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CORPO E TRANSEXUALIDADE: UMA REFLEXÃO A PARTIR DO FILME A PELE QUE HABITO

Por:   •  20/10/2016  •  Artigo  •  4.901 Palavras (20 Páginas)  •  740 Visualizações

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

MÁRCIO HELDER MELO

CORPO E TRANSEXUALIDADE: UMA REFLEXÃO A PARTIR DO FILME A PELE QUE HABITO

        

Campina Grande/PB

2016

Resumo

O filme “A Pele que Habito” do Diretor de cinema Almodovar, exibido no ano de 2011, que mais parece uma roupagem do clássico Frankstein, em que identificamos o criador e a criatura, no caso dessa história, o Dr. Roberto quebra as regras de conduta para testar uma pele resistente a insetos e queimaduras, mas esse enredo segue de pano de fundo para o que está por trás dessa pesquisa. O Dr. Robert não quebra apenas a conduta médica ao inserir técnicas de transgenese, o que é proibido, em busca de uma vingança, e a partir daí dá-se início a embate psicológico, de uma lado um médico movido pelos fantasmas do passado e envolvido em sua pesquisa e do outro a personagem Vera, que teve seu corpo violado e modificado o seu sexo sem ser consentido, tendo seus hábitos e comportamentos modificados a partir do seu corpo e não o contrário, como ocorre com as transexuais, que primeiro se descobrem mulher, mudam seu hábitos, se reinventam, se transformam e por apenas por último enfrentam a difícil tarefa de mudança de sexo. A partir dessa  temática, busca-se através dessa pesquisa abordar pontos retratados pelo filme sob outros aspectos: o  corpo e transexualidade  numa perspectiva atual e transpassada através da história.

Palavras-Chaves: Biodireito. Corpo. Transexualidade.

Introdução:

A partir do filme de Almodóvar, “A Pele que Habito” (2011), refletimos sobre o lugar no corpo na construção do sujeito.

O filme é um mister de suspense e estranhamento, o estilo que surpreende pelo ineditismo e abre uma gama de debates sobre vários aspectos dos quais destacamos a questão da psicanalise do protagonista, a bioética e o biodireito que segundo Fontes e Pozzetti[1] “... surgem a partir da preocupação humana com a ética nas ciências, em especial, às novas técnicas relacionadas à prática médica e inovação no domínio das ciências biológicas”. A capacidade de interpretação são várias, por se tratar de um obra de arte, e tudo dependerá do olhar de quem os interpreta.

Outro ponto identificado no filme é a questão sobre a identidade sexual e de gênero. O diretor nos convida a transitar sobre um terreno ainda polêmico e não consensual, uma discussão sempre divergente e difícil, visto que qualquer quebra de paradigma em que estejam inseridas: homem e mulher, dos quais foram sendo construídas e sedimentadas durante séculos, é sempre motivo de impasse e calorosas discussões.

O Dr. Robert, quebra a ética ao produzir peles transgênicas, resistente ao fogo e ao envelhecimento e inverte o processo de transexualizador quando invade, de forma brutal, o corpo do personagem Vicente e o “transforma”  em Vera. E será a partir desse processo “inverso” transexualizador que servirá como base as discussões que  se seguirão,  sobre corpo e transexualidade.

        Outro ponto divergente é o limite e entre a ciência e os experimentos com seres humanos, até que ponto, em nome de novas descobertas em prol a saúde do ser humano, pode-se passar por cima de regras impostas a ciência? Vale a pena arriscar no desconhecido mundo do corpo humano em nome em nome de uma ciência renovadora .  podemos avançar com os experimentos em nome

        

2. O CORPO “MUTANTE”

Neste filme, o Dr. Robert Legard interpretado por Antônio Banderas, abre o debate sobre os limites da ciência e seu poder de intercessão, a começar pela experiência de refazer a pele humana através de uma pele resistente, compondo-o por processo transgênico, resistente a picada a qualquer inseto, feito através de controle de qualidade  com mamíferos, a partir de ratos mamíferos  ( barreira natural a malária),  o que seria supor em mamíferos humanos, a pele artificial é mais dura que a pele humana.  Só existe um meio de endurecer a pele, com mutação, transgenese, transferindo informações da célula de um porco para uma célula humana.

Em um diálogo entre Dr. Robert Legard  e com a pessoa que ele chama de Presidente, que se pode concluir que seja da Associação Médica, Robert explica sobre o seu experimento da construção de uma pela feita a partir de experimentos com sangue de boi, na construção de uma pele resistente, neste momento o Presidente o alerta sobre a proibição da aplicação de terapia transgênica em corpo humano, tendo Robert respondido sobre o paradoxo existente nessa determinação, uma vez que há intervenção em tudo que nos rodeia, na carne, na roupa, nas frutas e no entanto não se pode aproveitar o avanço da ciência para melhorar a espécie e finaliza expondo os possíveis benefícios que essas pesquisas poderiam contribuir como a quantidade de doenças  e má formação genética que poderiam ser evitadas com  os transgeneses.

O debate sobre esse assunto é extenso, de um lado um grupo de pesquisadores que apostam nesse estudo o futuro da humanidade e a solução ao combate de doenças que poderiam ser evitadas antes mesmo do nascimento humano e  outros alegam do perigo que pode causar, por não saberem das consequências dessa pesquisa, temem o que possa acontecer no futuro com homens geneticamente modificados, que podem causar tumores e até a morte precoce. Mas esses são apenas alguns pontos de uma gama de argumentos que exploram esse assunto.

        Dando sequência ao diálogo, o Presidente assume que essa ideia passa por sua cabeça, e a impressão que ele dá é que ver com bons olhos sobre essa possibilidade, mas em nome da ética, não excitaria em denunciar o Dr. Robert a comunidade científica, ou seja, as regras sobrepondo-se a crença, terminando sua fala dizendo “a bioética é absolutamente clara a esse respeito”.

        A discussão do filme se passa na região da Espanha, Toledo, em 2012. Corbin, Courtine e Vigarelo ( 2008)[2],  já abordava em sua pesquisa  sobre esse assunto e cita que em 1847, Claude Bernar fez da experimentação um sinônimo de progresso médico, e afirmou que  essa resistência não é atual e descreve “ A literatura atesta, porém uma resistência social recorrente à empreitada experimental dos médicos” e complementa:

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