A PRODUÇÃO SOCIAL DA IDENTIDADE E DA DIFERENÇA
Por: Andressa Sousa • 9/6/2021 • Resenha • 449 Palavras (2 Páginas) • 335 Visualizações
A PRODUÇÃO SOCIAL DA IDENTIDADE E DA DIFERENÇA
Parece difícil que uma perspectiva que se limita a proclamar a existência da diversidade possa servir de base para uma pedagogia que coloque no seu centro a crítica política da identidade e da diferença. Na perspectiva da diversidade, a diferença e a identidade tendem a serem naturalizadas, cristalizadas, essencializadas. São tomadas como dados ou fatos da vida social diante dos quais se deve tomar posição.
A identidade é aquilo que se é: “sou brasileiro”, uma característica independente, é autocontida e autossuficiente. Na mesma linha de raciocínio a diferença é aquilo que o outro é: “ela é italiana”, a diferença é concebida como autorreferenciada. A identidade e a diferença estão em uma relação de estreita dependência. A forma afirmativa como expressamos a identidade tende a esconder essa relação. Quando digo “sou brasileiro” só faz sentido porque existem outros seres humanos que não são brasileiros. Da mesma forma, as afirmações sobre diferença só fazem sentido se compreendidas em sua relação com as afirmações sobre a id entidade. Dizer que “ela é chinesa” significa dizer que “ela não é japonesa” etc., incluindo “ela não é brasileira”, isto é, que ela não é o que eu sou, dependendo assim de uma cadeia, em geral oculta, de declarações negativas sobre (outras) identidades. Consideramos a diferença como produto da identidade.
A identidade e a diferença são resultado de atos da criação linguística, por isso devem ser ativamente produzidas, somos nós que as fabricamos, no contexto de relações culturais e sociais. É apenas por meio de atos da fala que instituímos a identidade e a diferença como tais. De acordo com Saussure, os elementos - os signos - que constituem uma língua não têm qualquer valor absoluto, não fazem sentido se considerados isoladamente, o conceito de “vaca” só faz sentido numa cadeia infinita de conceitos que não são “vaca”. Sendo assim a identidade e a diferença não podem ser compreendidas fora dos sistemas de significação nos quais adquirem sentido, isso não significa dizer que elas são determinadas, de uma vez por todas, pelos sistemas discursivos e simbólicos que lhes dão definição, pois a linguagem vacila sendo caracterizada pela indeterminação e pela instabilidade.
A identidade, tal como a diferença, é uma relação social e está sujeita a vetores de força, a relações de poder. O poder de definir a identidade e de marcar a diferença não pode ser separado das relações mais amplas de poder. A identidade e a diferença não são inocentes. Fixar uma determinada identidade como a norma é uma das formas privilegiadas de hierarquização das identidades e das diferenças. A normalização é um dos processos mais sutis pelos quais o poder se manifesta no campo da identidade e da diferença
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