Resenha Crítica - Bacurau
Por: José Vitor Honório • 25/11/2019 • Resenha • 884 Palavras (4 Páginas) • 513 Visualizações
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Bacurau
Resenha crítica do filme Bacurau, para a disciplina de CONFLITOS, VIOLÊNCIA E RESOLUÇÃO DE DISPUTAS, da Universidade Federal de São Paulo, elaborado durante o segundo semestre de 2019 sob orientação das Profas. Dras. Ana Carolina Chasin e Fernanda Emy Matsuda.
José Vitor Honório Monteiro de Barros – RA: 113.820
Relações Internacionais – 8º termo - Noturno
O filme “Bacurau” traz a violência sobre várias óticas distintas, e provoca reflexões sobre esse tema. É possível notar a violência banalizada, como resistência, como entretenimento, como uma mensagem moral, de uma forma redentora, ou até mesmo sob um aspecto da formação histórica e social. O conflito principal da trama coloca duas óticas da violência em choque, mesmo que de certa forma esteja presente nois dois âmbitos: a violência banalizada como maneira de entretenimento versus a violência de formação histórica como resistência e método de resolução de conflitos.
A violência banalizada fica clara pelo papel do grupo forasteiro que tem como objetivo caçar seres humanos do Nordeste brasileiro pelo simples prazer de fazer isso. Várias vezes durante o filme é perguntado o motivo, “Por que vocês estão fazendo isso?”, porém nunca é obtido uma resposta. Cada morte vale pontos, e o grupo disputa sobre quem vai levar crédito pelos assassinatos e ganhar mais pontos. A violência para eles é vista como um entretenimento, além de valor pontos, ela é gravada, e durante uma cena, após atirarem e matarem um casal em fuga, os matadores fazem sexo sob a adrenalina da violência recém executada sob risos.
Há algumas referências históricas, sociais e do presente nesse âmbito da violência. Um membro do grupo estrangeiro entra em discordância e confronta o líder alemão, o chamando de nazista, e este responde com mais violência ao atirar no rapaz e pedir para não se utilizar de clichês óbvios. A supremacia branca pode ser percebida ao colocar o grupo estrangeiro branco contra o grupo de Bacurau, brasileiro e diverso. Também se destaca a supremacia WASP (Branco, Anglo-Saxão e Protestante), pois os únicos brasileiros do grupo antagonista são desprezados e são os primeiros a ser descartados. Nessa ótica, vemos mais um ponto da banalização, com os brasileiros membros do grupo matando brasileiros nordestinos, e o próprio líder do grupo forasteiros matando membros da sua equipe. Outro ponto trazido à tona é um membro da equipe assassina que desabafa que se utiliza da violência como solução para suas frustações emocionais decorrentes do divórcio.
Entretanto, a violência como entretenimento não é inteiramente exclusiva ao grupo antagonista, mas também se aplica em menor grau aos cidadãos de Bacurau. Isso se expressa no filme pelos vídeos dos assassinatos do personagem “Pacote”, que viralizaram na internet e é reproduzido para toda a cidade de Bacurau assistir, inclusive com as crianças no meio.
Há autores que defendem que esse uso da violência faz parte da formação histórica do país. Sergio Buarque descreve o brasileiro como um “homem cordial”, que age pelas emoções, preferindo as relações pessoais ao cumprimento de leis racionais e imparciais. Ao falar sob o Brasil Colônia, o autor fala que o uso recorrente da violência vem da pouca organização social da época e se enraizou nos traços brasileiros. Nessa mesma lógica, vem o outro âmbito principal da violência trazido no filme, o da resistência.
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