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A ralé brasileira: quem é e como vive - Capítulo 12

Por:   •  6/7/2017  •  Resenha  •  1.299 Palavras (6 Páginas)  •  3.455 Visualizações

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O capítulo 12 do livro A Ralé Brasileira de Jessé Souza, que tem por título A instituição do fracasso – A educação da Ralé, foi escrito por um de seus colaboradores, Lorena Freitas, e tem como proposta discutir o sistema de educação brasileiro baseando-se em uma pergunta central: por que as nossas escolas públicas, em sua maioria, falham quanto à assumida tarefa de oferecer aos jovens pobres de todo o Brasil possibilidades objetivas de subir na vida?

Para responder a tal questão a autora usa brilhantemente como pano de fundo a história de dois jovens da ralé (Anderson e Juninho) para mostrar como dois fatores fundamentais (desorganização familiar e má-fé institucional) acabam por determinar o fracasso escolar e posteriormente profissional de toda uma classe. Fracasso esse que aparece a todos como sendo individual, ou seja, sendo de responsabilidade pessoal de cada indivíduo, obscurecendo seu caráter coletivo.

INEDUCÁVEIS? ANDERSON E JUNINHO

Apesar da semelhança na precariedade de renda vivida por Anderson e Juninho existe um fator determinante que diferencia a vida dos dois: a organização familiar. “Quando falamos de vida familiar organizada estamos nos referindo a qualquer configuração familiar que seja constituída por pessoas capazes de oferecer uma situação de vida segura, estável e emocionalmente equilibrada às crianças”. Foi em um contexto assim que Anderson foi criado. Filho de pai mecânico e mãe dona de casa, não teve em seus pais exemplos de pessoas cultas ou bem-sucedidas, mas obteve deles um grande incentivo para a dedicação nos estudos no acompanhamento das tarefas escolares, na regulação de seus horários para que tivesse um tempo reservado para o estudo, e, mais importante, sofrendo com cada nota baixa no seu boletim e demonstrando seu orgulho a cada vez que ele ia bem no colégio. A importância desse último componente se dá pelo fato de ser ele o responsável por criar nas crianças uma responsabilidade moral em relação aos estudos. Nas palavras de Lorena, “Quando estudar se torna para nós uma responsabilidade moral, estudamos não apenas pelo proveito que podemos retirar do estudo, mas porque acreditamos em seu valor e isso nos motiva a estudar ainda mais porque estamos convencidos de estar realizando uma ação boa em si, que nos tornará melhor pelo fato de a realizarmos”.

Foi o fato de possuir uma vida familiar organizada que permitiu a Anderson ir mais longe que Juninho. Este, ao contrário do amigo, é oriundo de uma família que não conseguiu cumprir a função de garantir o desenvolvimento satisfatório da segurança afetiva entre seus membros. Apesar de seus pais reconhecerem a importância do estudo e sonhar com o seu sucesso escolar, os conselhos e incentivos a esse favor não encontram um “terreno fértil” onde possam florescer, visto que esses incentivos não vêm acompanhados de exemplos concretos que os legitimem, uma vez que os próprios familiares possuem uma relação distanciada com o conhecimento. “Devido a isso, esses familiares costumam naturalizar o desinteresse e a indisciplina das crianças na escola, [...], e a disciplina que os estudos exigem é vista com algo antinatural, pois vai de encontro à “liberdade natural” das crianças”. O que se confunde com “liberdade natural” é na verdade fruto de um modo de vida que exige pouco controle dos impulsos e que, por isso, não prepara crianças como Juninho com a disciplina e o autocontrole suficientes para um bom desempenho no mundo escolar e profissional.

Como visto, a organização familiar é um fator crucial para desenvolver nas crianças as disposições que lhes serão necessárias para o sucesso escolar e profissional – identificação afetiva com o conhecimento, concentração para os estudos, disciplina, autocontrole e capacidade de pautar suas ações no presente a partir de um planejamento racional do futuro. Em contrapartida, essa organização familiar é insuficiente quando a própria escola passa a ser um obstáculo determinante na caminhada rumo ao sucesso, como foi no caso de Anderson. Assim como a maioria das crianças da ralé, ao longo de sua vida escolar Anderson teve dificuldade com matérias que se utilizam de uma linguagem mais abstrata, como a matemática e a física, linguagem essa que ele não pode desenvolver em seu lar, e isso foi o suficiente para que a escola o castigasse com violência a ponto de fazê-lo desacreditar de si mesmo. Segundo a autora, isso ocorre porque “Antes de enxergarem as causas que determinam as dificuldades dos alunos, os profissionais da instituição escolar só veem os efeitos dessas dificuldades. [...] A prática comum é então punir e castigar aqueles que apresentam esse tipo de comportamento, encarado como consequência de uma escolha racional de cada um”. Em cima disso, é constituída uma rede de informações entre todos os agentes da escola a respeito de cada aluno, criando uma espécie de currículo que acaba por estigmatiza-lo.

A MÁ-FÉ DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR

Ao falar sobre a má-fé institucional, Lorena Freitas faz referência

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