ANÁLISE: VIRTÙ E FORTUNA DE LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA

ANÁLISE: VIRTÙ E FORTUNA DE LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA

Guilherme Santiago e Leonardo Colerato

O governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi marcado pela retomada do crescimento do país, pela redução da pobreza e da desigualdade social, pela manutenção da estabilidade econômica e é lembrado até hoje por parte da sociedade por programas como o Bolsa Família e o Fome Zero. Ademais, nos primeiros anos de seu mandato, verifica-se grandes escândalos de corrupção sendo o Mensalão o mais conhecido deles.  

Apesar disso, Lula encerrou seu governo como o político com a maior taxa de aprovação da história. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Datafolha nos últimos meses de sua gestão, 83% dos entrevistados avaliaram sua gestão como ótima ou boa e apenas 4% como ruim ou péssimo.

Analisando os dois mandatos de Lula e aplicando os conceitos de “leão e raposa” de Maquiavel, podemos perceber que em seus mandatos Lula desestruturou a imagem de governos anteriores e de adversários políticos representando, assim, a figura do leão. A relação diplomática de Lula com os presidentes norte-americanos foi mais assertiva quando comparada com a de FHC. A frase “Lula é o cara”, dita por Barack Obama em reunião do G20 em 2009, é um ótimo exemplo disso. Já a “raposa” pode ser metaforicamente comparada com as amplas relações diplomáticas no governo de Lula com países ideologicamentes antagônicos entre si, como Estados Unidos e Irã. Isto é, Lula conseguiu manter diálogo com países de perspectivas divergentes.

Analisando este período a partir da perspectiva de Nicolau Maquiavel, é possível perceber que os conceitos de virtù e fortuna são facilmente aplicados ao cenário em que Lula foi presidente do Brasil.

Segunda Maquiavel, virtù ou ação virtuosa é a habilidade que determinado político tem de saber aproveitar determinada situação de maneira consciente para em seguida escolher quais são os meios mais adequados para transformar em realidade a decisão tomada. Maquiavel afirma que a fortuna é o acaso do destino que gera uma situação de instabilidade cujo político precisa saber lidar.

Dessa forma, podemos afirmar que a fortuna pela qual o ex-presidente Lula está inserido são os diversos casos de corrupção que vieram a tona durante seu mandato. Já a virtù foi a forma como Lula lidou com este acontecimento para que, alguns anos depois, ele encerrasse seu governo com um dos maiores níveis de aprovação da história e ao mesmo tempo desassociar sua imagem aos escândalos de corrupção durante os últimos meses de seu mandato. Este é um típico caso de virtù sobrepondo-se à fortuna.

Lula conseguiu, mesmo em um cenário de instabilidade, manter boas relações internacionais, descobriu jazidas de petróleo (que ficaram conhecidas como pré-sal), criou o ProUni (programa que concede bolsas em universidades privadas para estudantes carentes) e anos depois chegou a liderar as pesquisas de intenção de voto para 2018.

Um exemplo bem claro de virtù e fortuna do ex-presidente Lula é

Maquiavel define um bom governante baseando-se em seu governo, ou seja, para ele se o governante não fosse deposto do cargo ele tinha tido um bom mandato. Assim sendo, Lula conseguiu não apenas ser um bom governante de acordo com a visão de Maquiavel, mas manteve seu governo estável e foi reeleito por meio de um amplo apoio popular em 2007. Dessa forma, Lula conseguiu ter um governo sem ameaças que pudessem contribuir para sua deposição. Mesmo com uma fortuna não muito favorável, conseguiu aplicar os conceitos maquiavélicos de virtù e é até hoje aclamado por boa parte da população.

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