TROPICÁLIA E A CULTURA POLÍTICA BRASILEIRA
Por: Khinborges • 9/1/2020 • Trabalho acadêmico • 1.594 Palavras (7 Páginas) • 249 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC | |
Discliplina: Cultura Política | Professor: Cláudio Penteado |
Nome: Khin Stephanie Silva Borges | RA: 21043813 |
Noturno |
TROPICÁLIA E A CULTURA POLÍTICA BRASILEIRA
Neste trabalho, busquei fazer um movimento Tropicália como um elemento importante na constituição da cultura política principalmente na década de 60. Além disso, como expressão do movimento trago a análise de trechos da música Tropicália de Caetano veloso sob a ótica de dois autores e coloco minhas impressões quanto à questão da identidade nacional e a questão do edenismo.
MOVIMENTO TROPICÁLIA
Durante o período de grande repressão política e cultura, referente à era da ditadura militar, surgiu o Tropicalismo, um movimento de ruptura que sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira entre 1967 e 1968 (OLIVEIRA, 2007). Devido à repressão, havia uma larga crença disseminada na esquerda brasileira de que o país vivia um período pré-revolucionário. Junto a isso, havia a censura sobre os meios de comunicação e manifestações artísticas. Isso fez com que, se gerasse um intenso processo de politização da produção artística, como uma estratégia revolucionária. Neste contexto, o movimento demonstra um grande processo de influência cultural e política, pois se olharmos a noção de CARNEIRO (1999), cultura política se refere “a um conjunto de atitudes, crenças e sentimentos que dão ordem e significado a um processo político, pondo em evidências as regras e pressupostos nos quais se baseia o comportamento de seus atores.”
Havia um comportamento e reinvindicações em evidência. Havia um forte querer e uma necessidade em ver a modernização da sociedade brasileira (COELHO, 1989). Fruto de uma avaliação subjetiva do sistema político que despertou sentimentos nos indivíduos em relação à ele (Almond e Verba apud CARNEIRO, 1999).
Por isso, o tropicalismo foi um período de grande fertilidade da produção cultural brasileira que contou com manifestações artísticas de diferentes ramos culturais. O critério básico para a arte era o de que a obra estivesse engajada com o
“realidade brasileira” (COELHO, 1989), ser o reflexo da situação vivida pelo povo brasileiro. Assim, o tropicalismo trouxe à tona uma realidade brasileira complexa. No universo da música, “as canções compunham um quadro crítico e complexo do País
– uma conjunção do Brasil arcaico e suas tradições, do Brasil moderno e sua cultura de massa e até de um Brasil futurista” (OLIVEIRA, 2007).
De acordo com OLIVEIRA (2007):
a Tropicália transformou os critérios de gosto vigentes, não só quanto à música e à política, mas também à moral e ao comportamento, ao corpo, ao sexo e ao vestuário. A contracultura hippie foi assimilada, com a adoção da moda dos cabelos longos encaracolados e das roupas escandalosamente coloridas.
Nota-se então que o movimento trouxe consigo uma carga de mudanças culturais, morais e políticas importantes para os brasileiros da época como uma forma de revolução ao sistema político contemporâneo. Isso valida o Movimento Tropicália como um objeto típico de estudo sobre cultura política já que como CARNEIRO (1999) dispõem em sua literatura “valores e atitudes frente ao sistema político social constituem objetos típicos dos estudos sobre cultura política”.
TROPICÁLIA, de Caetano Veloso
Um dos artistas mais influentes e importantes no movimento Tropicália foi o cantor e compositor Caetano Veloso. Sua música Tropicália é tida como o símbolo do movimento e sua análise revela muito sobre a identidade nacional e a forma como que o brasileiro lida com as questões do cotidiano como política e trabalho.
Como ponto de partida da análise da canção, as referências são o professor TORLEZI (2008) que faz uma interpretação através da análise por discurso e COELHO (1989) que parte de uma ótica de uma sociedade brasileira produto de dois brasis: um arcaico e outro moderno.
Sobre a cabeça os aviões
Sob os meus pés, os caminhões Aponta contra os chapadões, meu nariz Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval
Eu inauguro o monumento No planalto central do país
No trecho acima, é evidenciada a capital do país, Brasília, na elucidação do monumento do planalto central do país, polo aglutinador dos diferentes “aspectos da sociedade brasileira: a modernidade dos aviões e caminhões e o atraso dos chapadões” COELHO (1989). Este poder, que rege sob uma racionalidade moderna é responsável por organizar o movimento e ao mesmo tempo abre espaço para o carnaval. Revelando uma das características do brasileiro que essa dupla identidade daquele que trabalha e ao mesmo tempo se diverte, algo que em que o próprio brasileiro se reconhece como “sofredor conformado e alegre” CARVALHO (1998).
Viva a bossa, sa, sa
Viva a palhoça, ça, ça, ça, ça
O refrão acima, segundo TORLEZI (2008) realiza uma associação fonética entre “palhoça” e “palhaço”, simbolizando, o povo brasileiro, “feito de bobo” pelo todo poderoso governo. Neste trecho, podemos verificar um traço marcante da cultura política do Brasil, em que o brasileiro é tido como um indivíduo súdito Almond e Verba (apud CARNEIRO, 1999). O que implica em uma sociedade onde os indivíduos mantem um posicionamento passivo em relação à participação política.
O monumento é de papel crepom e prata Os olhos verdes da mulata
A cabeleira esconde atrás da verde mata O luar do sertão
O monumento não tem porta A entrada é uma rua antiga, Estreita e torta
E no joelho uma criança sorridente, Feia e morta,
Estende a mão
Viva a mata, ta, ta
Viva a mulata, ta, ta, ta, ta
No início da segunda estrofe, se faz uma comparação entre a beleza e racionalidade de uma construção como o monumento e as belezas naturais. Fala-se da mulata de olhos verdes, a verde mata e o luar do sertão, representando símbolos das belezas naturais do país. Neste trecho é evidenciado o sentimento edênico do autor da canção e que é o mesmo sentimento predominante no brasileiro identificado nas pesquisas de José Murilo de Carvalho (1998).
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