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Diálogos entre Arte e Moda

Por:   •  23/8/2017  •  Ensaio  •  2.541 Palavras (11 Páginas)  •  516 Visualizações

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Universidade Federal de Juiz de Fora

Instituto de Artes e Design

Matéria: Estética e Crítica de Arte

Professora: Mariana Lage

Crítica de Arte

Diálogos entre Arte e Moda.

Ingrid Cardoso de Melo

[pic 1]

Viktor and Rolf - Inverno 2015

Juiz de Fora

Julho - 2017

Introdução

Bacharelado Interdisciplinar em Artes, Design, Cinema e Moda. Essa é minha origem. Iniciei o curso com foco na área de moda. Agora próxima ao fim vejo como meus horizontes foram expandidos. Diante desse contexto evidentemente já me flagrei algumas vezes papeando com os meus botões sobre a real relação entre arte e moda. À vista disso me proponho uma breve reflexão crítica sobre os diálogos estabelecidos entre essas duas disciplinas, buscando compreender de que forma a arte se apropria da moda como objeto expressivo e como linguagem e vise versa.

Moda pode ser Arte? Arte pode ser moda? Há quem diga que cada uma deveria ficar no seu canto. Que com tal coisa não se mexe. E que tal discussão é presentificada por egos inflamados, cada qual procurando maior legitimação no meio envolvido. Contudo eu penso que evitar tal discussão pode ser um desperdício.

Diálogos entre Moda e Arte

Por muito tempo, descartou-se a possibilidade de se pensar a moda como um campo artístico através do argumento que antes de tudo a moda é algo da ordem do funcional, serve apenas para cobrir o corpo. Porém, essa é uma objeção reducionista, se por vezes a arte foi vista como um meio de expressão do artista, colocadas a vida por meio de seus materiais, o que seria a moda? Um meio de expressão individual, ou do próprio estilista, próximo ao corpo, próximo ao real, próximo ao cotidiano, ou não, porém podendo adquirir expressão artística tanto quanto a obra de arte.

O diálogo entre esses dois temas não é contemporâneo, na verdade data alguns séculos. Em época de monarquia o vestuário esteve excessivamente presente em suas principais obras, com um primordial objetivo em comum; a busca pelo belo. Mais tarde, como meio de expressão artístico esteve presentificada nos movimentos de vanguarda, como as Roupas de Artistas, dessa vez estreitando ainda mais seus laços com a arte.

É preciso lembra que a fotografia, inventada em 1930, foi fator decisivo para a transformação das artes visuais, liberando os artistas de alguns atribuições da pintura, como a de retratar governantes, políticos, poderosos e etc.  Nesse contexto de transformações os artistas rebelaram-se contra a continuidade de formas do passado e cânones artísticos estabelecidos. Por vez o traje foi objeto de reflexão, transformando-se em meio de expressão e suporte para criação, apropriados pelos artistas de formas mais variadas possíveis. Ao mesmo tempo, estes, distanciaram-se da obrigação de retratar pessoas e suas vestimentas e de registrar aquilo que chamamos de moda.

Após a efervescência do final do séc. XIX, as vanguardas irromperam o séc. XX. Em quase todos os movimentos de vanguarda foi sensível a forte interação do artista com a vestimenta, explorando-as em suas possibilidades plásticas, performáticas ou de provocação. Entretanto a maioria dos artistas procurou isolar seus trabalhos das tendências de moda, no sentido de criar obras em que o vestuário tivesse seu espaço específico de objeto artístico. Mas, outros como Sonia Delaunay e os surrealistas, interagiram com ela. A seguir podemos vislumbrar os dois exemplos:

Sonia Delaunay (1885 - 1979): Influenciada pela idéias cubistas, fundou com Robert Delaunay o movimento Orfismo. Este voltava-se para para experimentação da cor em suas amplas ressonâncias tonais, assim como as formas não representacionais, principalmente as geométricas. Sonia dedicou-se a experimentação da cor e forma em diversos suportes.  Sonia denominava os trajes que criava de “pinturas vivas” pela sua projeção de formas, cores e texturas no espaço e a transformação destas pelo movimento do corpo.  Sonia obteve muito sucesso com seus “vestidos simultâneos”, definidos como infinitamente variados no colorido e, de certa forma revolucionários, embora incorporassem contraditoriamente a abstração geométrica e as cores vibrantes a modelos que seguiam as tendências do momento e conviviam pacificamente com a alta costura francesa.

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Casaco 1923-24 - Sonia Delaunay                         Vestuário - Sonia Delaunay

Giacomo Balla: Influenciado pelo movimento futurista proclama que “é PRECISO DESTRUIR O TERNO PASSADISTA epidérmico descorado fúnebre decadente tedioso anti-higiênico”, para uma nova era é necessário a proposta de um traje em que está presenta a ideia de representação de movimento e percepção de um novo mundo, criado pelas conquista tecnicas e cientificas. Balla afirma que pensamos e agimos como nos vestimos e, portanto, as roupas deveriam ser alteradas conforme o estado de espírito de quem as usar, por meio de “modificadores”, isto é, peças a serem colocadas e tiradas a partir de colchetes por exemplo. Assim seria possível ampliar nossas possibilidades de expressão e criatividade por meio da roupa. Essas diretrizes foram recodificadas para no manifesto “A Roupa Antineutral”, publicado em 1914.

        Para Além de Giacomo Balla os futurista criaram todo um guarda-roupa baseado em uma técnica inédita de corte de tecidos, uso de assimetria e justaposição de formas dinâmicas em variadíssimos modelos. Estes tinham como objetivo traduzir o conceito desenvolvido na pintura e na escultura como linha-velocidade, formas-barulho, ritmos-cromáticos, simultaneidade e interpenetração de planos.

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Bolsa futurista - Giacomo Balla                             Terno 1920 - Giacomo Balla

Salvador Dali e Elsa Schiaparelli: O mais famoso relacionamento entre a arte e moda. Essa parceria iniciou-se em meados de 1930 e deu origem a inúmeras criações como: Tailleur-escrivaninha (1936), shoe-hat (1937), vestido-lagosta (1937) e o vestido-esqueleto (1938). Muitos Artistas souberam traduzir os postulados do Surrealismo por meio do vestuário pintando ou desenhando trajes, jóias, acessórios e estamparia, inspirados em visões oníricas e eróticas, que testemunham a ânsia de liberdade total da imaginação que lhes era própria. De Dali também são o Obejeto Escatoligico de funcionamento simbólico (1930) feito com sapatos; o Paletó de Smoking Afrodisíaco (1936), criado para Elsa; e o Costume do Ano 2045 (1950).

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