A MEGA EMPREENDIMENTO E EXPANSÃO DO AGRONEGÓCIO EM CAMPESTRE DO MARANHÃO FRENTE A ESTRATÉGIAS DE RESISTENCIA
Por: Rodrigo Martins • 17/1/2020 • Artigo • 4.723 Palavras (19 Páginas) • 157 Visualizações
MEGA EMPREENDIMENTO E EXPANSÃO DO AGRONEGÓCIO EM CAMPESTRE DO MARANHÃO FRENTE A ESTRATÉGIAS DE RESISTENCIA
Área temática: Ciência Política
Autores: Rodrigo Martins Azevedo; Maira Caroline Sabóia Silva[1]
Instituição: Universidade Estadual do Maranhão - UEMA
RESUMO
Este artigo é resultado da execução do plano de trabalho “Mapeamento da Rede de Negócios e Expansão do Agronegócio na Microrregião de Imperatriz-MA”.O trabalho foi desenvolvido a partir de um levantamento para revisão de bibliografais disponíveis sobre a temática, participação em eventos que abordaram a situação de impactos de grandes empreendimentos, entrevistas abertas, visitas ao município de Campestre do Maranhão. Com o desenvolvimento desta pesquisa, já foi possível perceber como estratégias empresariais da multinacional Maity Bioenergia S\A têm sido muito bem articuladas com autoridades políticas e com os planos de “ideal desenvolvimento”. Utilizei fontes de estudos que abordam a realidade pesquisada sobre as configurações estratégicas dos grandes investimentos, com o objetivo de identificar como tem se expandido o agronegócio e que tipo de relações são estabelecidas, além de tratar sobre povos e comunidades tradicionais que estão sendo afetados pela devastação e expansão.
Palavras-chave: Rede de Negócios; Expansão do agronegócio; Maity.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho é resultado de um desdobramento tudo da execução do plano de trabalho “Mapeamento da rede de negócios e expansão do agronegócio na microrregião de Imperatriz- MA”[2] que faz parte do projeto “Mega Empreendimentos e Projetos de Desenvolvimento: a construção de uma nova cartografia dos conflitos sociais na microrregião de Imperatriz- MA”. O Plano vem sendo executado alinhado com os desdobramentos dos estudos iniciados em outubro de 2016 do Grupo de Pesquisa do Brasil Central[3].
Na pesquisa me proponho a identificar e analisar como algumas agroestrategias entendendo essa terminologia a partir de Almeida (2010) que conceitua que são estratégias “acionadas pelos interesses vinculados ao agronegócio, com fim de expandir seu domínio sobre amplas extensões de terra no Brasil” (Almeida,2010, p. 101). Essas ações tomadas sob interesses econômicos privados que tem se articulado e com a expansão tem impactado as lutas de autoafirmações de quebradeiras de coco e grupos de trabalhadores e trabalhadoras rurais, assentados e pequenos produtores nessa microrregião.
Esse empreendimento que esta ligada à monocultura de cana de açúcar e ao se instalar no município de Campestre do Maranhão adotou estratégias e políticas que tem dado muito certo para seus negócios e tem alterado completamente o modo de vida campesina que Marques (2004) muito bem conceitua “como um conjunto de práticas e valores que remetem a uma ordem moral que tem como valores nucleantes a família, o trabalho e a terra” (Marques. 2004, p. 145), que está ao redor e que ainda resiste.
Além de referências para idealizar e orientar na prática de pesquisa busquei algumas teorias que contextualizam a realidade social com categorias analíticas, para compreender relações que os grandes projetos econômicos privados estabelecem tanto em formas de estratégias de expansão como com os grupos sociais que já habitavam o território no qual empresas se instalaram. Compreendo através de Harvey (2004) que a inserção de grandes conglomerados econômicos no sudoeste do Maranhão obedecem características do que o autor chama de acumulação por meio de espoliação.
Esses empreendimentos são projetados a partir da ideologia capitalista e seus impactos devastadores são tratados por Almeida (2005, p.27) como um “processo predatório”. Tanto o Harvey (2004) quanto Almeida (2005) ao tratarem sobre o comportamento das grandes organizações, traduzem como as comunidades e povos tradicionais são afetados, além se esclarecerem como as estratégias são desenvolvidas e envolvem múltiplas relações. Na perspectiva de compreender melhor como se estabelece algumas relações aciono Foucault (1979) e sua noção de território\região que diz que inicialmente é uma ideia jurídica e política o que remete a relações de poder.
Existe um discurso desenvolvimentista alinhado com as ofertas de emprego que tem prometido muito para as pessoas. A ideologia capitalista tem sido tratada com prioridade sendo destaque pela grande produção, a contribuição para o Produto Interno Bruto do Estado, uma chamada “responsabilidade social” e a também “reponsabilidade ambiental” que são muito noticiadas pelos veículos de mídia e são um dos orgulhos dessas empresas. Com isso é possível fazer uma reflexão sobre o que é apresentado pelas empresas e o que realmente tem acontecido na vida de muitos grupos sociais. Nos sites da empresa são apresentadas diversas ações, selos ambientas e projetos sociais e que ao fazer uma analise com moradores que estão próximos dessas empresas e principalmente grupos autoafirmativos de quebradeiras e trabalhadores rurais já se percebe uma realidade totalmente diferente.
A pesquisa foi idealizada a partir de pensamentos sociológicos reflexivos adotando assim a perspectiva onde se compreende que a realidade que é estudada vai resultar em várias possibilidades de interpretações e que a pesquisa trata de um “ponto de vista” dentre outros existentes ou mesmo que podem ser construídos Bourdieu (1998).
Em consonância com o que foi até aqui citado, é possível perceber como a pesquisa foi desenvolvida e sobre as manipulações metodológicas que somam para os resultados que se esperam ser alcançados. Portanto me proponho a identificar a rede de negócios em expansão no município de Campestre do Maranhão, observando as características do mercado da terra e os recorrentes atos de grilagem e outras formas de apossamento ilegítimo, assim como, refletir sobre as atuais relações econômicas e seus efeitos nas formas de organizações política e econômica de grupos, povos e comunidades tradicionais situados em Campestre do Maranhão.
Era uma vez o “garimpo do coco”, agora é só o amargor da cana de açúcar
O município de Campestre do Maranhão segundo dados do (IBGE 2010) possui uma população estimada em 14.127 pessoas segundo o Censo de 2016. Abrange quatro povoados: Cabeceira Grande, Cachimbeiro, Ramal do Cachimbeiro e Vila Nova. A área é de 615,379 k² e faz fronteiras com Ribamar Fiquene ao Norte; ao Sul com o município de Porto Franco; com o município de Lajeado Novo ao leste e ao Oeste com o Estado do Tocantins.
Campestre foi elevado à categoria de município pela Lei Estadual n° 6.143, de 10/11/1994, sendo separado de Porto Franco. A região que compreende o município atualmente já foi conhecida como “garimpo do coco”. A abundancia dos babaçuais foi o fator mais importante para que surgisse o então povoado. Várias quebradeiras e muitos homens iam em busca do babaçu em meados de maio e ficavam até o período chuvoso começar e voltavam para suas casas. Na década de 50 comércio de amêndoa de babaçu na praça de Belém do Pará estava em alta. Esse grande interesse industrial fazia com que vários barcos motores saíssem carregados dos portos de Tocantinópólis e Porto Franco rumo ao Pará.
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