Resenha Crítica do Livro: Totem e Tabu
Por: sergiobezerra3 • 14/3/2018 • Resenha • 730 Palavras (3 Páginas) • 1.554 Visualizações
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Sociologia e Antropologia Geral
Discente: Sérgio Bezerra da Silva Filho
Resenha crítica do livro "Totem e Tabu: Alguns Pontos de Concordância entre a Vida Mental dos Selvagens e dos Neuróticos" de Sigmund Freud
(capítulos I e II)
"Totem e Tabu: Alguns Pontos de Concordância entre a Vida Mental dos Selvagens e dos Neuróticos", de Sigmund Freud, é um livro de 1913 que, por meio de comparativos históricos e didáticos, firma conexões pontuais entre povos primitivos e neuróticos estabelecendo e, posteriormente, destrinchando os fatores que regem o comportamento de uma sociedade grupal. Médico neurologista e estudioso da psicanálise, Freud, nessa obra, trata, explana, aprofunda e reafirma questões referentes à repressão psicológica, ao desejo sexual e aos impulsos humanos inconscientes, alvos - já anteriores - de seu estudo.
Em "O Horror ao Incesto", é apresentado ao leitor o cotidiano e, portanto, os parâmetros da organização social dos indígenas australianos. Nesse contexto, o totemismo configura-se como um meio de dividir, agrupar, legislar e reger todo o comportamento de um clã totêmico. Cada totem é, em regra geral, derivado do nome de um animal que, sob tal circunstância, é considerado sagrado. O totem é transmitido por uma linhagem hereditária consanguínea, mas que é substituída por uma conexão mais restrita, profunda e cheia de obrigações com todo o agrupamento: o casamento social. Isto é, esse título (o totem) torna os indivíduos de um mesmo clã pertencentes a uma única unidade familiar.
A exogamia, assim, veicula-se ao totemismo como uma proibição à qualquer tipo de relação incestuosa entre os membros de um mesmo clã. Dessa forma, qualquer caso matrimonial entre membros de um mesmo totem é estritamente proibida e passível de punição (agressão e morte) como forma de garantir a interdição ao incesto. Freud cita casos em que a comunicação e a convivência entre certos graus de parentesco (sogra e genro, por exemplo) é evitada a fim de prevenir o incesto. A necessidade de manutenção do princípio da exogamia dentro do sistema totêmico se mostra de extrema importância pelo caráter disciplinador que ela adquire. Isso porque privar os indivíduos de impulsos perigosos e inconscientes é uma maneira de zelar pelo sistema social vigente e coercitivo dos ditos primitivos.
Infere-se que, com o proposto pelo autor, o horror ao incesto e a constituição dos tabus estão intrinsecamente relacionados nessa sociedade e, por meio de uma analise psicanalítica, o combate e a repulsão a tal prática vista, pelos “selvagens”, como depravada é uma defesa a um impulso inconsciente constituído na infância referente à primeira escolha sexual de um indivíduo. Sob tal óptica, a punição, a repressão e os tabus regulam as diretrizes dos desejos humanos e previnem que o incesto se dissemine.
Progressivamente, em "Tabu e Ambivalência Emocional", o conceito e os mitos que permeiam o tabu são elucidados e se adentra nas suas nuances, o sagrado e o impuro. É perceptível que o caráter místico e repressor do tabu não se relaciona, diretamente, com ordens divinas nem morais, mas se sustenta por conta própria. A força e a persuasão do tabu não tem nenhuma premissa, sua adesão se dá por histórias enraizadas e por uma organização social regada por abstinências e renúncias, sendo o seu significado incompreensível - ainda. O tabu, por fim, atua na construção da identidade de uma comunidade e de um grupo de indivíduos, pois, é com sua influência que se delimita os ideais de mal, sagrado, profano, perigoso, maligno, consagrado e impuro. Logo, sua presença ininteligível, pouco explicada e, muitas vezes, cruel e desprovida de sensibilidade desenvolve a veneração e/ou o horror.
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