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Discussão Teórica: Pierre Bourdieu

Por:   •  4/12/2017  •  Resenha  •  2.031 Palavras (9 Páginas)  •  265 Visualizações

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Discussão teórica: Pierre Bourdieu

Durante 45 anos Pierre Bourdieu produziu um conjunto de análises no âmbito da Sociologia da Educação e da Cultura, o autor influenciou fortemente algumas gerações de intelectuais. Ele buscou na sociedade de classes o entendimento de como e por que uma pequena parcela de indivíduos consegue se apossar dos meios de dominação, adquirindo a permissão para nomear e representar uma realidade social que figura como dada, construindo categorias, classificações e visões de mundo as quais o restante dos grupos estão submetidos e fazem, sistematicamente, referências. Sua trajetória analítica opõe-se ao idealismo da velha tradição francesa.

Em 1970, Bourdieu publicou junto a Jean Claude Passeron obra intitulada A Reprodução que traz à luz elementos para uma teoria do Sistema de Ensino, resultado de ampla pesquisa baseada em experiências sobre o sistema escolar da França a obra analisa criticamente o modo de ver e pensar da escola francesa. A escola é vista pelos autores como um local, uma instituição que reproduz a sociedade e seus valores e que efetiva e legaliza as desigualdades em todos os aspectos, pois é na escola que o legado econômico da família transforma-se em capital cultural. Acredita-se que, mesmo contextualizando a obra no meio em que foi produzida, seus contributos podem representar de maneira pontual as problemáticas relativas à educação em sociedades periféricas, como na América Latina. Através do estudo, é possível desvelar o corpo de um sistema educacional que está posto e legitimado sob formas estruturais de dominação.

Na primeira parte do livro localizamos os fundamentos de uma teoria da violência simbólica, pilar sobre o qual se erguem as estruturas de um sistema educacional pautado em postulados hegemônicos. O poder de violência simbólica que manifesta o sistema educacional baseia-se na imposição de significações e as impõe como legitimas dissimulando as relações de força que estão na base de sua atuação. Toda ação pedagógica, para os autores, é objetivamente uma violência simbólica exercida por um poder arbitrário que representa um arbitrário cultural. A educação, portanto, tem suas aspirações ligadas à imposição e inculcação de um arbitrário cultural que, normalmente, é definido e processado pelos interesses de uma classe que figura-se como dominante em determinada sociedade.

O poder simbólico é exercido numa relação de comunicação em que se torna necessário produzir as condições sociais de sua efetivação. A ação pedagógica tem como condição social de seu exercício a autoridade pedagógica e a autonomia relativa da instância encarregada de exercê-la. Toda ação pedagógica precisa dissimular seus propósitos objetivos através da disseminação de um ideal de ação não violenta, esse processo tende a ocultar as relações de força que, naturalmente, estão legitimadas no percurso em que se transcorrem as formas de inculcar características do fazer educativo. Os indivíduos que exercem a autoridade pedagógica figuram no espaço social como detentores exclusivos de um saber e como dignos de transmiti-lo, sendo autorizados a impor a recepção e controlar a inculcação por meio de sanções socialmente aprovadas e garantidas. É esse poder socialmente legitimado que possibilita a apreensão por meio dos receptores da mensagem dos modos arbitrários da cultura, este é um processo de interiorização da mensagem onde a informação é transformada em formação. É importante ressaltar que todo o decorrer desse procedimento depende enormemente da dominação do código cultural em que a informação é transmitida.

O trabalho pedagógico é exposto nesta obra de maneira a defini-lo como um trabalho de inculcação que deve durar o bastante para produzir uma formação durável, a que denominam os autores de habitus, o arbitrário interiorizado, que possibilita a reprodução de conhecimentos e noções. O trabalho pedagógico produz esquemas de percepção, apreciação e ação a longo prazo, esses esquemas são responsáveis por perpetuar uma ordem cíclica de transmissão e apreensão dos saberes. É preciso estabelecer uma disposição durável, pois toda necessidade cultural é uma necessidade cultivada.

Quando consideramos todo o sistema de ensino institucionalizado, precisamos considerar que essa institucionalização é necessária, visto que, sua legitimidade barra possíveis processos de questionamentos. É a esse fato que o sistema de ensino deve, em grande parte, sua força. É preciso produzir e reproduzir as condições institucionais que são necessárias ao cumprimento de sua função inculcatória. Assim, também, estabelece-se a autoridade escolar, uma autoridade que parece estar condicionada ao processo de institucionalização, sendo a autoridade do responsável pelo processo de inculcação – o professor – posta institucionalmente.

Pertencendo mais especificamente ao escopo deste trabalho, através desta obra é possível entrar em contato com diversas críticas que são fundamentais à ascensão de propostas alternativas à violência do sistema educacional. Não devem ser negligenciadas as localizações sociais dos indivíduos que estão imersos na estrutura do sistema. Reconhece-se que seus procedimentos são responsáveis por um processo de aculturação das classes populares, onde seus saberes são deslegitimados em detrimento do que se considera conhecimento erudito cujo monopólio de um capital linguístico é essencial ao destaque nos processos de aprendizagem e seleção. O propósito do trabalho pedagógico, como supracitado, é produzir indivíduos modificados que se adequem às exigências de uma classe dominante, a não adequação é fator crucial aos processos de marginalização e reprodução circular de hierarquias sociais e escolares. No entanto, graças às formações sociais através das quais são definidos os sujeitos, que impõe limitações de acordo com sua localização social, a escola, na verdade, assegura a sucessão sutil a direitos de burguesia limitados às posições sociais e econômicas mais altas na hierarquia como já estabelecidas; estagnando e impossibilitando processos de transformação e valorização da autonomia dos sujeitos.

Colonialidade do saber e

alternativas à violência do sistema de ensino institucionalizado

Acredita-se que no contexto das sociedades modernas, é experimentada a imposição de um modelo civilizatório por intermédio das nações hegemônicas que perpassa as esferas do poder, do saber e do ser. Partindo para uma análise mais próxima, a história da América Latina atesta a brutalidade de um processo colonizador de exploração que iniciou um curso intermitente de dominações nos campos econômico, social e cultural. A própria história da ciência é passível de questionamento quando se constata o círculo fechado de sua produção, apontando a existência de um projeto que centraliza o conhecimento através de uma instância socialmente reconhecida que legitima a propagação de quaisquer postulados arbitrários de um grupo restrito de intelectuais com características bastante pontuais, em sua maioria homens, brancos, de classe alta e heterossexuais.

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