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ARTISTA DE RUA DA PRAÇA DO FERREIRA: O Artista para além da Arte

Por:   •  26/4/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.753 Palavras (8 Páginas)  •  239 Visualizações

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE

LICENCIATURA EM CIÊNCIAS SOCIAIS

DISCIPLINA DE ANTROPOLOGIA II

FLÁVIA KARYNNE MORAIS ALMEIDA

LUÍZA DA SILVEIRA SERRA

RELATÓRIO DE CAMPO

ARTÍSTAS DE RUA DA PRAÇA DO FERREIRA:

O Artista para além da Arte.

Fortaleza

Novembro_2017

  1. Justificativa

O centro de Fortaleza é um bairro considerado como um berço histórico da cidade, além de ter uma atividade comercial predominante. A Praça do Ferreira fica situada no Centro de Fortaleza, possui uma área total de 7.603 metros quadrados e pelo extenso movimento de pessoas que todos os dias passam por ela, é um ponto estratégico para vendedores ambulantes e performances artísticas. A toda hora existe na praça uma movimentação grande de pessoas; os que estão de passagem; os que sentam e passam um tempo conversando nos bancos (geralmente trabalhadores e idosos); os moradores de rua que fazem da praça seu abrigo (um censo levantado pela Secretaria de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos e Combate a Fome – SDHDS, realizado esse ano, estima que cerca de 247 pessoas utilizam a Praça do Ferreira para se abrigar durante o dia e a noite); as pessoas que param para ver as performances artísticas e os próprios artistas de rua, que são o foco da nossa pesquisa.

Essa variade pode causar também uma curiosidade pela individualidade. O que levou essas pessoas a escolherem essa forma de sustento? Qual a história por trás da arte exibida? Qual a vivência do artista por trás da arte? E como deve ser a rotina diária desse trabalhador informal? Esses questionamentos nos levou a querer entender tudo isso através desse projeto. Não deixar o perceptível de fora, mas ir além dele e entender as motivações e sentimentos que levam essas pessoas a enfrentarem o imprevisível trabalho artístico das ruas. 

  1. Abordagem de Campo

A metodologia utilizada é de uma pesquisa qualitativa, realizada por meio de entrevistas e registros fotográficos.

Chegamos à Praça do Ferreira por volta de 11:30 para começarmos nossas atividades. Nosso objetivo como pesquisa etnográfica é registrar um pouco de quem são os sujeitos que trabalham na praça como artistas de rua, o plano inicial era de passar um dia inteiro acompanhando os artistas, mas por problemas externos a visita só pode ser marcada nesse horário. Outro problema que encontramos também foi o de alguns dos artistas não aceitarem ser entrevistados, nos permitindo apenas fotografar.

O primeiro artista a ser avistado e entrevistado foi o Edson quebra-coco. A princípio não deu para tirar fotos da sua performance pois ele estava rodeado de várias pessoas e quando nos aproximamos a performance já estava no fim, Edson afirmou que já estava de saída e precisava arrumar suas coisas para não ser multado pela fiscalização, que estava presente no dia. Só no final da sua apresentação que conseguimos nos aproximar. Fora isso, não tivemos nenhuma dificuldade no contato, ele foi bastante acessivo e até brincou falando que “já sabia que nós queríamos” quando nos aproximamos.

    Edson quebra coco trabalha há 28 anos como artista de rua, sendo essa a sua única renda. Varia a exposição da sua arte entre a praça do ferreira e a praça José de Alencar. Ele iniciou o seu trabalho no dia 29/11 às 22h e durante a entrevista às 12h disse que já estava voltando para casa. É natural de Fortaleza. Informou que já viajou e participou de vários programas de TV, os citados são: Programa do Silvio Santos, Faustão, Eliana, Ratinho, Caça Talento, Astros, Brothers, Ana Maria Braga, Encrenca e Rede tv. Ao perguntarmos se ele consegue se manter somente com a arte, ele nos disse que fatura até 3 mil reais em um mês. Sua outra ocupação é trabalhar numa academia à noite.

Notamos a ausência de artistas no período da manhã, talvez seja por conta dos poucos lugares com sombra nesse horário. Fomos até o "Beco da Marisa", localizado na praça para entrevistar os artistas do artesanato.

  Sentamos ao lado do Dalvanio, conhecido como Ócio. Ele tem 30 anos e estudava cinema e audiovisual na escola de formação Vila das Artes antes de abandonar e se dedicar somente ao artesanato. Quando adolescente, ele já sabia fazer algumas bijouterias guiado por tutoriais do youtube, mas abandonou a prática para se dedicar ao trabalho formal e decidiu voltar ao perceber que estava ficando mais velho e precisava investir em algo com um significado maior, decidiu então investir no artesanato, com o objetivo de conhecer outros Estados. Com o trabalho do artesanato, já viajou para Piauí, Belém, Salvador, Recife e para cidades próximas de Fortaleza, em todas as vezes foram viagens breves. Esse ano que pretende “mochilar” e ficar fora entre 8 meses à um ano.

Para ele, trabalhar e viajar com o artesanato vai para além do superficial. Fala que vender artesanato funciona como uma pesquisa do contexto em que ele vive, que é o da margem, da periferia. Relatou que algumas pessoas não param pra conversar pois acham que ele vai pedir esmola: "estamos vendendo algo, não estamos mendigando". Escolheu essa forma de pesquisa e disse que não queria vivenciar a marginalização através do crime, pois não estava “afim”. 

  A sua renda é mantida somente pelo artesanato. Disse que com a renda dá para pagar o aluguel, comer e se divertir. Mora com uma gata chamada Mel. Seus dias de folga são às segundas. Trabalha no centro de terça à sexta e aos sábados e domingos desce para vender na praia, lá ele não tem um ponto fixo, é onde acha que deve encostar. Fala que é importante chegar cedo para pegar pontos favoráveis, já que eles usam o método do mangueio que é chamar o cliente. Os da ponta tem mais chance de vender do que os do meio, pois são os que vão ter o primeiro contato com os clientes. Um outro motivo de chegar cedo é pra limpar os fluídos que ficam na calçada, já que os moradores da praça do Ferreira costumam usar o beco como banheiro. 

  Finalizada a entrevista, Ócio nos indicou um casal de colegas do lado para darmos continuidade ao trabalho e nos ofereceu duas lascas de uma pedra brilhante chamada “Pepita”, produzindo um anel feito de fio de cobre na hora. Nos aproximamos então de Igor e Juliane, que disse que podíamos chamá-la de Ju. Um casal de artistas que também vendem artesanato no "beco da Marisa". Os dois são naturais de Fortaleza. Trabalham há 3 anos com artesanato, se conheceram antes de começarem a profissão e iniciaram esse projeto. Igor tem 20 anos e Ju tem 28, eles se mantém somente com o artesanato, tendo como principal objetivo juntar dinheiro para viajar. Os locais já visitados foram: Bahia, Brasília, Goiás, Minas, Natal e Recife. Muitas vezes conseguiram o dinheiro da passagem vendendo suas obras na própria rodoviária. Essa prática de viagens que é comum entre eles me lembra muito o que Tim Ingold fala sobre as práticas de movimento e peregrinação. Há uma bagagem de conhecimento cultural enorme acumulado por essas pessoas em suas práticas de peregrinação.

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