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Adorno e a Industria Cultural

Por:   •  3/6/2015  •  Trabalho acadêmico  •  1.981 Palavras (8 Páginas)  •  255 Visualizações

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Adorno e Horkheimer - "Indústria Cultural"

        Indústria cultural é um termo que foi criado por Adorno e Horkhimer, em meados da década de 40, quando escreviam e estudavam sobre a dialética do esclarecimento. O livro, que leva este nome, faz duras críticas ao processo de desencantamento de mundo. No "século das luzes", os dois autores tinham um posicionamento muito categórico a respeito deste assunto. Para compreender melhor o termo "indústria cultural" devemos fazer uma breve referência aos conceitos de Adorno e Horkheimer, para que a questão melhor se elucide.

        O processo de esclarecimento tem por objetivo trazer ao pensamento do homem uma maior clareza, a possibilidade de enxergar o mundo de forma única e esclarecer as indagações constantes em nossos pensamentos. Isso sempre foi objeto de estudo dos homens, questões levantadas e atribuídas a coisas que o pensamento humano não pode explicar. Os mitos nos trazem um mundo superficial ao da realidade e, desta maneira, acabamos por temê-lo. Ao passo que não podemos responder as perguntas nos colocamos no pólo passivo da questão, nos submetemos à sujeição de idéias “inexplicáveis”, o que nos gera medo e apreensão.

        “O programa do esclarecimento era o desencantamento do mundo. Sua meta era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo saber. Bacon, “o pai da filosofia experimental” Pág 5

        Podemos observar em algumas partes do livro Dialética do Esclarecimento” que, para Adorno e Horkheimer, o processo de esclarecimento nos torna de uma forma tiranos, fazendo que o mundo esqueça suas raízes e passe a flagelar-se entre métodos e teorias, desumanizando todas questões, e atribuindo sempre a tudo uma determinada metodologia ou tese.

        O que isto tem a ver com a indústria cultural? Para Adorno e Horkheimer o processo de desencantamento de mundo não somente afetou a sociedade como um todo, como também afetou o âmbito cultural. Em um trecho do livro eles expressam isto de forma muito objetiva e clara: “Com o progresso do esclarecimento, só as obras de arte autênticas conseguiram escapar à mera imitação daquilo que, de um modo qualquer, já é." pág. 10. Notamos que, para os autores, o processo de produções artísticas estava em declínio, os meios artísticos e culturais começam a receber um caráter mais comercial, muitos artistas de renome começam a perder seu prestígio e concorrer com o que agora chamamos de indústria cultural. A cultura, a partir de um certo momento, passou a deixar de ser simplesmente “cultura”, tendo sido dominada pela indústria. As obras passaram a ser massificadas, não sendo mais criadas apenas pelo seu aspecto cultural, mas sim com o claro objetivo comercial, com a meta de se tornar uma fonte de lucro. É sempre inerente à criação a busca pelo benefício financeiro. Muito pior do que isso, as obras são usadas para criar padrões a serem seguidos pelas pessoas que, apesar de terem esclarecimento, se deixam seduzir pela indústria.

                As grandes transformações de pensamento acabam por transgredir o limite intelectual e passam a reger quase todos os meios da sociedade, novas estruturas trabalhistas, novos métodos de pesquisa, nova forma de expressão na arte, dentre muitos aspectos que aos poucos foram incorporados no dia-a-dia. Um movimento tão forte que seria quase impossível não se submeter ao “tsunami” de idéias e novas conjunções sociais, “o poder está de um lado e a obediência do outro.” (pág. 13). Sem muita dificuldade o esclarecimento foi instaurado de forma vigorosa e efetiva, a cada dia era possível perceber que um pensamento hegemônico estava então vigorando e penetrando todos os prismas da sociedade.

        O termo "indústria cultural foi usado pelos autores em questão objetivando justificar o comportamento da cultura e da arte em meio à sociedade capitalista industrial da época.

        A principal crítica observada, e o sentido de atribuir este termo à situação cultural atual, é que as produções artísticas começaram a ser produzidas somente com o intuito de gerar lucros.

O cinema, o rádio e as revistas constituem um sistema. Cada sector é coerente em si mesmo e todos o são em conjunto. Até mesmo as manifestações estéticas de tendências políticas opostas entoam o mesmo louvor do ritmo de aço. Os decorativos prédios administrativos e os centros de exposição industriais mal se distinguem nos países autoritários e nos demais países. (pág. 57)

        Podemos notar a clara referência comparativa que Adorno e Horkheimer fazem com a frase "entoam o mesmo louvor do ritmo de aço.", demonstrando claramente a atribuição conectiva da arte com a indústria. O grande ponto em comum entre ambas é a intenção recorrente de produzir de acordo com o que se necessita. A cultura, antes espontânea, hoje passa por um processo de produção que garante o seu enquadramento com os interesses a que se busca atender. E o pior: em detrimento de seu esclarecimento, as pessoas se deixam seduzir pela indústria cultural, ainda que percebam que as obras culturais que consomem não mais possuem a essência original. Agem como se fossem ignorantes acerca do assunto.

        Para os autores, a indústria cultural tem ainda um papel quase que patológico para os detentores dos veículos midiáticos, pois além de fazer parte de um  grande movimento capitalista, guia e orienta os indivíduos no mundo, logicamente de forma tendenciosa, com o intuito de desarticular qualquer revolta ou manifestação contrária às estruturas capitalistas do sistema. Pois com toda as informações manipuladas por pequenas concentrações de poder, as massas não produzem uma autonomia consciente. Como se vê descrito no livro, a “sociedade permanece irracional apesar de toda a racionalização” (Pág. 59). As massas perdem tanto o seu poder de questionar que são categorizadas pela indústria e aceitam tal fato pacientemente. Algumas faixas do público recebem um tipo de cultura, enquanto outras faixas recebem tipos diferentes, mais complexos, requintados, simples. Ou, até mesmo, a indústria decide que determinada faixa não tem direito à cultura. Ora, se a cultura hoje está intimamente ligada ao capital, nada mais lógico que faixas menos abastadas da sociedade não sejam dignas do entretenimento oferecido pelo “mercado cultural”. O que se vê é, mais um a vez, a indústria acabando com a proposta que a cultura deveria ter: a de atingir aqueles que de alguma maneira se identificam com a ideia, independentemente da classe a que pertençam.

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