Sobre apego, desapego e outros carinhos

Sobre apego, desapego e outros carinhos

Convivo com dois bichinhos de estimação. Clara e Chico. Um casal de pombos. Tem seu ninho na laranjeira do vizinho e passeiam pela sacada em frente a minha sala de trabalho todos os dias. Quando tem seus filhotes, o primeiro vôo sempre vai da laranjeira até o beiral dessa sacada e depois dali para a liberdade.  Não aprendi a chamar Clara e Chico de “meus”.

Eles são livres para voar, podem partir a hora que bem entenderem. Aliás, de vez em quando eles passam alguns dias ausentes, mas acabam retornando ao velho lar. Se me preocupo? Claro! Os perigos do mundo sempre estão à espreita de seres frágeis como eles. Protegê-los em uma gaiola seria a solução? É... Talvez fosse. Talvez vivessem mais, mas seria em tristeza. Talvez passassem mais tempo perto de mim e adoçassem mais meus dias, mas isso seria opção minha e não deles.  Clara, Chico e eu temos uma relação de carinho e cumplicidade.

Por mais dolorido que seja temer perde-los, não tenho o direito de cercear o seu direito de voar. Penso que seja esse um dos motivos que até hoje sempre os levem a retornar. Qualquer hora, talvez encontrem pousada melhor e não voltem. Esse risco faz parte. Como também devem saber que podem voltar e não me encontrar mais aqui. Esse risco também faz parte.  

Mas não é bom pensar nisso, porque hoje estão aqui e convivemos felizes. Se amanhã a despedida vier, bem-vinda seja, desde que a nova pousada ofereça ainda mais carinho e cumplicidade.  

(Obs: a foto é real, da última vez em que Clara me apresentou seus filhotes)