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O Conceito De Moral No Espaço Do Outro

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Por:   •  7/3/2015  •  4.800 Palavras (20 Páginas)  •  446 Visualizações

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A moral é um dos temas mais discutidos na sociedade atual e, por outro lado, a sua prática é suplantada por freqüentes atos imorais (Goergen, 2007). Para Goergen (2007), o discurso moralizante está sempre presente justamente por causa da dimensão assustadora que a prática da imoralidade alcança, ora surgindo como justa revolta de vítimas da barbárie moral, ora como cinismo dos protagonistas de tal barbárie.

O objetivo deste trabalho não é uma análise da moral na sociedade contemporânea, mas sim a realização e a discussão de uma ação sócio-educativa envolvendo a questão da moral. Para tanto, traz-se à discussão alguns autores como colaboração teórica para uma representação, ainda que bastante superficial (porque não aprofundada), do problema da moral.

Goergen (2007) destaca a importância de não se atribuir a responsabilidade pela imoralidade apenas a uma parte, um setor ou grupo da sociedade, pois se trata de um processo e de raízes que abrangem a sociedade como um todo, quais sejam a cultura e a tradição. Portanto, para esse autor não se deve olhar a moral na sociedade sem olhar também para o modelo econômico e cultural que lhe subjaz, no caso, o capitalismo neoliberal.

Goergen (2007) segue abordando o cenário da moral na sociedade contemporânea e aduz a um aspecto que interessa ao presente trabalho: “o espaço da moralidade pública foi invadido pelos interesses privados” (Goergen, 2007). O autor refere-se a um contexto mais amplo, citando especialmente o âmbito político, entretanto essa proposição serve aqui para a direção que este projeto toma. Uma vez que o caráter moral (ou imoral) da sociedade (ou de parte significativa dos indivíduos que a compõe) caminha para a sobreposição do privado ao público, o espaço que constitui a esfera pública é denegrido pelo privado que se expande a ele. É nesse sentido que este trabalho, cujo tema é a moral no espaço do outro, justifica-se, assentando seu interesse na necessidade de atuar nessa esfera pública permeada pela privada. Tal atuação configura-se como ação sócio-educativa, isto é, a realização de uma atividade reflexiva com os participantes.

O campo de atuação deste trabalho é um condomínio, o qual contém características de ambiente privado e público, de vez que se trata de ambiente privado enquanto o condômino tem o seu espaço (a sua moradia propriamente dita) reservado para si, e por outro lado, trata-se de ambiente público na medida em que o local maior, o prédio, é compartilhado por todos os condôminos. Desse modo, segundo a tendência contemporânea (a qual é apontada por autores como Georgen), a convivência em condomínio se caracteriza pela esfera privada de um indivíduo afetando a de outro; neste contexto, o espaço público seria o divisor entre os espaços privados. Assim, o espaço público, como ambiente moral onde a convivência respeita os limites do outro, é invadido pelo privado.

A ação sócio-educativa possui o objetivo de propiciar a reflexão aos condôminos sobre a concepção e ação moral destes com relação ao outro, mais especificamente, ao espaço do outro. Trata-se, portanto, de fazê-los refletir sobre a convivência que levam entre si, sobre que sentido eles produzem de tal convivência, ou que sentido tem para eles tal convivência, pensando aqui na ideia de sentido subjetivo de González Rey (2004), segundo a qual o outro atua significativamente no desenvolvimento de alguém quando possui sentido para este.

A seguir apresenta-se o referencial teórico que embasa o projeto, composto por contribuições de autores como Martins e Branco, Le Taille, González Rey, entre outros; e depois cita-se o método pelo qual se conduziu a ação sócio-educativa, indicando seus participantes, local em que realizou-se e descrição do procedimento, para então chegar aos resultados e discussão, conforme cada autor particular deste trabalho.

Referencial Teórico

As explicações para as ações morais, desde o início científico da Psicologia, têm focado em aspectos específicos do desenvolvimento humano (Martins & Branco, 2001). Martins e Branco (2001) apontam para algumas explicações clássicas da Psicologia para a moral que enfatizam aspectos humanos específicos em detrimento de outros, sugerindo, então, uma concepção mais ampla da moral que englobe os fatores afetivos, cognitivos e socioculturais.

Assim, nesse contexto tradicional, Freud enfatizou o aspecto afetivo em sua explicação para a moral, na qual a moral surge como freio para o id, sendo este uma instância psíquica de pulsões instintivas que precisam ser controladas para não causarem destruições devastadoras (La Taille, 2006). O freio ao id se dá pela introjeção de restrições sociais, constituindo o superego, que é a instância moral (Martins & Branco, 2001).

Piaget, por sua fez, focou na cognição como fator explicativo dos atos morais. Segundo ele há “uma relação de dependência entre o desenvolvimento moral e a capacidade cognitiva” (Martins & Branco, 2001, p. 170). Piaget formulou sua teoria a partir de etapas de desenvolvimento cognitivo onde uma etapa posterior superava uma anterior, sendo as etapas fruto de maturação biológica; no entanto as etapas não são completamente rígidas, uma vez que as experiências lhe dão uma certa flexibilidade (La Taille, 2006). Por isso diz-se que a teoria piagetiana é construtivista, pois “o processo de construção dá-se na interação com o meio, e essa interação é mediada pelas ações do sujeito sobre esse meio. Se houver pouca interação, haverá pouca construção” (Le Taille, 2006, p. 15). De maneira geral, Piaget conceituou a moral em três fases: primeiro há uma fase de anomia (pré-moral), na qual ainda não há uma moral presente; em seguida a fase heterônoma, em que a moral consiste no respeito e obediência às normas e autoridades sociais; e por último a fase autônoma, na qual a moral constitui-se de relações de reciprocidade, e não mais de respeito unilateral, e em que o conteúdo da moral passa pela reflexão do indivíduo (Le Taille, 2006).

Le Taille (2006), revisando as concepções tradicionais da Psicologia para a ação moral, observa que elas se polarizam enfatizando ou a razão ou a emoção. Assim, Freud, como já brevemente exposto, teria enfatizado a emoção, uma vez que a moral teria início em conflitos afetivos da criança em relação à figura materna e paterna, isto é, no complexo de Édipo (Le Taile, 2006); e Piaget, por sua vez, enfatizou a razão, partindo do pressuposto kantiano de que a razão é o elemento organizador da relação do homem com o mundo (Martins & Branco, 2001). Ademais, Le Taille (2006) observa uma tendência das explicações que focam a emoção em conceberem

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