Estudos Queer
Artigo: Estudos Queer. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: fernandaperes • 6/10/2013 • 1.592 Palavras (7 Páginas) • 247 Visualizações
Breve roteiro de leitura para pessoas interessadas em estudos queer
O roteiro abaixo foi feito para quem deseja se aproximar dos estudos queer. Trata-se de um pequeno guia para iniciantes, com as referências dos textos e breves comentários. A ordem de leitura foi criada apenas para tentar facilitar a compreensão, mas isso não quer dizer que você precisa necessariamente seguir os passos à risca.
Apenas textos em língua portuguesa e espanhola foram selecionados, o que torna a lista muito limitada e incompleta porque a maioria da produção foi escrita em inglês.
Primeiras leituras: muitas pessoas dizem, e com razão, que vários textos sobre os estudos queer são difíceis de serem compreendidos. Por isso, os primeiros textos abaixo são bons para os iniciantes porque simplificam e contextualizam determinadas questões de forma bem didática.
Sugiro começar pelos textos de Guacira e Richard (Louro, Guacira Lopes. Um corpo estranho. Ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte, Autêntica, 2004, e Miskolci, Richard. A Teoria Queer e a Sociologia: o desafio de uma analítica da normalização. In: Sociologias. Porto Alegre: PPGS-UFRGS, 2009. N.21 Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-45222009000100008&lng=en&nrm=iso).
Guacira e Richard possuem vários textos sobre os estudos queer, mas esses dois dão uma boa introdução sobre conceitos centrais e o contexto histórico do surgimento dessas pesquisas e reflexões. Leia esses textos e veja como os estudos queer nasceram também do ativismo político. Em espanhol, uma coletânea ótima para iniciantes é: Córdoba, David, Sáez, Javier e Vidarte, Paco. Teoria queer. Políticas bolleras, maricas, trans, mestizas. Madrid: Editorial Egales, 2ª edición, 2007. Também em espanhol, um site com dezenas de textos ligados aos estudos queer é o http://www.hartza.com/
Em seguida, sugiro ler Foucault, em especial o primeiro volume da História da sexualidade. Trata-se de uma obra que influenciou muito os estudos queer e que será constantemente referenciada pelas demais pessoas. (Foucault, Michel. História da Sexualidade I: A vontade de saber. 3. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1979). Ler alguma coisa de Freud, Lacan, Deleuze e Derrida também é indicado, mas isso você pode deixar para um pouco mais tarde.
O terceiro passo é ler o livro mais citado de Judith Butler, autora americana considerada uma das principais teóricas queer. Ainda temos poucos textos dela traduzidos para a língua portuguesa. Enfrente primeiro Problemas de gênero. Feminismo e subversão da identidade (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003). Nessa complexa obra, considero central a desconstrução que ela faz sobre várias “verdades” sobre as sexualidades, a grande crítica a quem pensa sexualidades e gênero através de binarismos e as explicações em torno da exigência de uma linha coerente entre sexo-gênero-desejo e prática sexual.
Em seguida leia a introdução do livro em que ela responde críticas que recebeu em Problemas de gênero. Trata-se do livro Cuerpos que importan. Sobre los limites materiales y discursivos del “sexo”. (Buenos Aires: Paidós, 2008). Em português, a introdução foi publicada em um livro ótimo organizado por Guacira (O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte, Autêntica, 2001). Aproveite e leia os demais textos dessa coletânea, em especial do inglês Jeffrey Weeks, um autor contemporâneo de Foucault mas que não ficou com a mesma fama. Weeks não é um autor queer, mas nele é possível entender melhor os argumentos da tese da construção das sexualidades, em contraposição à naturalização. Os estudos queer criticam as duas perspectivas através de uma perspectiva desconstrucionista.
Depois disso, provavelmente você vai ficar com muitas dúvidas sobre o conceito de abjeção e abjeto. Parta para as entrevistas com Butler. Uma das melhores está em Como os corpos se tornam matéria: entrevista com Judith Butler (In: Revista Estudos Feministas. Volume 10, número 1, Florianópolis, janeiro de 2002, pp. 155-167. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2002000100009.)
Outro texto de Butler publicado em português, e que ajuda a entender a crítica dela ao modelo de família nuclear burguesa, é O parentesco é sempre heterossexual? (In: Cadernos Pagu, n. 21, 2003, p. 219 a 260, Disponível em http://www.scielo.br/pdf/cpa/n21/n21a10.pdf). Aqui talvez fique mais compreensível a crítica dela no debate sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Outra entrevista interessante, para começar a ler textos além de Butler, é a realizada com a espanhola Beatriz Preciado. Veja, por exemplo, Entrevista com Beatriz Preciado. (In: Cadernos Pagu (28), janeiro-junho de 2007, p. 375 a 405. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-83332007000100016&script=sci_arttext). Aliás, a Pagu é uma das revistas que mais publicou textos relacionados aos estudos queer no Brasil e está toda disponível no sistema Scielo.
Os livros de Preciado ainda não foram traduzidos no Brasil. Sugiro as leituras de Manifesto contra-sexual (Madrid: Editorial Opera Prima, 2002); Multidões queer (disponível em http://www.intersexualite.org/MULTID_ES_QUEER.pdf) e Testo Yonqui (Madrid: Editorial Espasa, 2008). Com essas leituras, você poderá começar a perceber as diferenças entre Butler e Preciado. Se a primeira produz uma leitura mais ligada a um feminismo lésbico, a segunda já pensa mais a partir do universo transgênero.
Mas isso não quer dizer que as reflexões de Butler não prestam para pensar o universo trans. No Brasil, temos bons exemplos disso, tais como os trabalhos de Berenice Bento, Larissa Pelúcio e várias outras pessoas. Berenice é autora do livro O que é transexualidade? (São Paulo: Brasiliense, 2008) e A reinvenção do corpo: a sexualidade e o gênero na experiência transexual (Rio de Janeiro: Garamond, 2006). Nessas duas obras, Berenice analisa o segmento transexual a partir dos estudos queer e, com isso, desmonta a ideia de que existe apenas uma identidade transexual e critica fortemente o discurso médico. Há diversos outros textos dela disponíveis na internet, basta procurar nos sites de busca e no sistema Scielo.
O livro de Larissa é Abjeção e desejo: uma etnografia travesti sobre o modelo preventivo de aids (São Paulo: Annablume, 2009). O texto dela com Richard Miskolci também dá uma boa dimensão de suas reflexões, leia A prevenção do desvio: o dispositivo da aids e a repatologização das sexualidades dissidentes (In: Sexualidad, Salud y Sociedad – Revista Latinoamericana. Rio de Janeiro: CLAM-UERJ, 2009. n. 1 25-157. Disponível em http://www.epublicacoes.uerj.br/ojs/index.php/SexualidadSaludySociedad/article/view/29/26).
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