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Mulheres, Raça e Classe

Por:   •  28/11/2018  •  Resenha  •  1.494 Palavras (6 Páginas)  •  265 Visualizações

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RESENHA CRÍTICA

DAVIS, A. Mulheres, Raça e Classe. São Paulo: Boitempo, 2014.

  1. RESUMO DO TEXTO

          Como o título do capítulo anuncia, o texto apresenta a “o significado de emancipação para as mulheres negras”, mostrando a dificuldade, mesmo após a “libertação” da escravidão negra, para as mulheres principalmente, de conseguir arranjar um emprego além de doméstica para uma família branca. Haviam ainda mulheres negras trabalhando na agricultura, como lavadeiras, meeiras ou em fábricas.

         Assim como na época da escravidão, as mulheres negras continuavam submetidas a situações no trabalho que eram idênticas, se não piores, do que na época da escravidão. Além disso, muitas das mulheres negra que conseguiam sua “independência” na agricultura acabavam assinando “contratos” com proprietários de terras que as levavam a um endividamento que nunca seria pago, levando a uma escravidão por dívidas de muitos mulheres negras. Havia também o sistema de contratação carcerário, na qual consistia em contratar negros que estavam presos para exercer trabalho, ocasionando em prisões de vários negros(as) por motivos mínimos simplesmente para haverem “bandidos” a serem contratados por proprietários, que viam um bom lucro nesse tipo de mão-de-obra. Homens e mulheres eram agrilhoados juntos, não havendo a mínima diferenciação entre eles.

           Os abusos sexuais sofridos pelas mulheres negras é um elemento importante para se entender.

          Durante o período pós-escravidão, a maioria das mulheres negras acabavam encontrando empregos como “serviçais domésticas”, que era uma forma mais bonita de se praticar escravidão. Não encontrando empregos em outras áreas, as mulheres negras tiveram de se sujeitar as tarefas domésticas, na qual trabalhavam exaustivamente para as famílias brancas e recebiam uma miséria. Sua “folga” consistia em uma noite de domingo para ver a família, a cada duas semanas. Além das já exaustivas tarefas, as mulheres negras ainda tinham que lidar com o assédio pelo homem branco, o pai (e as vezes até os filhos) da família para quem trabalhava, e se recusasse poderia ser demitida, ou sofreria consequências piores, e não havia a quem recorrer por ajuda, visto que, os pais e maridos que recusassem esse tipo de abuso com suas mulheres e filhas seriam igualmente demitidos, e até multados pela “justiça”. 

         A autora aborda também a construção do imaginário da figura da mulher negra, a promíscua, advinda dos abusos sofridos pelo homem branco, e de serviçal doméstica, que continua presente até hoje em nossa sociedade.

         Ao final do capítulo, a autora aponta outro agravante da situação da mulher negra: a mulher branca. Até mesmo as mulheres brancas feministas daquele tempo resistiram no reconhecimento das lutas das trabalhadoras domésticas, visto que, muitas delas possuíam serviçais a quais não queriam conceder direitos, omitindo e, assim, oprimindo as trabalhadoras domésticas.

  1. CONCLUSÃO

         Angela Davis proporciona em seu livro análise, e reflexão, da luta e preconceitos vividos pelas mulheres negras desde o chamado “fim da escravidão” até hoje. A autora nos mostra as opressões vivenciadas, muitas vezes amparadas em ideologias criadas desde muito tempo atrás, e através das épocas, para manter essa mentalidade preconceituosa. Além disso, a autora discorre nesse capítulo que apesar do, agora criado, “trabalho livre”, as opressões continuam ocorrendo em relação aos negros, desenvolvendo novas ideologias e técnicas para mantê-los em posições ainda de servos, escravos.

        Percebe-se que a desigualdade racial não acabou junto com a escravidão, ela continuou e se perpetuou de outras formas, fazendo com que os negros continuassem a viver condições deploráveis e não possuindo direitos nenhum mesmo após a abolição.

        Incapazes de arranjar empregos com condições descentes, devido ao preconceito que ainda reinava, os negros continuavam submetidos a trabalhos muitas vezes sub-humanos, pois ainda eram considerados servos, e não seres.

        Focando no papel que a mulher negra teve de se submeter, o texto apresenta a triste realidade da época, que mesmo após décadas de “liberdade” as mulheres negras ainda encontravam-se em empregos ligados ao campo ou tarefas domésticas, em sua maioria. Focando principalmente nos empregos domésticos, que eram considerados empregos inferiores e por isso ocupados pelas mulheres negras (pois uma branca nunca se submeteria a isso, a não ser que fosse imigrante), não havia uma escapatória desse “preconceito e inferiorização da negra”, pois se não se submetessem a esses empregos e suas péssimas condições, era improvável que arrumasse trabalho. A negra deveria servir a família branca, como e quando ela bem entendesse, recebendo o pagamento como eles quisessem pagar e não sendo nem consideradas humanas.

        Como se não bastasse todo o sofrimento advindo desses empregos domésticos e o preconceito ainda extremamente enraizado mesmo após a escravidão, a mulher negra ainda devia aturar abusos sexuais que não pararam após a escravidão. Muitas vezes os abusos eram cometidos por seus “empregadores”, o qual não podiam negar, pois precisavam do emprego. A degradação da imagem da negra como promíscua e servente, como doméstica, como inferior, continuaria enraizada na sociedade até os dias atuais.

        A falta de empatia pelas mulheres brancas em relação a luta por direitos das trabalhadoras domésticas demonstram que as mesmas, até pelas mulheres, não eram consideradas como seres, pois enquanto havia luta pelo direito das mulheres trabalhadoras, as negras não faziam parte dessa realidade. Elas ainda eram, e continuaram, a ser vistas, por muitas e muitas décadas após sua falsa liberdade, como domésticas, serventes, inferiores.

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