Resenha Histórias Cruzadas

Lançado no Brasil, em 2012, o filme “Histórias cruzadas” conta com um elenco notável, com atrizes como Viola Davis e Emma Stone, e com uma temática fortíssima: o racismo, o papel da mulher negra naquela sociedade e também abrange o papel da mulher como um todo, no sentido da necessidade de se casar e de como a vida profissional ficava em último plano.

 A história se passa nos EUA, nos anos 60 - de busca por direitos civis - e tem como “protagonistas” duas empregadas – negras – e uma jovem jornalista. O longa desenvolve a história mostrando como era a vida de uma empregada doméstica negra em Mississippi, a personagem Aibileen, interpretada por Viola, trabalha para um casal que tem uma filha pequena e espera o próximo filho. O filme conta que Aibileen passou sua vida criando, com amor, os filhos dos outros – que cresceriam e se tornariam, em geral, tão racistas quanto seus pais – enquanto o seu filho morria por obra do racismo.

Um dos momentos marcantes do filme está já no início e retrata a separação de banheiros de negros e brancos. Uma casa onde o banheiro não era separado representava um lugar sujo, “propício às doenças dos negros”. Em decorrer de situações propiciadas por essa separação a Minny Jackson, amiga de Aibileen, é humilhada e despedida de seu emprego.

O filme se constrói com as histórias que as empregadas contam para Skeeter, a jovem jornalista, que enfrenta a problemática que a sociedade impunha ao ver uma mulher dando prioridade ao trabalho e não ao namoro/casamento.

De forma geral, a obra conversa com o artigo “Das escravas a empregadas domésticas – A dimensão social e o “lugar” das mulheres negras no pós-abolição”, de Bergman Pereira, que retrata a situação das mulheres negras, em especial as empregadas domésticas, no Brasil. Mesmo sendo um texto do retrato brasileiro ele tem relação com o filme, pois aponta que as mulheres que antes eram escravas hoje são empregadas domesticas, que nesse sentido não houve uma mudança de “lugar” - assim como no filme, onde as empregadas eram vistas ainda como escravas, como “nada” ou pior que isso.

Enfim, as obras citadas têm uma importância muito maior do que posso escrever nessas poucas linhas, contudo é necessário frisar a permanência do que elas retratam; a estratificação social permeada pelo olhar escravista e racista, que humilha, ignora que mata, que ainda destrói vidas. Como uma visão positiva para um futuro, o filme termina com um avanço na luta por dignidade, o texto escrito por Skeeter é publicado e tem um forte impacto – de rejeição, reflexão, de mudança -  na sociedade.