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Ensino de Sociologia e sua Trajetória na Educação Básica no Brasil

Por:   •  27/10/2019  •  Artigo  •  3.744 Palavras (15 Páginas)  •  223 Visualizações

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Ensino de Sociologia e sua trajetória na educação básica no Brasil.

Dalila Talita Alves Ribeiro[1]

RESUMO

      O presente artigo tem como objetivo analisar a histórica trajetória de constante mudança do ensino de Sociologia na Educação Básica brasileira. Procura-se refletir sobre as razões que fundamentaram a inclusão e exclusão da Sociologia na Educação Básica, a visão dos seus propositores a seu respeito e a relação com o contexto político do país. Esta discussão ganha relevância em um momento de esforços para afirmação da sua legitimidade dentro dos espaços escolares como disciplina significativa para o processo de reflexão crítica a respeito da sociedade. Entende-se que a sua permanência depende da continuidade da luta por sua consolidação curricular. A sua presença ou ausência na Educação Básica sempre esteve relacionada ao contexto político do país. Nesse processo ininterrupto de luta é preciso refletir sobre seu papel na educação e na construção de debates significativos para a permanência e fortalecimento da disciplina de Sociologia no Ensino Médio, o que se faz necessário diante da atual crise.

Palavras-chaves: Ensino de Sociologia, Educação Básica, Contexto Político.

Teaching of sociology and its trajectory in basic education in Brazil.

ABSTRACT

This article aims to analyze the historical trajectory of constant change in the teaching of sociology in Brazilian Basic Education. We seek to reflect on the reasons for the inclusion and exclusion of Sociology in Basic Education, the view of its proposers about it and the relationship with the political context of the country. This discussion gains relevance in a moment of efforts to affirm its legitimacy within school spaces as a significant discipline for the process of critical reflection about society. It is understood that its permanence depends on the continuity of the struggle for its curricular consolidation. Their presence or absence in Basic Education has always been related to the political context of the country. In this uninterrupted process of struggle it is necessary to reflect on its role in education and in the construction of meaningful debates for the permanence and strengthening of the discipline of sociology in high school, which is necessary in view of the current crisis.

INTRODUÇÃO

     Refletir sobre a Sociologia no Ensino Médio é de especial relevância para a percepção do seu processo de instituição na Educação Básica, marcado por intermitências de sua presença e frequentes exclusões. Neste contexto, o momento é de esforços que se voltam para afirmação da legitimidade da Sociologia dentro dos espaços escolares como disciplina significativa para o processo de reflexão crítica a respeito da sociedade. 

        Dessa maneira, o presente texto realiza uma revisão bibliográfica sobre a trajetória da implantação da Sociologia no Brasil, procurando destacar alguns aspectos que têm caracterizado a relação entre a Sociologia e a educação, particularmente a relação entre Sociologia e Ensino Médio. Procura-se refletir sobre as razões que fundamentaram a opção pela inclusão da Sociologia na Educação Básica, a visão dos seus propositores a seu respeito e a relação com o contexto político do país.

      Ao delinear a sua história busca-se entender como ocorreu a sua institucionalização, bem como a inclusão da disciplina na Educação Básica em meio às reformas educacionais e de que forma estes fatores modificaram o papel social da Sociologia. Entende-se que o estudo histórico propicia a compreensão do presente por meio do processo de compreensão das lutas ocorridas no passado. Essas produzem reflexos na atualidade, impactando nas representações, imagens e modelos de formação, construídos no momento atual.

     A Sociologia surge no século XIX representando um produto, um desdobramento cultural da constituição do processo de modernidade, como também uma das formas de elaboração de uma autoconsciência intelectual da emergência da modernidade.

      Nesse sentido, as representações construídas ao longo de sua trajetória adquirem um papel importante, uma vez que, permitem refletir sobre o imaginário e as expectativas que existem e que têm sido difundidas a respeito de sua especificidade e de sua importância na educação.

  1. Primeiras décadas da Sociologia no Brasil.

      A história da Sociologia no Ensino Médio, segundo Meucci (2000), se confunde com a história da organização do sistema educacional brasileiro e com a constituição do campo das Ciências Sociais. As Ciências Sociais só se iniciaram de maneira real no Brasil com a criação dos cursos nas universidades nacionais, sendo a mais antiga fundada em 1934, a Universidade de São Paulo (USP).

       A institucionalização das Ciências Sociais no Brasil ocorreu por meio do antigo curso normal e do curso secundário, ainda nas primeiras décadas do século XX, e não em cursos regulares de formação específica em Ciências Sociais. Enquanto em alguns países a Sociologia foi introduzida como disciplina nas Faculdades de Direito, no Brasil foi por meio do ensino secundário. No entanto, a produção em Ciências Sociais já existia com trabalhos em geral fruto de uma atividade de autodidatas, formados em disciplinas como Direito, Medicina, Engenharia, que se interessavam pelas transformações e problemas da sociedade brasileira (MEUCCI, 2000).

       Essa produção não associada a um sistema acadêmico favoreceu a inserção da Sociologia enquanto disciplina do ensino secundário, tornando o processo de institucionalização da Sociologia muito mais complexo que somente a inserção da Ciência Social na academia.

        Em fins do século XIX, mais precisamente no ano de 1882, no Império, a disciplina foi proposta pela primeira vez pelo então deputado Rui Barbosa em um projeto que versava sobre a reestruturação do ensino, no qual foi sugerida a inclusão da Sociologia no curso secundário com a nomenclatura “Elementos de Sociologia”, precedida pelas disciplinas “Noções de Economia Política” e “Noções da Vida Social”.

        O debate sobre a possibilidade do conhecimento sociológico já se iniciava no Brasil num momento no qual a Sociologia estava ainda se constituindo na Europa e nos EUA. Vale lembrar que o termo Sociologia foi utilizado por Auguste Comte em 1838. No entanto, foi com Durkheim que a Sociologia conseguiu ser introduzida na universidade francesa, a Sorbonne, como disciplina acadêmica, em fins do século XIX. Porém, somente na década de 1950 a Sociologia se desligou da Filosofia e da moral para constituir um diploma específico (QUEIROZ, 1989).

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