Ensaio Sobre A Arte Naturalista Portuguesa
Por: sarahrodrigues98 • 10/9/2023 • Trabalho acadêmico • 4.627 Palavras (19 Páginas) • 72 Visualizações
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Ensaio sobre a arte naturalista portuguesa
A presente pesquisa busca esmiuçar uma das correntes artísticas da arte nacional lusitana: o movimento naturalista. Para isso, se fará uma breve análise de artistas dessa vanguarda. O que garante à pesquisa bastante relevância é o caráter vital do Naturalismo para a identidade artística portuguesa, assim como todas as implicações históricas vigentes ao seu desdobramento. Também serão avaliados os impactos sociais vislumbrados à época.
Palavras-chave: Naturalismo português; Portugal; vanguardas europeias.
O que é tido, nos termos da historiografia, como a vanguarda portuguesa do “Naturalismo” na pintura, é fincado durante o fim do século dezenove. Os pintores mais emblemáticos da dita corrente se tratam de António Carvalho da Silva Porto, José Malhoa, ou João Marques de Oliveira, visto que são os que, usualmente, são reconhecidos como os precursores da escola artística em Portugal. Contudo, são extremamente relevantes as ações de tais artistas em conjunto, na figura do chamado Grupo do Leão, o qual foi fundamental na consagração e consolidação do movimento.
Anteriormente ao surgimento do Naturalismo, o país vivenciava o contexto da revolução liberal de 1820. Essa estava direcionada em realizar uma reforma política do Estado. Para isso, filosoficamente, tinha como base, o pressuposto basilar de que deveria existir um inédito estatuto da pessoa humana, o qual o tornaria um cidadão.
O conceito de cidadão em questão dizia respeito à capacidade de decidir o seu destino social e ser ativo nos embates políticos da cidade. Muito semelhante ao conceito grego de cidadão. Ocorre que havia um forte teor elitista em quem poderia adequar-se ao mencionado papel, visto que eram necessárias certas condições econômicas para usufruir dos benefícios cívicos.
Dessa forma, o poder permaneceria nas tradicionais aristocracias lusitanas, que viriam a se tornar as conhecidas burguesias da “sociedade dos barões”, as quais a própria elite intelectual portuguesa fazia parte, ainda que as criticasse em suas obras.
Essa ideia de um voto censitário garantia uma falsa ideia de isonomia entre os portugueses, a qual não chegava nem perto de existir à época. Essa falsa ideia de existir uma ferramenta garantidora de alguma igualdade, ainda que inverídica, foi um dos poucos caminhos da demorada e insuficiente modernização de Portugal. Nessa direção, acerca dos avanços da modernização lusitana, escreve Silva:
O momento seguinte, muito mais estruturado e coerente, foi possível graças à política de bolsas de estudo para Paris e Roma que os governos das Regeneração implementaram a partir de 1870, num contexto desenvolvimentista inegável, provando que, apesar de muitos constrangimentos, a modernidade chegou às artes plásticas, depois de brilhantemente se exprimir nos domínios literário, histórico e mesmo filosófico. Também neste campo, discordo dos analistas que analisam o século XIX português sob a figura retórica do fracasso, dando razão subjectiva a epocais sentimentos contraditórios, divididos entre o desejo da revolução e a inércia da desistência, visíveis nos percursos criativos de personalidades tão ilustres como Antero de Quental, Eça de Queiroz ou Oliveira Martins. (DA SILVA, p. 7, 2010)
O Naturalismo possui as suas raízes fincadas, principalmente, no Positivismo, filosofia a qual dispõe que o homem é um ser que pode ser delimitado pelas leis físicas, portanto, é passível de ser um objetivo de estudos científicos, o que o torna assunto para investigação na ciência. Ou seja, isso permite que nesse movimento seja alcançável a pretensão de estudo comportamental da espécie humana.
Inclusive, para melhor compreensão do contexto histórico do continente europeu vigente à época, a obra que se tornou um paradigma na literatura naturalista foi Germinal do francês Émile Zola, a qual esmiúça as possibilidades e cruezas do comportamento animalesco do homem miserável. É possível interpretar, filosoficamente, como a existência de uma forte dependência, simbiose entre o homem frente à natureza e sua grandiosidade. Não são precisas muitas palavras, nem rebuscados recursos estilísticos para descrever a natureza, basta ser preciso, concreto e autêntico.Na pintura, o Naturalismo ficou vinculado ao inglês John Constable, à Escola de Barbizon e ao profundo apreço pela reprodução das paisagens da natureza.
O naturalismo no continente europeu, seguia, em regra, uma mesma orientação à época. Inclusive, o próprio Eça de Queiroz, principal literata naturalista lusitano, foi um dos membros do movimento revolucionário, idealista e literário que aconteceu em Portugal entre 1860 e 1880, tido como “Geração de 70”, formada por jovens intelectuais: escritores, artistas, jornalistas, historiadores. Nas palavras de Silva, acerca do interesse dos artistas dessa geração:
Fugir à Escola e aos ateliers, fechados em museus ou sobre álbuns de gravuras, contestar o predomínio da Pintura de História e do paisagismo bucólico dos classicismos italiano e francês, para estudar a luz natural nas suas infindáveis variantes cromáticas, foi este o mais revolucionário desígnio da chamada Escola de Barbizon e o difuso cimento ligando os pintores que a frequentaram até final dos anos de 1880. As solicitações do pintar ao ar livre, em confronto com paisagens concretas, valorizaram o esboço, o inacabado, as séries, as variantes, a velocidade do registo, o abandono de desenho prévio, o esvaimento dos volumes que tendem a ser manchas cromáticas, nascidas da lógica mais autonomizada do próprio fazer da pintura. (SILVA, p. 4, 2010)
Em Portugal, se carece de uma existência de uma nítida diferenciação da crítica entre as correntes do Naturalismo e do Realismo. Essa confusão implicou na consideração do pintor Silva Porto em tanto naturalista como realista. Ora, o que, provavelmente, acarretou em uma ausência de distinção dessas foi o fato de boa parte dos críticos de artes portugueses serem literatas. Na literatura portuguesa, haja visto o exemplo de Eça de Queiroz, diversos escritores em sua trajetória percorreram ambos os estilos, sendo assim, estas duas correntes corriqueiramente se confundiam. Confira-se o que disserta Silva acerca dessa problemática:
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