ARTE, UM OLHAR EPISTEMOLÓGICO
Por: venus88 • 12/6/2018 • Pesquisas Acadêmicas • 4.345 Palavras (18 Páginas) • 191 Visualizações
ARTE, UM OLHAR EPISTEMOLÓGICO
Vênus Maély Garcia de Oliveira
Professora Dra. Jocilene Gomes da Cruz
Universidade do Estado do Amazonas
Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas – PPGICH
Turma 2017.1
24/07/2017
RESUMO: O presente trabalho tem como proposta uma reflexão a propor da arte quanto conhecimento válido para vida pessoal e também acadêmica, pois infelizmente ainda há um forte preconceito quanto ao processo de criação artística. Desta forma, busco embasamentos teóricos que possam comprovar a sua eficiência.
Palavra-chave: Arte; Complexidade; Interdisciplinaridade; Cultura; Identidade.
INTRODUÇÃO:
No primeiro momento, apresento uma reflexão sobre a Arte e Pesquisa, buscando o que há de incomum entre ambas, como a arte passou a ser vista durante os anos até o momento atual e como o pensamento sensível ganhou espaço no campo científico devido a contribuição do conhecimento tácito. Em seguida, busco reflexões sobre arte e complexidade. Acredito que é um tema assaz relevante devido as relações e afinidades entre ambas.
Pensar a arte e complexidade propõe uma ligação com a interdisciplinaridade, devido a arte possibilitar o caminhar junto a ciência, como uma relação harmônica, na qual cada uma desempenha o seu papel sem desvalorizar a outra.
Seguindo a ordem de apresentação, busco pensar a arte e sua utilidade ou não, a partir de um viés criativo e material. Para finalizar, estudo a arte quanto os aspectos que contribuem para a formação do indivíduo no meio social, coletivo e individual, por meio das representações artísticas que proporcionam vivenciar e conhecer distintas culturas.
1. ARTE E PESQUISA:
Arte e ciência até pouco tempo foram consideradas como atividades que não tinham nada em comum. Desta forma, pensar a arte no campo da pesquisa científica ou métodos para tal, possibilita uma reflexão se esta admite pesquisa e método.
É possível observar na arte e na ciência um ponto em comum, a criação. Segundo Vieira (2006) " Tanto artistas quanto cientistas só conseguem ser efetivamente produtivos quando o ato de criação libera-se em meio à todas as dificuldades, que podem ser externas, provocadas por perturbações no meio ambiente, ou internas, associadas ao perfil e história psicológicos dos criadores". Isto significa que são conhecimentos que diferem apenas na hipótese filosófica, gnosiológica adotada pelos seus praticantes.
Em média, a maioria dos cientistas adota, como ponto de partida, uma hipótese gnosiológica que pode ser expressa como objetivismo realista crítico, ou a crença em uma realidade externa que pode ser independente de sistemas cognitivos nela imersa. Na busca da captura dessa realidade, a Ciência torna- se conhecimento controlado e público, relativo à construção de esquemas conceituais ou representações que reflitam com alguma isomorfia aspectos da organização objetiva do mundo ( VIEIRA, p. 48, 2006).
O conhecimento artístico permite a maior liberdade para explorar não apenas a realidade, mas também como nomeia o autor: a possibilidade do real. O conhecimento científico evidencia - se a favor da hipótese realista, que demonstra a sua eficiência que permite sobreviver e agir sobre a realidade.
Toda e qualquer forma de conhecimento tem por base a necessidade de sobrevivência do sistema cognitivo, ou, na linguagem da Teoria Geral de Sistemas, a garantia da Permanência. Se a ciência torna-se quase que otimizada pela busca da permanência, a arte tem ampla atuação e valor, no sentido de trabalhar alternativas quanto à realidades possíveis( Ibidem).
Quanto ao conhecimento no decorrer dos anos, a ciência só era valorizada quanto ao aspecto conhecido como "cientifísmo" que partia de uma operação intelectual que nomeava os conceitos a partir de uma compreensão para classificar e definir diversas coisas particulares. Os antigos só consideravam como conhecimento aquilo que presidia á ideia de um nome para classificar algo concreto ou abstrato, desde que fosse submetido a uma categoria de coisas e ideias. Por outro lado, qualquer fonte de conhecimento, sobretudo aquelas advindas da estética, eram consideradas falsas e inválidas.
A ciência, tal como a compreendemos atualmente, nasceu com a era moderna que tem como base o método cartesiano. Sua origem atribuída a princípios filosóficos que buscam preservar seus métodos e teorias. Durante séculos, tanto a ciência e filosofia buscavam a regra, o padrão, a lei, a norma que desconsideravam tudo aquilo que não era comum ou regular, ou seja, o pensamento não poderia ser submetido ao empirismo, pois era preciso ater-se aquilo que estava de acordo com as normas e conceitos previamente construídos pelas premissas mais evidentes. Ainda atada à filosofia, a ciência continua a objetivar uma característica metodológica de previsão e antecipação dos fatos para que possa obter o domínio sobre a natureza e logo por seres humanos.
Ortega y Gasset (1942) distingue radicalmente crenças de ideias, como as ultimas que melhor representam a ciência ou a filosofia. A diferença parte de que as crenças são parte integrante da nossa identidade e subjetividade, enquanto as nossas ideias são algo que nos é exterior, as ideias nascem da dúvida e assim permanecem, e as crenças nascem na própria ausência, ou seja, a crença na ciência ultrapassa o que as ideias científicas nos permitem realizar, logo a relação entre ambas deixam de ser entidades distintas e reconhecida como duas formas de experienciar socialmente a ciência.
O contexto cultural em que se situa a ecologia de saberes é ambíguo. Por um lado, a ideia da diversidade sociocultural do mundo que tem ganhado fôlego nas três últimas décadas e favorece o reconhecimento da diversidade e pluralidade epistemológica como uma das suas dimensões. Por outro lado, se todas as epistemologias partilham as premissas culturais do seu tempo, talvez uma das mais bem consolidadas premissas do pensamento abissal seja, ainda hoje, a da crença na ciência como única forma de conhecimento válido e rigoroso (SANTOS, p,26. 2006).
Como podemos observar que mesmo que as principais correntes de pensamento estivessem imbricados, quanto a preocupação de se ocupar da realidade abstrata, o humanismo do século XVIII enxergava no homem não apenas uma razão soberana, mas também a capacidade de sentir o mundo, de perceber o real a partir de sua sensibilidade.
A estética nasceu como um discurso sobre o corpo. Em sua formulação inicial, pelo filósofo alemão Alexander Baumgarten, o termo não se refere primeiramente à arte, mas, como o grego aisthesis, a toda a região da percepção e sensação humanas, em contraste com o domínio mais rarefeito do pensamento conceitual. A distinção que o termo ‘estética’ perfaz inicialmente, em meados do século XVIII, não é aquela entre ‘arte’ e ‘vida’, mas entre o material e o imaterial: entre coisas e pensamentos, sensações e idéias (...) (EAGLETON, 1993, p. 17)
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