Fichamento Pierre Bourdier - A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura
Por: laryssamnz • 2/6/2015 • Pesquisas Acadêmicas • 1.623 Palavras (7 Páginas) • 7.451 Visualizações
A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura.
O autor critica a concepção que defende a escola como “fator para a mobilidade social”, defendendo que esta instituição, ao contrário, “é um dos fatores mais eficazes de conservação social”, uma vez que legitima as desigualdades sociais. Como apreciação material, o autor lança mão do fato de que estudantes de uma classe superior tem, claramente, mais chance de entrar na universidade do que estudantes de classe média e baixa. No entanto, é necessário “descrever os mecanismos objetivos que determinam a eliminação contínua das crianças desfavorecidas”. Assim, a sociologia pode recorrer ao estudo da herança cultural para explicar essa desigualdade. (p. 41)
No tópico “A transmissão do capital cultural”, o autor defende que a influência desse capital cultural se efetiva através do “nível cultural global da família” que influencia no “êxito escolar da criança”. Além disso, o autor acrescenta que uma análise mais precisa da influência familiar no êxito escolar, deveria levar em conta “o ascendente de um ou outro ramo da família”. (p. 42)
Pierre Bordieu acrescenta que um conjunto restrito de variáveis como o nível cultural da geração presente e da antepassada, bem como a residência podem justificar as variações do êxito escolar. Segundo o autor, essa variação é visível em vários setores além do escolar, como “práticas e conhecimentos culturais” e “facilidade linguística”. Variados elementos como o “ramo do curso secundário” e o “tipo de estabelecimento” escolar, em conjunto com características demográficas da família possibilitam, segundo Bordieu, a uma análise sólida sobre as perspectivas escolares. Além disso, há também uma diferença na família do jovem pertencente à classe popular que ingressou na universidade, seja pelo tamanho do grupo familiar ou por sua situação cultural (p. 43)
Ainda assim, esses são apenas indicadores que servem para medir a situação cultural de cada família. Ainda assim, não informam sobre a “herança que as famílias mais cultas transmitem a seus filhos, nem sobre as vias de transmissão.”. Bordieu invoca uma pesquisa que demonstrava que a parte do capital cultural que mais influencia no êxito escolar era referente às informações sobre a universidade, bem como pela “facilidade verbal” e pela cultura adquirida através das “experiências extraescolares”. (p. 44)
Sobre as crianças dos meios mais favorecidos, estas adquirem saberes e bons gostos que refinam a sua aprendizagem escolar. Observa-se que os conhecimentos culturais são relacionados com o nível social. (p. 45)
Em relação ao nível de aprendizagem linguístico, este está inteiramente relacionado “à aptidão para o manejo da vida escolar”. O autor defende que o obstáculo cultural mais insidioso e grave diz respeito à “compreensão e manejo da língua falada”, principalmente nos primeiros anos da vida escolar. O autor enfatiza que a influência do “meio linguístico de origem” não cessa, no entanto, pois a qualidade da expressão é considerada no “cursus” e, além disso, o manejo linguístico é instrumento de interpretação de estruturas complexas “quer lógicas quer estéticas”. (p. 45-46)
No tópico chamado “A escolha do destino”, é explicitado que as atitudes relativas aos diferentes grupos sociais enquanto a escola, cultura escolar e futuro são, de certa forma, correspondentes a posição social dos pais e das crianças. Sobre as diferentes partes de crianças de quinta série enviadas a escola, em relação às diferentes classes sociais, supõe-se a vontade dos pais ou, a limitação de suas aspirações frente à realidade. Assim, há uma confluência entre o “destino objetivamente determinado” e a classe social pertencente. (p. 47)
Esse desejo reflexo da realidade dos pais pode ser acometido também nas crianças, de modo que justificam a renúncia de enviar seus filhos ao ensino secundário, “logo após o custo do estudo, o desejo da criança de não prosseguir os estudos.”. Justifica, pois o autor, que não pode ser diferente se não houver chances mínimas de êxito escolar para as classes menos favorecidas. Diferente dessas classes populares há maior propensão de êxito nas classes médias, pois os estudantes são encorajados pelos pais e há uma aspiração escolar que contrabalanceia a “privação cultural”. (p. 47-48)
A realidade está inteiramente relacionada à atitude escolar da criança, segundo a interiorização e a apreensão das oportunidades objetivas. O autor lança a mão de uma explicação psicológica de que as atitudes relativas ao futuro estão relacionadas às probabilidades de sucesso ou derrota anteriores. Em síntese, as condições influem para designar esperanças “razoáveis” e “realistas”. Assim, o capital cultural e o ethos são pontos determinantes na definição das “condutas escolares”, sendo “a atitude da família a respeito da escola”, aspecto mais relevante. (p. 50)
Segundo o autor, “as cartas são jogadas muito cedo”. O que influi diretamente na herança é a escolha da seção e estabelecimento de ensino, bem como os “resultados dos primeiros anos de escolaridade”. (p. 51)
No tópico “O funcionamento da escola e sua função de conservação social”, observa-se a “responsabilidade da escola na perpetuação das desigualdades sociais”. Para que se perpetue, segundo o autor, as desigualdades sociais é preciso que os educadores através de suas técnicas e adoção de conteúdos ignorem essas desigualdades. Assim, “o sistema escola é levado a dar sanção às desigualdades iniciais diante da cultura”. A pedagogia não oferece as mesmas condições a todos, ao considerar aquilo que foi dado apenas a alguns, além de excluir as interrogações sobre como transmitir a todos os conhecimentos que se perpetuam pelas classes sociais de forma desigual e desvaloriza tal perspectiva. (p. 53)
Segundo o autor, os educadores são frutos de um “sistema voltado para a cultura aristocrática” e que, portanto, “inclinam-se a desposar os seus valores”. (p. 54)
As crianças das classes médias não têm senão a bagagem escolar, e não possuem o “o estilo, o bom gosto, o talento.”. Assim, adquirem apenas os conhecimentos escolares e podem, ainda, serem renegados pela escola por seus comportamentos demasiados “escolares”. O autor defende que o sistema de ensino transmite e exige uma cultura aristocrática. (p. 55)
A escola ao utilizar a linguagem, acaba por transmitir e perpetuar o “significado que as classes cultas conferem ao saber erudito.” É verificada através de processos de avaliação como o teste oral, as diferenças existentes entre os estudantes de diferentes origens sociais. Assim, a escola funciona como recrutamento e seleção daqueles que podem satisfazer as exigências que se lhe impõe àqueles que pertencem um capital cultural. Bourdier aponta que as crianças que não possuem nem o capital cultural nem a boa vontade cultural se refugiam em uma atitude negativa. Assim, como resposta a esse desafio, “o sistema escolar deveria dotar-se dos meios para realizar um empreendimento sistemático e generalizado de aculturação, do qual ele pode prescindir quando se dirige às classes mais favorecidas”. O autor evoca a ingenuidade de crer que o sistema que define seu recrutamento, apontasse suas contradições e impedisse a conservação social de que a escola se encarrega. (p. 56-58)
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