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Ensaio de Arte, Estética e Ação Educativa

Por:   •  13/12/2016  •  Trabalho acadêmico  •  2.206 Palavras (9 Páginas)  •  228 Visualizações

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Universidade de São Paulo[pic 1]

Escola de Comunicações e Artes

Disciplina: Arte, estética e ação educativa

Docente: Prof. Ferdinando Martins

Aluna: Samantha Nascimento da Silva – Nº USP 7611856 – 09/08/16

O teatro como forma de experiência e atitude estética do espectador

Ao longo da história da humanidade temos presenciado calorosos debates sobre esse tema, sem nunca alcançarmos um conceito universal que silenciasse essa pergunta: o que é arte de fato? Na antiguidade, o campo da arte circundava as noções de imitação e beleza, passando pela sua utilização como elemento decorativo. No auge da modernidade clássica, a arte aproximou-se do sublime. Na contemporaneidade a ideia de arte se ampliou.

Também vale dizer que já não se trata de perseguirmos alguma ideia de beleza como parâmetro. Assim, o belo, ao longo da história era o que imitava a realidade visível, era o que correspondia à repetição do paradigma naturalista e realista de representação. Depois, o belo passou a ser tomado como sublimação, como efeito tangível do sentimento resultante da relação que nossa razão pura estabelecia com o mundo. Mais tarde, o belo passou a ser um valor subjetivo, um sentimento singular proveniente de uma experiência única e individual que o sujeito tinha do mundo. Ou seja, assim como se passa com a arte, o belo foi deslocado do campo de possíveis padrões estabelecidos pelas formas tradicionais de estética.

Podemos tentar perguntar pela utilidade da arte. Da mesma forma, veremos uma série de deslocamentos ao longo da história. No começo a arte tinha por objetivo aproximar o homem do universo transcendente das divindades, dos deuses, do sobrenatural. Também podemos identificar, em algumas civilizações, a arte com fins decorativos. Sob outro enfoque, podemos ver a arte assumir fins expressivos, comunicativos e representativos: a obra de arte pode expressar algo quando ela é a materialização ou a vivificação de uma ideia ou sentimento que apela ao seu criador para alcançar a existência; a arte pode comunicar algo quando sua materialidade é portadora de um conteúdo, quando ela veicula uma ideia, uma intenção, uma mensagem moral ou política. A arte pode representar algo quando articulando sua potencialidade expressiva e comunicativa, significa algo, quando sua existência remete a algo que não está ali. Assim, aqui há a visão contemporânea da dimensão conceitual da arte e proporciona a compreensão da experiência com a obra de arte como uma experiência singular e subjetiva que pode bem ser individual ou coletiva, mas que definitivamente vai à direção da singularidade. E a singularidade, nesse caso, tanto pode ser a do artista quanto a do crítico ou, ainda, do espectador. É arte o que eu digo que é arte. É arte o que eu faço ser arte. É arte o que eu torno arte. Ela  serve para produzir efeitos de sentido no criador, no crítico e no público. Ou seja, a arte existe para produzir diferença no artista, no crítico e no público, e sem o juízo de valor do que é bom ou ruim, já que falo aqui de subjetividade e singularidade.

Trazendo o foco para o campo teatral, há a necessidade de uma condição de apreciação, que pode ser conhecida como “atitude estética”. Para que se possa viver uma experiência estética, antes de tudo, é preciso assumir uma atitude estética, ou seja, assumir uma posição, uma postura que constitua e configure a nossa percepção. Não como uma intencionalidade, uma antecipação racional do que está por vir, mas como uma disposição, uma abertura ao mundo. A intencionalidade é uma atitude prática, utilitária. É quando nos dirigimos para o mundo com vista a determinados fins considerando as coisas e os acontecimentos como meios úteis para atingir um fim. Assim, essa atitude estética é uma atitude desinteressada, é uma abertura, uma disponibilidade não tanto para a coisa ou o acontecimento "em si", naquilo que ele tem de consistência, mas para os efeitos que ele produz em mim, na minha percepção, no meu sentimento. Trata-se de contemplar ativamente a coisa, ou seja, atentar para o sentimento que a experiência da coisa produz em mim.  

   O desinteresse reside em deixar de lado juízos explicativos que o sujeito poderia obter perante a coisa ou o acontecimento que vive, de modo que possa colocar-se em uma posição de vulnerabilidade ao seu efeito. O juízo estético se refere não propriamente a um objeto ou acontecimento, mas ao sentimento que esse objeto ou acontecimento produz no sujeito. A atitude estética diz respeito à abertura que o sujeito tem ante o mundo. E essa atitude não se caracteriza nem por uma posição passiva nem ativa, diante do objeto ou acontecimento, mas a uma disponibilidade que o sujeito tem.  Trata-se do encontro entre sujeito e objeto ou acontecimento resulta algo que ainda não existia, resulta um efeito novo: um sentimento, um gosto, um estado que apenas existia enquanto possibilidade. Ao entrar em jogo com o acontecimento, eles deixam de ser exteriores ao sujeito e passam a constituir o campo da experiência. E é aí que começa a criação, e o impacto da experiência estética.

No teatro, cinquenta por cento de um espetáculo são realizados sob a responsabilidade do público. Por sua natureza e comportamento, o perfil de uma montagem teatral pode ser traçado. Não se pode negar que a predisposição dos espectadores a um espetáculo vai determinar toda a sua trajetória, deixando explícita a importância desse elemento para a construção do fenômeno teatral. A não existência do público resulta na aniquilação do teatro. A única coisa que todas as formas de teatro têm em comum é a necessidade de público: no teatro o público completa o processo criativo. Nas outras artes, é possível ao artista usar como princípio a ideia de que trabalha para si próprio. Por maior que seja seu sentido de responsabilidade social, dirá que seu melhor guia é o próprio instinto – e se fica satisfeito contemplando sozinho o seu trabalho acabado, e é muito provável que as outras pessoas também fiquem. No teatro isto é modificado pelo fato de que o último olhar solitário ao objeto acabado é impossível – até que a plateia esteja presente, o objeto não está acabado. Portanto, dessa relação de dependência que há entre uma montagem teatral e seu público, vemos o quanto o comportamento dos participantes do processo é transformado pela ação de um sobre o outro.

A comunicação teatral se dá, então, pela troca de informações efetuada entre o ator e o espectador; e essa interação, esse diálogo, nos dias de hoje, chega a ser tamanho, que o espectador não se contenta em ficar sentado na plateia. Ele deseja fazer parte do processo, acrescentando, alterando e, se possível, se tornar inerente ao processo dentro do teatro. O público sempre teve sua parcela de importância na história do teatro. Mesmo quando quieto, parecendo um mero observador, ele participa da construção do espetáculo das mais variadas formas, através das palmas, da gargalhada e da vaia; e tudo isso acontece porque todo ser humano tem dentro de si um “instinto de plateia”. Desde crianças somos acostumados a ouvir e a contar histórias. Esse sistema faz parte do jogo da comunicação, por isso ficamos seduzidos diante de uma boa narrativa, dos contadores de histórias e dos repentistas da feira.

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