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Analise do discurso

Por:   •  26/6/2015  •  Ensaio  •  807 Palavras (4 Páginas)  •  136 Visualizações

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O Relato de Uma Mulher Negra em

Contraste Com a Sociedade

O discurso de Elisa é carregado de um determinado contexto histórico, social, religioso e econômico relacionado com sua vivência no interior da Bahia, suas raízes colonizadas e suas relações de trabalho. Começa com a sua concepção de gênero quando ela conta sobre sua cidade natal e as “características do menino e da menina”, apresentando uma ideia de bipolarização de gênero trazida de um ideal cristão e logo europeu. Podemos verificar isto na fala dela quando ela afirma, por exemplo, que ao perder a virgindade a filha deve sair de casa e não parece se opor a esta “tradição”. Acreditamos poder afirmar que ela traz uma ideologia de origem patriarcal, encontradas inclusive na cultura de época de engenho. Vale ressaltar que essa rejeição da menina que perde a virgindade não se encontra condizente com suas raízes afrodescendentes, que não pregam esse tipo de ação, ou seja, a cultura de Elisa pode se dizer imposta não apropriada.

Outra presença em seu discurso é o religioso, o cristão para ser especifico, no qual ela acredita que não é capaz de ser de maleficio a ninguém. E se de fato o discurso ganhar mais espaço que o direito do homem não é verdadeiramente religioso, ou seja, vemos que, no discurso de Elisa, é isentada o possível caráter opressivo da religião. O argumento apresentado é, como os princípios cristãos, em teoria, não são de opressão, o opressor religioso é entendido por ela como um “impostor”. É possível fazer uma ponte entre isso e o fato da expulsão das mulheres de suas casas ao perder a virgindade, ato carregado implicitamente de ideologia religiosa de opressão contra as mulheres.

Na entrevista perguntamos o que ela acha sobre o tema aborto e ela se diz contra. Logo em seguida ela conta um caso no qual sua amiga quase falece em uma tentativa de abortar, ainda assim Elisa se opõe a ideia do aborto o que é condizente com as ideologias identificadas em seu discurso anteriormente, o religioso e com tendência conservadora. Elisa também tem ao que parece uma dificuldade na articulação de sua justificativa de oposição à possibilidade do aborto, dizendo que é uma questão de ideais e princípios. Há uma possível relação entre este fato e a teoria materialista e marxista que afirma o discurso religioso como um grande alienador das massas.

Abordamos também em nossa entrevista a questão da maioridade penal no qual ela se colocou como a favor da redução. Novamente, não soube articular uma justificativa, mas aparentemente reproduziu um discurso. De acordo com Elisa os meios de comunicação que ela consulta são revistas como VEJA e programas como o Jornal Nacional e Cidade Alerta. Ela alega que a mídia não muda sua opinião, porém vemos uma correlação entre seu posicionamento e o que tem sido amplamente defendido nos meios citados, ainda que não declaradamente, mas nas entrelinhas. Achamos ainda relevante ressaltar que sua mãe é evangélica e embora ela tenha afirmado não ter religião isso certamente deve tê-la influenciado na constituição como sujeito social. Acabamos vendo o oprimido adotando o discurso do opressor, na medida em que os afetados por essa lei são majoritariamente negros de origem pobre e socialmente desfavorecida.

Foi também revelador observar uma contradição no discurso de Elisa quando ela afirma ser contra o Bolsa Família e programas assistencialistas, porém diz que o PT é seu partido de escolha por ter o melhor projeto social e que apenas não pode coloca-los em execução por conta da oposição. Vemos ai uma falha no discurso de Elisa podendo significar uma confusão no que ela verdadeiramente pensa e no que foi nela imposto.

Por fim acreditamos ser pertinente ressaltar o possível desconforto que Elisa sente ou sentiu pelo pai no momento em que o via como opressor e não como vítima. Acreditava ser culpa apenas do pai pelos males que sua família e ele mesmo sofreram, ignorando a situação social econômica no qual o pai se encontrava, acontece isso também quando ela conta de sua sobrinha que conseguiu fazer faculdade. Elisa disse que todos (hoje em dia) conseguem fazer faculdade basta querer, mas para que sua sobrinha a fizesse precisou-se que todos da família juntassem dinheiro para a gasolina, só assim ela pegaria carona com uma amiga para então leva-la até outra cidade onde se situava a faculdade. Assim vemos, talvez, mais nitidamente a apropriação do discurso do opressor pelo oprimido.

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