noivo nas religiões cristãs, só que neste ato não reside mais o mesmo intuito do primeiro, é uma atitude externa e que não sabemos o porquê de sua atual existência.

A proibição do celibato era clara, pois os cultos aos mortos deviam continuar de qualquer maneira e o celibato vetaria essa perpetuação da família e por consequência dos ritos religiosos. A esterilidade da mulher, no entanto, permitiria e até obrigaria a anulação do casamento, mas se a esterilidade for do marido um homem de sua família poderia ter esse filho com sua mulher e depois ele se tornaria seu, o parente servindo só para a copulação. Havia também a possibilidade da adoção, em que um estranho era introduzido à família a partir de um culto, assim como acontece com a mulher.  Para a adoção de um filho deveria ocorrer, em contra partida, sua emancipação da família anterior para que ele pudesse ser introduzido no culto da nova família.

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