Os Fundamentos da Sociologia-Abordagem no Ensino
Por: Gezinha Guilherme • 29/7/2022 • Relatório de pesquisa • 1.694 Palavras (7 Páginas) • 115 Visualizações
[pic 1][pic 2]UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ
CENTRO DE CIÊNCIAS MATEMÁTICAS E DA NATUREZA - CCMN
INSTITUTO DE QUÍMICA – IQ
TRABALHO FINAL 2021-2
Disciplina: Fundamentos Sociológicos da Educação
Professora: Ana Carolina Christovão
Aluna: Geilza Alves Porto
Rio de Janeiro,
2022
Para iniciar as discussões sobre o estado de pobreza e as conjunturas que a mesma traz em forma de implicações sociológicas, estudando à letra da canção de Chico Buarque, com o intuito de possibilitar pontos de reflexão. A música intitulada Meu Guri, do compositor e cantor Chico Buarque conta a narrativa de uma triste estória, narrada por uma mãe para alguém que ela chama de “seu moço”, que vai ouvindo a versão dela acerca das atitudes ilícitas de seu filho no dia a dia. Já o ouvinte, é um homem que escuta o que a mãe tem a dizer sobre a vida do filho, menor de idade, após sua morte estampada na manchete de um jornal.
Ao longo da letra da canção, são apresentados pela mulher atitudes que “O Guri” costumava praticar, que a humilde senhora não identificava como atitudes contra à lei, de acordo com sua humildade e falta de conhecimento, pois ela aparentemente é analfabeta, pois ao ver a foto do seu filho na manchete do jornal, a mulher comemora dizendo que finalmente seu guri tinha “chegado lá”, como uma forma de dizer popularmente que alcançou seu desejo, sem entender que a manchete expunha a foto do Guri morto no mato (com venda nos olhos e as iniciais de seu nome na legenda). O relato da mãe, nos trechos da música, deixa a entender a falta de coisas tão essenciais quanto um nome, pois supõe-se que foi uma gravidez inesperada, não planejada e com o anonimato da paternidade. Demonstrando assim, ser uma família desestruturada socialmente, são pessoas pobres e moradores de uma favela. De modo que os valores ideológicos e estereotipados vão surgindo na canção e a questão dessa falta de estrutura social, da falta de condições financeiras, estaria também denunciando crenças e relações sociais degradadas, em uma sociedade patriarcal; nesse caso, o pai não é identificado ou não assumiu a paternidade, não fica explicito na canção.
No trecho da canção que diz “e eu não tinha nem nome pra lhe dá” evidencia que a mãe era uma pessoa excluída da sociedade, sem documentos para ser reconhecida como cidadã diante do Estado. Tal fato é comprovado quando a mãe relata os presentes recebidos pelo filho, fruto dos furtos, roubos: “Traz sempre um presente, pra me encabular. Tanta corrente de ouro, seu moço, que haja pescoço, pra enfiar. Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro, chave, caderneta, terço e patuá, um lenço e uma penca de documentos, pra finalmente eu me identificar”
Essa canção descreve sobre exclusão social, criminalidade, falta de estrutura familiar e desamparo dos governantes em relação as crianças e seus familiares moradores das favelas. É preciso uma reflexão, de que forma as estruturas sociais influenciam, em certa medida, o destino e o comportamento das pessoas. Mostrar que por mais que ele queria “chegar lá”, as condições financeiras e sociais o impossibilitou, de modo que em um primeiro momento ir “levando” a vida e depois tentando conquistar (o que com trabalho não conquistou) por meio de crimes, realidade de muitas pessoas que por ser moradores de favela não tem oportunidade de entrar no mercado de trabalho com facilidade, devido ao preconceito e racismo da sociedade perante essas pessoas. Pode ser destacado também, a ausência na vida do Guri de sistemas importantes de coerção, tais como uma família estruturada, a religião e a escola. Chico Buarque trata com ironia um problema estrutural da sociedade brasileira em relação a falta de oportunidades causadas pela desigualdade social que pode contribuir para outras formas de sobrevivência em alguns casos, por meios ilícitos.
A educação escolar pode ser considerado um meio de transformação da sociedade, pois é nas instituições de ensino que inicia-se o processo de inclusão social, tão importante para estruturação da sociedade. Na canção em nenhum momento é citado que o Guri, frequenta a escola, isso mostra como as crianças e pessoas de modo geral, que residem em favelas, estão desamparadas pelo poder público, pois este que deveria dar condições para que não houvesse o abandono/exclusão escolar pelas crianças. Tal fato demonstra que a Escola para todos, onde se garante o acesso, permanência e aprendizagem dos indivíduos precisa ser alcançada em todos os ciclos sociais. Uma vez que a própria Constituição da República Brasileira, em seu Artigo 205, declara que a educação é um direito de todos e dever do Estado e da família, e que promove e incentiva com uma sociedade colaborativa, visando o pleno desenvolvimento e preparo para o exercício da cidadania e qualificação do indivíduo para o mercado de trabalho.
Ao longo da evolução da educação brasileira, acredita-se que a escola é capaz de transformar os indivíduos através do conhecimento e da socialização, para ascensão social e prepara os indivíduos para serem produtivos no mercado de trabalho. No entanto, devido a desigualdade social, nem todos os indivíduos mesmo sendo escolarizados obterão sucesso, ficando as margens da sociedade, o que pode ser entendido como uma falha das instituições de ensino perante a sociedade. Refletindo por essa perspectiva, pessoas em estado de pobreza, tem a educação como um potencial de ascensão econômica. De acordo com Demo (1999) chamou de o “milagre” da educação, que depende menos do domínio do conhecimento, do que gerar a capacidade de fazer história própria, individual e coletiva, e sobretudo solidária. Ou seja, a escola precisa ter capacidade de ir além de transferir acúmulos de conteúdos para desse modo realmente contribuir socialmente com a emancipação e socialização dos indivíduos através da educação. Porém por uma perspectiva sociológica predominante no pós-guerra, as desigualdades sociais tendem a ser reduzidos progressivamente com o desenvolvimento social, onde as desigualdades sociais são um problema estrutural, induzido pela própria natureza do sistema social capitalista (FORQUIN, 1995, p.58).
Assim como foi visto, por Florestan Fernandes na Obra: a educação numa sociedade tribal, analisando a cultura dos Tupinambás, onde as crianças não possuíam professores e nem escola, já as crianças das favelas que abandonam a escola, acabam por aprender com o meio e a vizinhança em que estão inseridos. Ambos tem em comum a falta de representatividade na educação, ou seja a falta de autores indígenas e negros ou oriundos de comunidades, favelas que possam servir de inspiração, exemplo para jovens crianças moradores de favelas, acaba sendo um indicativo de que o sistema educacional precisa ser revisado e reformulado para ser mais eficaz e também trazendo como contraponto o respeito e o desenvolvimento cultural dos indivíduos, para que não ocorra a exclusão social na escola. Quem, melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o significado terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá, melhor que eles, os efeitos da opressão? Quem, mais que eles, para ir compreendendo a necessidade da libertação? Libertação a que não chegarão pelo acaso, mas pela práxis de sua busca; pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela. Luta que, pela finalidade que lhe derem os oprimidos, será um ato de amor, com o qual se oporão ao desamor contido na violência dos opressores, até mesmo quando esta se revista da falsa generosidade referida. (FREIRE, 1987, p.17).
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